Enquanto caminho livre pelas ruas da cidade, abraço a palavra cumplicidade. O sentido de pertença molda-se em silêncios puros, que não já não precisam de nome. Ontem menina e moça, hoje mulher és a minha Lisboa, uma amante por quem vivo uma paixão compulsiva. Desejando-te uma feminilidade balzaquiana, procuro-te ainda um mais digno Terreiro do Paço, a recuperação dos edifícios devolutos, a substituição das inexplicáveis esplanadas de plástico, uma Baixa Pombalina com sorrisos nocturnos, ou mesmo uma perseverança e uma vontade mais sentida. Mas foi nos dias em que te troquei pela justa e rigorosa Amesterdão ou pela alegre e caótica Atenas, que realizei numa certeza mais limpa, a bênção de um Tejo que nos abraça. Talvez por isso, e apesar do que te falta, não ousei trocar-te pela movida de Madrid. Sonhos e futuros à parte, sempre misteriosa, a minha cidade branca continua a atrair viajantes, sejam eles descobridores por tempo certo, ou vidas livres que passaram a chamar pátria à nossa capital. E perante a energia presente, onde se vive a ideia de mundo, os alternativos pontos de encontro fazem-me trocar pensamentos e palavras mais europeias. Por isso agradeço os novos lugares que hoje habito. Lisboa está, sem dúvida, mais iluminada e se muitos acusam ainda o ”tanto por fazer”, apenas me revejo na palavra oportunidade. Entre as esquinas escondidas e os tapetes de folhas de plátanos que testemunham o Outono futuro, sei que Lisboa é insubstituível. E se o caminho é longo, para nunca deixar de a sonhar, nas suas sete colinas me enaltecerei. Sempre.
(re)publicado na Revista de Turismo de Lisboa
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