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03 janeiro 2012

à conversa com The Sartorialist


Scott Schuman é autor do blogue thesartorialist.com que, com milhões de visualizações, se tornou num dos ‘bloggers’ mais famosos de sempre. O mundo já não vive sem as tendências que Scott Shuman vai captando pelas ruas da cidade.



Depois de quinze anos a trabalhar no mundo da moda, Scott Shuman achou que poderia fazer o balanço entre as tendências das passagens de modelos e o que as pessoas de facto usavam no dia-a-dia. Nasce assim um dos blogs referência mais importantes no manifesto de tendências reais, apenas pela captação de fotografias de pessoas que como ele navegam pelas ruas. Hoje colaborador da Vogue francesa, GQ americana, Fantastic Man ou revista Elle, Scott Shuman participa em projectos que segundo as suas palavras, lhe permitem ir construindo o maior dos seus sonhos: fotografar desconhecidos nas ruas. Nova Iorque, Paris, Milão, Londres, Moscovo ou Estocolmo são algumas das cidades que mais visita, mas seria num evento em Madrid que tive a oportunidade de conversar com um dos bloggers mais famosos do mundo.

Convidado para o lançamento do telemóvel Xperia Ray, a Sony Ericsson convidou-me entre outras oito bloggers internacionais, para um dia de trabalho de Scott Shuman, em que teríamos o privilégio de ser fotografadas numa sessão conjunta num estúdio montado para o evento. Ambientes numa festa, à mesa entre amigos, ou numa conversa íntima de sofá, os bloggers deambulavam pelo estúdio enquanto Scott Shuman apanhava os momentos com os oito megas pixéis do Xperia Ray. Com um estilo muito próprio a imprensa de moda da cidade movida não falava de outra coisa nessa semana e Lisboa conseguiu também o privilégio de uma conversa com um dos mais carismáticos fotógrafos do mundo.

Receosa de me desiludir com os homens ou mulheres que admiro, entrevistar The Sartorialist foi para mim um imenso privilégio, no sentido de confirmar a sua grandiosidade humana. Mais do que as palavras que me entregou nas mãos, a escolha da capa do seu livro, uma mulher de nome Julie, a quem a vida parece perfeita. E se lhe chamaram um dia a nova Audrey Hepburn, na verdade, a mulher sobriamente chic que ilustra a capa tem uma perna mais curta que a outra, braços excessivamente magros e coxeia ao caminhar. Nas suas palavras o elogio ao mais importante dos seres humanos, a sua essência que nunca deixou a sua realidade física diminuir o seu encanto. A capa escolhida homenageou todos os que não deixam de expressar as bonitas pessoas que são, apesar das suas fragilidades estéticas ou físicas e só por isso a minha curiosidade de conversar com o homem por trás da câmara.

Em minutos que me surpreenderam pela simplicidade elevei a minha satisfação a uma realidade que atingiu a alta expectativa. Atento, humilde, muito simpático e com um forte sentido de estrutura Scott Shuman prometeu-me vir um dia a Lisboa. Enquanto esperamos que mostre ao mundo e através da sua objectiva discreta, a beleza da nossa cidade cénica, as palavras falam pelo homem que prova que a altura de um homem jamais será física. Genuíno, humilde e sem qualquer energia de vedeta e obriga-me a usar o segundo tempo do verbo, já que mesmo na distância, somos todos cidadãos do mundo.

No livro revelas a tua filha como alguém que nasce com uma missão especial. Mais do que um ‘fashion hunter’ eu penso que és caçador de almas. Faz sentido?
No livro há tanta diversidade de pessoas… eu não vou para a rua para caçar moda, marcas ou criadores de sapatos. Não estou interessado nos detalhes, eu apenas tento fazer boas fotografias de pessoas que de alguma maneira me parecem interessantes. O que elas vestem não é o assunto principal e no final do dia, o que vejo no meu blog são imagens de pessoas.
Nas tuas imagens há um atracão fatal pela contradição…
Sim pelo mistério… eu quando fotografo uma pessoa na rua não tenho de perceber tudo. Não conheço a grande maioria das pessoas que fotografo. Eu gosto de não as conhecer e não acho que seja importante.
Thesartorialist.com é um marco muito importante para o mundo da moda mundial. Tens a noção que inspiras também todas as pessoas que vão diariamente ao teu blog?
Faz tanto sentido o que me está a dizer… eu cresci no Indiana, no meio dos Estados Unidos da América, onde não existe qualquer tipo de moda ou estilo. Eu cresci a viajar e a sonhar através de revistas, de como seria o mundo, de como seriam as pessoas. Este sentimento de procura e descoberta era muito forte e quando hoje em dia quando fotografo o sentimento é o mesmo. Eu não preciso de saber os factos… eu não quero saber os factos. Eu quero faze-lo sempre de maneira sonhadora e romântica, a maneira que como eu vejo as pessoas e daquilo que eu imagino delas.
És então um sonhador…
Sim um sonhador romântico (sorriso), que de alguma maneira mostra uma parte bonita da pessoa que encontrou na rua. Felizmente tenho sabedoria suficiente para saber que nem toda a gente que encontro é divertida ou maravilhosa na vida real, por isso guardo alguma distância e o momento do encontro são sempre momentos muito breves. Muitas das pessoas que fotografei jamais as verei de novo… e gosto deste mistério. E se por vezes as fotografias podem parecer revelar sobre a pessoa…é apenas sobre uma parte delas. É sobre o abstracto da ideia do que elas são. Para mim é mais estimulante e divertido dessa maneira porque é mais romântico e inspirador.
Nos tempos em que vivias no Indiana e não tinha o sucesso que tem hoje, tinhas a noção da missão e o sucesso, que iria ser o The Sartorialist?
Obrigada pelas tuas palavras… (sorriso). Quando era miúdo eu sabia que ia fazer alguma coisa importante, mas não sabia bem o que seria seria.
Foi um sucesso planeado?
Quando queres fazer alguma coisa grandiosa, se fores esperto tens a noção que navegas num rio, não para ir apara esta ou aquela direcção, mas para te deixares navegar até encontrar o que será a tua elevação. Eu fui ajustando o que encontrava com aquilo que acreditava ser a minha grandeza. Quando estava na escola eu tive aulas de alfaiataria e design de padrões, mas logo nessa altura tive a perfeita noção que não seria um designer. Nunca imaginei vir a ser fotografo, pois nunca tive aulas de fotografia. Comecei por fotografar os meus filhos, depois comecei a explorar como podia conjugar fotografia e moda e o que me movia era o que eu próprio pensava que seria a moda, a moda real, a moda viva nas ruas.
Sente-se um imenso respeito pelas pessoas que fotografas…
Sim fotografo-os com o mesmo respeito e dedicação com que fotografo os meus filhos e acho que o sucesso das fotografias se revela pela honestidade com que o faço. Pela expressão honesta que as consigo captar.
Confesso que tenho sempre receio de conhecer as pessoas que admiro e é para mim uma grande alegria tocar de perto a humildade que revelas em tudo o que fazes e dizes… És uma pessoa humilde mas também assertiva.
Sim… ‘perspicaz’ é a palavra.
Sei que tens um fascínio por Florença e que adoras a sua luz, e os edifícios não muito altos. Nunca pensantes fotografar em Lisboa?
Tenho alguns sítios salvaguardados para fotografar (sorriso).
‘Tudo na vida é confiança’. Há uma busca de confiança nas pessoas que encontras na rua?
Mais do que confiança, a palavra é encanto. Mesmo os homens mais machos conseguem ter encanto. O homem da página trezentos e cinquenta e sete do meu livro parece um sem abrigo e ninguém diria que ele trabalha para a Ralph Laurent. Só descobri a sua profissão mais tarde e achei fascinante saber que é ele que compra as antiguidades para a casa Ralph Laurent.
És mais rico nos frutos monetários do teu sucesso ou quando andas pela rua a fotografar pessoas?
Há muita sinceridade em tudo o que faço. Os outros projectos servem para fazer dinheiro, o que me permite fazer o que mais gosto que é continuar a andar na rua a fotografar. Socialmente, o meu livro e o blog mostram outro tipo de pessoas… bem diferentes dos modelos jovens e frescos das revistas. Há pessoas a ir ao meu blog e a dizerem ‘eu quero parecer assim quando for mais velho’. Pela primeira vez os mais jovens estão-se a inspirar nos mais velhos que mantêm o encanto apesar da idade.
E isto parece um detalhe, mas é muito importante. Mais do que moda ou estilo capturado, a ideia de poder retratar a elegância e nobreza do envelhecimento e poder tocar as pessoas é a minha maior riqueza.








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