sss



25 novembro 2007

O Senso e a Cidade l Ainda



aqui na página 6 ou

O cinema Quarteto foi encerrado na passada semana, pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais, por falta de sistema de prevenção de incêndios e presença de materiais inflamáveis. Esta carismática sala da sétima arte lisboeta tem reabertura prevista para Dezembro.

Sem tempo certo de recuperação continua AINDA o nº 30 da Rua Domingos Sequeira, o Cinema Paris. Da autoria do Arquitecto Victor Manuel Carvalho Piloto, esta sala de cinema inaugurada em 1931 foi encerrada nos finais da década de setenta e encontra-se hoje em lamentável avançado estado de deterioração. Depois do abandono e de várias possibilidades de recuperação, como um Lidl, uma possível morada da Academia Coral Lisboa Cantat, uma demolição em 2003 travada por contestação dos viajantes da cidade, o edifício acabaria por ser expropriado em 2004.

Burocracias e jurisdições à parte, sei que por trás da fachada em mau estado, existe um potencial pé direito a ser mais um pólo cultural da capital. Para lisboetas e turistas, o sonho desta recuperação envolveria a carreira do eléctrico 28 com a tão visitada Estrela e os bairros de Campo de Ourique, Lapa, Rato e São Bento. Com a basílica ao fundo e as árvores como moldura, não existirão dúvidas que nos encontramos perante um dos postais de excelência da cidade.

Se por uma infeliz passividade sem perdão, um dia esta casa vier a baixo, recordarei para sempre o Cinema Paris, no imortal Lisbon Story do Wim Wenders. Com o Ainda dos Madredeus como música de fundo, por estas linhas vou dizendo certas coisas. São verdades, são procuras sempre com a certeza de quem alcança, mora longe.

coluna de opinião publicada a 26 de Novembro no jornal Meia Hora.


2 comentários:

  1. Minha querida Sancha, Voz do mundo em Lisboa,

    1. Tento ser o menos emotivo possível em matérias do património, como já te deste conta. Mas, ser "cientista" tem as suas incongruências. E por isso vou entrar JÁ em greve de fome pelo QUARTETO. Imagina, eu que nao sou dogmático.

    2. Mais calmo, há que cumprir. Odeio ver notícias de tragédias na televisao.

    3. Cinema Paris. Por motivos do coraçao, vi esta sóbria fachada durante dois anos pelo menos duas vezes ao dia, o que dá -assim por baixo- 1.460 vezes. Nao só estava apaixonado pela donzela, como me apaixonei por aquele tom ocre. É um marco, que nao sendo um brilhante projecto, pode ser um brilhante projecto. Receita: concurso a 10 cracks ou concurso aberto a finalistas de universidades (com cabeças limpas e ideias desarrumadas).
    4. Propoe. Propoe sempre. GRITA, fala baixo, mas propoe SEMPRE.

    5. Pelo ponto 4. Lembrei-me do poema "Ser Poeta", da Florbela Espanca, hiperdivulgado pelos Trovante:
    Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
    Do que os homens! Morder como quem beija!
    É ser mendigo e dar como quem seja
    Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

    É ter de mil desejos o esplendor
    E não saber sequer que se deseja!
    É ter cá dentro um astro que flameja,
    É ter garras e asas de condor!

    É ter fome, é ter sede de Infinito!
    Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
    É condensar o mundo num só grito!

    E é amar-te, assim, perdidamente...
    É seres alma, e sangue, e vida em mim
    E dizê-lo cantando a toda a gente!


    6. Imagina ver na televisao espanhola e català um anuncio de creme para rugas de senhor num dos nossos elétricos a passer por Lisboa. Nao é a "Lisbon Story", nao é "Ainda", mas é POP.

    7. Decorre aqui uma feira de turismo profissional. Também cá estamos bem representados pela Junta de Turismo do Estoril.

    8. Às vezes, só às vezes, penso vale a pena, porque "falta cumprir Portugal" (F. Pessoa).

    Um beijinho,

    Guilherme

    ResponderEliminar
  2. Passo todos os dias pelo cinema Paris...e todos os dias me pergunto: PorquÊ?!

    ResponderEliminar