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31 janeiro 2011

i pad addicted



na minha mais pura humildade e com a promessa de nunca abandonar as páginas riscáveis, eu extasiada me confesso. somos sempre mais no futuro e hoje enquanto vos escrevo estas palavras memorizo a descoberta num dos cafés do Chiado.

para quem viaja tanto pelas ruas, para quem gosta de observar os viajantes nas mesas de café, para quem a portabilidade passsou a ser uma forma de vida, entre a cidade que me absorve e me resgata todos os dias, a plataforma movível é um achado.

e não, jamais não substituirá a minha agenda Smythson escrita a tinta permanente, não substituirá o papel dos jornais (obrigatório entrar aqui), nem me separará do cheiro dos livros e de tantas páginas soltas sublinhados a grafite. mas extendia a minha velocidade a uma Lisboa ainda mais vivida em tempo real.

e sobre tantas vantagens... só (!) me falta mesmo o ipad. mais aqui, aqui e aqui.

30 janeiro 2011

e tu, já abriste a caixa de correio hoje?



'aos poucos apercebi-me do modo
desolado incerto quase eventual
com que morava em minha casa

assim ele habitou cidades
desprovidas
ou os portos levantinos a que
se ligava apenas por saber
que nada ali o esperava

assim se reteve nos campos
dos ciganos sem nunca conseguir
ser um deles:
nas suas rixas insanas
nas danças de navalhas
na arte de domar a dor
chegou a ser o melhor
mas era ainda a criança perdida
que protesta inocência
dentro do escuro

não será por muito tempo
assim eu pensava
e pelas falésias já a solidão
dele vinha

não será por muito tempo
assim eu pensava
mas ele sorria e uma a uma
as evidências negava

por isso vos digo
não deixeis o vosso grande amor
refém dos mal-entendidos
do mundo'.

28 janeiro 2011

eu hoje acordei assim

abraçada
a todos os lugares onde iremos com as mãos abertas.

26 janeiro 2011

London l Yauatcha



na extensão dos dias londrinos voltei mais do que uma vez ao Yauatcha, um restaurante chinês em Broadwick Street, no Soho, que além de especialista em Dim Sum tem das sobremesas mais bonitas de Londres. Ainda a importância dos aquários, o melhor serviço do mundo e o ambiente que faz desta casa de jantar um dos hot spots mais descontraídos e apetecíveis da cidade londrina. Para ir e voltar muitas vezes.






25 janeiro 2011

à conversa com Nuno Mendes em Londres



De uma humildade rara, o chefe Nuno Mendes não pára de ser aclamado pela imprensa britânica. No seguimento do The Loft Project, um projecto onde o chefe abre as portas da sua cozinha e senta os convidados desconhecidos na mesma mesa, surge o Viajante, um restaurante onde é importante viver as emoções. Conversei em Londres com um dos mais emblemáticos chefes portugueses no Mundo - acabou de ganhar uma estrela Michelin - e segui viagem, deliciada pela grandiosidade que suporta duas das mais elevadas casas de jantar londrinas.

Viajante porquê?
Foi um nome que dei a mim próprio por ser um viajante. Por nascer e viver em Portugal mas por ter partido no mundo. Vivi em cinco cidades diferentes dos Estados Unidos, Ásia, Espanha…
E Londres?
Era uma cidade grande onde eu queria muito viver. Depois de Nova Iorque quis voltar para a Europa e achei que pela língua inglesa, pelo cosmopolitismo e por Londres ser uma cidade aberta ao Mundo. Sinto-me mais bem enquadrado aqui.
O Nuno disse um dia que ‘Há quem pinte, quem faça escultura, eu cozinho.’ A sua cozinha é uma elevada forma de arte?
A cozinha chega com a minha bagagem as minhas memórias e experiencias e é baseada em mim, no que eu vivi.
Um viajante com uma mala de memórias. Sente-se essa influência nos seus pratos?
Sim. Viver o viajante é uma viagem. Eu conto histórias. Histórias de onde estive e para onde vou. Até a maneira como a sala está apresentada.
Há uma atmosfera escandinava...
Sim eu queria um ambiente aberto à experiencia de intimidade. De uma maneira diferente há uma certa continuidade do meu outro projecto o The Loft Project onde todos os clientes partilham a mesma mesa.
O The Loft Project nasceu primeiro?
Sim. E ainda antes disso estive no Bacchus. O planeamento do Viajante já tinha a ver com esta ideia de intimidade. Queria um restaurante que tivesse a ideia de estar em casa, de se sentir as emoções e não ser apenas uma sala de jantar.
E o espaço do The Loft Project foi uma oportunidade?
Sim. Procurei muito e encontrei. É o projecto mais bonito que fiz até hoje. É uma cozinha caseira, é o chefe abrir as portas da sua casa e partilhar a sua cozinha.
Li que o Nuno gosta de ‘criar emoções na boca dos clientes’…
É o que dizem os críticos (risos). Eu gosto das pessoas e a minha cozinha não é apenas a estética. Não se traduz apenas no prato. Eu gosto que quando a pessoa consome tenha o momento mais elevado. É no acto da prova que quero criar as emoções.
A imprensa britânica arriscou classificar o restaurante como, ‘o novo Santo Graal’. Estava à espera deste sucesso?
Não estava. Este é um restaurante especial. As pessoas não vêm cá para verem e serem vistos. Vêm para viajar, vêm para comungar sensações.
Que palavra mais descreve o Viajante?
Emocão.
Abriu o seu restaurante nas vésperas do dia do trabalhador. O sucesso deve-se ao trabalho?
Sim. Muito trabalho. É impossível para mim não fazer o que sei que devo fazer.
'Um bicho-carpinteiro e não é capaz de ficar muito tempo no mesmo sítio', escreveu a imprensa sobre si. Já imagina novos projectos?
Estou associado a este projecto há três anos tempo em que começou a ser imaginado. Claro que há projectos que ainda gostava de realizar.
Como um livro?
Eu sou um viajante mas não tenho ainda conteúdo suficiente. Eu acabei de chegar…
Está há quanto tempo em Londres?
Seis anos. Cheguei agora (risos) e ainda tenho muito para mostrar.
Veio dos Estados Unidos…
Sim e estive em são Francisco, Nova Iorque, Los Angeles, Miami e Santa Fé.
Que cidade preferiu?
Adorei Nova Iorque, São Francisco e tenho um amor muito especial por Santa Fé.
É um homem de fé?
Sim fé nas coisas. Sou muito sonhador. Não tenho os pés tão fundos na terra como devia ter, mas sei que o sonho leva-me sempre mais longe.
Como se inspira um viajante em Londres? É um viajante sem sair na cidade?
Sim é uma inspiração enorme. Londres é uma cidade de viajantes. Londres tem energia, tem transversalidade. Tem o velho, tem o novo e é um ponto fácil de passagem para muitos lugares do mundo. Tem uma grande comunidade, tanta gente de tantos sítios. E estamos na Europa.
Qual foi a decisão mais certa que tomou na sua vida?
Foi ter deixado Portugal e ter partido à procura dos meus sonhos. Quando partimos temos mil possibilidades à nossa frente.
Onde encontra os seus maiores momentos de liberdade?
Profissional em Londres, pessoal na Índia.
Já deu alguma volta de 180º?
Dentro da minha vida vivi já muitas vidas. As memórias ficam e cada sítio que deixei foi uma vida que deixei para trás. Além das experiências não trouxe muito mais comigo.
Para se gerir uma equipa assim é importante ser frontal?
Sim. Quero que aprendam e como família eu também aprendo. Esta também é uma família. Aqui no viajante há uma relação muito pessoal. É aqui que me sinto bem e sei que as pessoas quando chegam aqui sentem a amizade.
Há um grande sentido de fraternidade?
Sim. Muito grande.
Onde vive os seus momentos mais ‘chivalry’?
Em East London. É a minha cidade e é a cidade que acredito. E está cheio de pessoas que me inspiram.
Que sentimento tem em relação a Lisboa?
Tem potencial para ser uma das melhores do mundo. É uma das mais bonitas onde já vivi até hoje. Foi de lá que partiu o viajante.

24 janeiro 2011

a estação

London l The Loft Project



Na procura da grandiosidade dos seres humanos fui surpreendida em Londres por um dos mais internacionalmente reconhecidos chefes portugueses do momento. Nuno Mendes abandonou Portugal há muitos anos e depois de moradas como os Estados Unidos, Ásia e Espanha, encontra em Londres uma cidade transversal e estimulante.

Partilha-me com uma elevada humildade a surpresa com que é mimado pela impressa britânica. Nas suas duas casas de jantar, as mesas são grandes e partilham-se de formas diferentes. No The Loft Project Nuno e Clarisse recebem chefes convidados e clientes, numa mesa única para viver com o desconhecido.

O ambiente é de partilha e ao ficar sentada ao lado da primeira mulher árabe a pisar o Polo Norte reconcilio-me com a minha estadia nos Emirados Árabes Unidos. Elham Al-Qasimi traz nos olhos a ternura que nunca encontrei naquelas terras de deserto. Na comprida a missão de Nuno Mendes ganha ainda mais valor quando dou por mim a reconhecer os outros viajantes do mundo.

Esta não é apenas uma sala de jantar, é uma morada onde no sorriso do encontro se vivem emoções, onde entre degustações e vinhos, nos ligamos à natureza e ao encontro dos seres humanos.







21 janeiro 2011

'a thing of beauty



is a joy for ever'.

19 janeiro 2011

London l Viajante



No restaurante Viajante, inserido no Town Hall Hotel em East London, Nuno Mendes continua a extensão de uma sala de jantar íntima e o seu talento é vivido com o testemunho de todas as suas memórias e experiências. Com uma cozinha aberta para a sala, as formas e cores escandinavas misturam-se com a generosidade de uma experiência que faz questão de repartir com a equipa de cozinheiros que se movem no palco. ‘Se não repartimos não crescemos’ diz com a mesma suavidade que explica todos os pratos que faz questão de trazer à mesa. A sua cozinha cria emoções. Sensações únicas acompanhadas com vinhos de todo o mundo, onde destaco a qualidade dos ingredientes, os sabores originais servidos em loiça feita à mão por amigos.

mais aqui.

17 janeiro 2011

PersonalTime Newsletter | Janeiro 2011



Nascemos a pensar no seu tempo mais importante. Na vigésima primeira newsletter, a primeira de 2011 também nós queremos repensar o que lhe sugerimos todos os meses. Numa cidade que se estende de Norte a Sul e antes de desejar um até à vista, não deixe de experimentar um dos novos restaurantes da capital com os interiores de Paulo Lobo, ou de se render às iguarias das penhas Douradas Food. Ainda um pequeno urso que defende uma causa nobre e o nosso serviço de troca de presentes. O testemunho cénico das imagens de Miguel Domingos e uma agenda que tem como ponto alto o tribute to Claudia, o Festival Internacional Gourmet a acontecer no Vila Joya. Ainda a elevação da energia num dos melhores Spa's de Lisboa e as palavras de Pessoa para o ano que agora começa.

explore a PersonalTime aqui e a newsletter deste mês aqui.

14 janeiro 2011

a mãe sonha, a obra nasce



Espero resistir a mais um evento digno da cozinha do Vatel, já que desço a terras do Sul, para a inauguração do Tribute to Claudia no Vila Joya. A morada é muito especial, não apenas por ser um boutique hotel com apenas vinte e dois quartos, ter uma vista de sonho e ter o único chef (Koschina) em Portugal com duas estrelas Michelin, mas também por ser um hotel que foi uma casa de férias onde eram recebidos os amigos da família austríaca Jung. A Mãe (Claudia Jung em cima) sonhou e depois de uma doença prolongada e de ter abraçado o céu, a sua filha (Joy Jung em cima e em baixo) fez acontecer uma das melhores segundas casas do país, que na maior simplicidade e elegância nos recebe sempre como amigos de longa data. O Vila Joya Gourmet Festival é o mais internacional evento de gastronomia em Portugal, com a presença dos melhores chefes do Mundo - com duas e três estrelas Michelin - e conta com os patrocínio da Nespresso e da Perrier Jouët. Explore mais aqui.

13 janeiro 2011

London l The Wolseley



As viagens iniciam-se sempre antes de partirmos. A poucos dias de Londres partilhava a nossa Taberna Ideal com um amigo inglês, com estudos no nobre colégio de Eton. Prometi-lhe o meu primeiro pequeno-almoço no The Wolseley. ‘As refeições mudam com o tempo, com o clima, com a geografia mas o pequeno-almoço continua a ser um ponto constante no mundo. É uma das poucas coisas que é nossa, mas que é também de qualquer outra pessoa’. E tal como imaginava, no primeiro momento de luz, assisti ao encontro dos que se comprometem a viver com muita alegria um novo dia. Não tive coragem para o famoso English Breakfast guarnecido de ovos, bacon, ‘pudding’, tomate, cogumelos e feijões, mas estendi-me aos melhores ‘Eggs Benedict’ que alguma vez provei e as umas ameixas marinadas em laranja e gengibre. E embora este café restaurante exista há poucos anos, o The Wolseley tem um dos pisos mais bonitos da cidade, e não não é um pastiche, mas uma evolução magnífica de um stand de automóveis e de um de um banco. Hoje revela-se como uma das moradas mais sofisticadas de Londres, numa cidade onde sorrisos rasgados privilegiam reuniões de negócios e encontros à volta de uma mesa.

mais aqui.

London station

depois do poema,
e a partir de amanhã a promessa do movimento da cidade.

12 janeiro 2011

'ensaio sobre a lucidez'



hoje, a atravessar as margens da Rua do Alecrim tropecei em símbolos inegáveis. e apercebi-me como mesmo em ruas distantes, as histórias da cidade se encontram. mais tarde perdida pelo Campo das Cebolas não conseguir cruzar os olhos com o mural do amor, mas descubro que nada disso importa,
quando me rendo às palavras sem rosto.

também eu 'vivo desassossegada e escrevo para desassossegar'.
e se ontem adormeci a pensar na salvação da nobreza da sala escura, hoje lavo a memória nos registos de Miguel Gonçalves Mendes. quase tão sublime como a sua obra-prima, a Autografia de Cesariny que arde todos os dias na biblioteca desta morada.



livro do desassossego



conseguir ir à última sessão do Livro do Desassossego de João Botelho no Centro Cultural de Belém. e saí de lá com a sensação do que faria Wong Kar Wai com o livro... é que tirando as imagens de Lisboa , o encadeamento dos textos e o fado da Carminho achei que estavam a gozar comigo. e podia começar a descrever a cena de cantoria lírica na floresta, mas não quero perder energia com maledicências.
tentar também nos enaltece?

11 janeiro 2011

A cidade na ponta dos dedos



Uma sala de jantar com uma qualidade-preço excepcional, um espaço de criação transversal e um contentor indispensável à auto-estima do mundo.

Com os produtos da época
O tesouro escondido já é famoso pelo ‘Magret de pato crocante com castanhas em duas texturas com sabores de Setúbal’, pelos ‘Medalhões de tamboril com risotto de tomate seco e coentros’ ou pelo ‘Lombo de bacalhau em azeite baunilhado com batata nova e puré de ervilhas’. A cozinha de autor – com menus especiais para almoço - é orquestrada pelo chefe Sotto Mayor e a extensa carta de vinhos pelo escanção Professor Virgílio Loureiro, responsável pelo lançamento de vinhos emblemáticos como a Quinta das Maias, Quinta dos Roques ou pela Quinta de Cabriz. Há ainda famosos mojitos de morango e um Tejo por perto para muitos passeios à beira rio.
Zina Food & Wine
Alameda dos Oceanos, lote 3.16, 01 H
Tel. 21 243 3298
www.zinafoodandwine.com
Seg a Quar 12h30 - 15h e das 20h – 24h
Qui a Sex 12h30 - 15h e das 20h – 01h
Sáb 10h – 01h
Menu Executivo (disponível 2ª a 5ª) 22,50€

Na teia da criatividade
Na Teia tudo pode acontecer. Lançamento de novas ideias, música, exposições ou eventos. A plataforma tem como missão a criatividade dos empreendedores da cidade e por isso, vivem no mesmo espaço
obras de arte, velharias, acessórios de moda únicos, objectos de design português, vinho de produção nacional, saké, chás, produtos gourmet inovadores, brinquedos antigos. Entre eles pode encontrar os quartos prontos a montar da Briffa, as flores com luz da Enlightened Flowers ou os imperdíveis aromas do Epicurista. A Teia tem ainda um pequeno Bistro, onde pode beber um vinho e petiscar a ouvir musica, ou ler um livro, sempre na companhia de peças únicas.
Teia l Espaços no Espaço
Rua Borges Carneiro, 13-15 Lisboa (à Lapa)
Seg a Sex 11h às 19h e Sáb a Dom 12h Às 19

Com a genialidade do ovo
O designer e arquiteto de interiores Gianluca Soldi projetou um ovo de reciclagem para separação dos resíduos domésticos. O Ovetto produzido em polipropileno reciclado encaixa-se facilmente em casa ou no escritório, um ovo indispensável para começar a tratar bem do planeta. Ovetto
Paris-Sete
Largo de Santos, 14-D Lisboa
Tel. 21 393 3170
www.paris-sete.com
www.archiegrand.com
Seg a Sex 10h às 19h30
Sáb 10h - 14h
€ 180

artigo publicado na revista Única do Expresso a 15 de Janeiro de 2011

07 janeiro 2011

à mesa do café trocamos palavras l Se hoje me puderes ouvir



Abandono os cafés onde troquei tantas palavras. São imagens e movimentos que passam a fazer parte de um livro, que passam a existir demasiado em todas a memórias que hoje trago comigo.

Todas as cidades têm o seu tempo mais certo e Londres revela-se mais lenta pelo manto branco que cobriu a cidade. ‘Pela neve sem vincar rasto, sempre caminhou aquele que busca um amor’ é uma das frases do livro que trago comigo para as viagens de baixo de terra. As palavras fazem-me olhar vezes sem conta, para as tantas faces que constroem o movimento da cidade. Talvez por isso a importância das imagens que se cruzam nas carruagens e que a tão poucos centímetros de distância reconhecem a importância de um sorriso. Nestes dias recolho momentos, que me fazem brilhar os olhos mais do que todas as luzes da cidade.

Passeio sobre a neve nas ruas do Soho e por mais frio que esteja, não congelo a minha atenção à vibração londrina. Cruzo-me numa esquina com um viajante que carrega um enorme ramo de flores e o aroma das fréseas brancas magnetiza-me a curiosidade. São flores de março, mas o mês de dezembro tem esta capacidade de me fazer acreditar que tudo é ainda mais possível. Sigo-lhe os passos e descubro uma das moradas mais apetecíveis desta viagem. A Dean Street Townhouse é um hotel elegantemente discreto que não chega a ter qualquer sinal na porta. A entrada tem uma biblioteca e as muitas velas acesas transportam-me à minha ideia de Natal, vivido à volta das histórias dos livros mais antigos. Recebem-me como numa casa de amigos e enquanto observo a dança imóvel das criações de Olivia Putman volto a homenagear o café que tanto elogia as cidades, quando me perguntam se aceito um Volluto. Este é o hotel londrino mais perfeito para me sentir em casa.

‘Londres tem definitivamente um efeito nefasto nos diários íntimos’
Só desta vez atrevo-me a não concordar com Virginia Woolf que tanto me tem acompanhado na beleza dos dias. A velocidade da cidade contraria as mensagens mais cinzentas que me chegam de Portugal. Tenho a certeza que por mais pensamentos fatais, ao privilégio de estarmos vivos, o mundo não acaba nem mesmo com a pior das crises. Por isso mais vale gastar energia na criatividade e no associativismo que sempre tanta falta fez ao meu país Atlântico. Para planear o ano de 2011, o qual tenho a certeza ser importante ao nosso projeto de humanidade, rendo-me às leves e finas folhas azuis da Smythson no número quarenta de New Bond Street. As folhas de apenas cinquenta gramas não impedem o uso das canetas de tinta permanente e mais do que um ‘secret social passport’ a organizar vidas desde 1887, esta loja do centro de Londres é uma bênção a quem gosta de escrever. O Royal Court foi o primeiro registo diário a ser publicado pela Smythson em 1895, que com o formato de um dia por página e com uma secção de informações úteis daria início a uma marca, que tem na sua história as pontas dos dedos da Rainha Vitória, de Sigmun Freud ou de Grace Kelly. Hoje encantam quem sofre de saudades da magia de uma carta. Na coleção dos Panama Notebooks rasgo o sorriso nas mensagens que as capas oferecem: ‘dance like no one's watching’,'dreams and thoughts', ‘now panic and freak out’ ou ‘make it happen’. A ideia genial foi da diretora criativa da marca, a primeira-dama Samantha Cameron que estendeu a genialidade à ousadia. As páginas por preencher dizem-me ‘está tudo por acontecer’.

É mesmo agora o que mais me comove
Com a mesma beleza de um quadro de Johannes Vermeer, a futura primeira-dama da banca inglesa, Ana Horta Osório partilha-me as moradas mais apetecíveis da elegância londrina. Anoto a exuberância discreta do Zuma, do Nobu, do Cecconi ou do Cipriani London. ‘Viver Londres é também viver os leilões da Sotheby's, as corridas de Ascot, ou o torneio de ténis Wimbledon’. Para nos guiar existe um Tatler London Guide e para mesa do café o último andar do Harvey Nichols ou as cores românticas da Ladurée. Na importância de quem corre por gosto e não se cansa entre cidades (Ana é fundadora de um dos melhores Spas de Lisboa, o Spatitude) ainda a conquista da Maratona de Nova Iorque, a partilha da cidadania numa Londres que tanto vive de associativismo ou das tantas causas por uma causa. Registo a cidade no seu retrato mais perfeito.

Um destino que passa e não passa por aqui
A cidade revela-se por ser de passagem e muitos me confessam os tantos amigos que já partiram. Na velocidade da memória recordo-me das conversas de um dos mais antigos restaurantes de Londres, o Rules, que me privilegiou com um soberbo pato selvagem com macas caramelizadas e um ‘toffe pudding’ de avelãs ou do extraordinário e bonito Daylesford Organic, um mercado e também café biológico que adoraria ter em Lisboa. Porque a extensão da alma também come, os livros e histórias da magnânima Daunt Books, em Marylebone High Street, a beleza gráfica dos livros da Magma em Clerkenwell Road ou as viagens paginadas na Travel Book Shop no cenário edílico de Notting Hill. No bairro que escolheria para viver, a espontaneidade e os almoços sofisticadamente descontraídos do café 202, com quem me sentei à mesa com Mariana de Castro. Não proclamo ‘o sonho como a pior das cocaínas’, mas agradeço o seu doutoramento no Kings College que em breve nos permitirá o Shakespeare de Fernando Pessoa. A ponte literária recorda-me as placas azuis que memorizam as casas mais importantes da cidade. Sãos marcos que relembram quem não deve ser esquecido e que não perdem o seu lugar sagrado na cidade enquanto o tempo passa. Também Mafalda Trabucco Borea me confirma a importância das imagens cénicas deste bairro vintage. A trabalhar na Mubi, a sala de cinema on-line permite descobrir e partilhar com cinéfilos desconhecidos fitas raras de encontrar em qualquer prateleira de uma loja, confirmando-me o futuro do cinema em casa.

Aquilo que nem ao vento sequer segredamos
Abandono os cafés onde troquei tantas palavras. São imagens e movimentos que passam a fazer parte de um livro, que passam a existir demasiado em todas as memorias que hoje trago comigo. Um testemunho romântico de uma cidade, que mais do que um cenário da história de Sarah e Maurice do romance de Graham Greene, abre-me à importância dos seres humanos. A velocidade dos dias toma conta de mim e enquanto a neve cai a energia esgota-se no meu último dia em Londres. Entregue ao positivismo de um condutor desconhecido, o táxi rasga as ruas ao longo do rio, dando-me uma imagem mágica da antiga central eléctrica em Battersea. Pela febre que me deixou quase intransportável imploro o meu lugar com destino a Lisboa. São momentos que me fazem viver o meu ‘The Sheltering Sky‘ de Bernardo Bertolucci e que longe das cores proibidas de David Sylvian, reconhece a importância de um taxista no momento de uma partida. O aeroporto revela-se num caos imenso e consigo embarcar acreditando nos milagres desta época de luz. Agradeço com humildade o regresso da viajante no momento que re-encontro o poema que deu o título a estas páginas. E enquanto ‘a noite abre os meus olhos’, recebo as palavras do poeta distante: se hoje me puderes ouvir recomeça, medita numa viagem longa, ou num amor,
talvez o mais belo.

coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 7 de Janeiro de 2011

06 janeiro 2011

a crise, primeiro ato



não, não é para cortar o bolo rei.
é para quem se atrever a minar o campo dos guerreiros com conversas 'de que vai ser difícil, de que é impossível e que é o país que temos'. o problema existe de facto e não podemos fugir a ele, mas o cenário muda quando temos a atitude mais certa, a enfrentar o touro de frente. não há ouro
mas há incenso. basta seguir a estrela.

05 janeiro 2011

o Porto tira-me do sério



é verdade. eu adoro a minha cidade, mas a verdade é que ir ao Porto é tão interessante como ir a Berlim. 'in Braga they pray, in Porto they work, in Coimbra they study, in Lisbon they spend and in the Alentejo they sleep'. são as palavras de Mary Lussiana no How to spend it do Financial Times.
mais aqui.

02 janeiro 2011

'asas do desejo'



mensagem do sul.
a vida é tão mais bonita em câmera lenta.

01 janeiro 2011

2011