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21 março 2009

GQ l Pelas ruas da cidade


Alma em movimento
Não poderia deixar de me estrear nestas páginas sem me lembrar do meu querido Al Berto, “quando escreve que quando regressou, regressou com a ânsia do eterno viajante dentro de si”. As almas dos viajantes são assim e jamais imaginei não me chegarem as páginas, para divulgar uma Lisboa que se transforma numa cada vez mais decidida cidade europeia. Se a alma me move cada vez que deambulo pelas ruas da cidade, o restaurante Alma deixa-me emocionada, ao assistir à beleza do percurso do Henrique Sá Pessoa. Houvesse mais portugueses assim e seríamos uma cidade com mais sorrisos rasgados. Quem me conhece sabe que adoro espaços brancos e que sempre que mudo de casa, insisto sempre numa parede exclusivamente branca, para respirar do bombardeamento de informação a que me sinto sujeita enquanto viajante urbana. Por isso no Alma sinto-me em casa e se por momentos e para alguns, este possa ser um ambiente frio, peço que em vez do copo meio vazio se enalteçam a respirar fundo num espaço que é simplesmente livre. Porque os olhos também comem, as criações do Henrique são autênticas obras-primas, prontas a serem partilhadas num dos melhores momentos do mundo, aquele em que estamos à mesa com os amigos. Na partilha deixo o Estaladiço de queijo de cabra com cebola roxa agridoce, redução de xerês e salada de pêra e o Crumble de maçã e frutos vermelhos com gelado caseiro de baunilha. Ao grande criador deste novo hotspot do Santos Design District, muitas, muitas pétalas pela consistência e perseverança do caminho percorrido.
Boas Maneiras
O branco volta a invadir a minha vivência das noites lisboetas. Em contraste com os tons escuros no espaço do antigo Olivier, o 100 Maneiras voltou para Lisboa e ainda bem. Ljubomir Stanisic depois de encerrar no final do ano passado, o restaurante com o mesmo nome em Cascais, testemunha que na vida há sempre mais oportunidades. O menu de degustação aparece mais em conta, mas igualmente divinal, o que fará deste novo espaço do Bairro Alto, um daqueles lugares difíceis de marcar no próprio dia. Adorei a experiência e o melhor, não saí com vontade de rebolar até ao Cais do Sodré, já que depois do jantar continuamos leves. A elevar o risotto de cogumelos selvagens com camarões de Moçambique, o momento “grande lata” – e como gata não vou revelar tudo – ou o shot com Hendrick’s e água tónica caseira. Ainda a simpatia do Nuno – e que mais se parece com um amigo que nos recebeu para jantar – que compensa os sorrisos tristes na cidade, as pessoas que insistem em não devolver o bom dia nos elevadores ou as inúmeras vezes, que esta semana não me apareceram para instalar a artilharia tecnológica, indispensável a quem está habituado a trabalhar longe do mundo.
Eu sei quanto tempo duram as frésias
Escrevo por estas linhas a confissão: gosto de identificar as pessoas pelo cheiro. Quantas são as vezes que identificamos simplesmente pelo perfume, essa poderosa imagem de marca? A segunda confissão: gosto que me identifiquem pelo cheiro. Por isso sempre me habituei a mudar de perfume, quando a energia do céu resolve virar a mesa ao contrário. As essências acompanham-me na mudança de vida e não sei se isto vem da minha imaginação, muitas vezes me elevar ao papel de Cleópatra, mas é um dos factos mais consistentes do meu percurso de alma. Por ser uma das sensações que considero mais importantes numa cidade, não poderia deixar o meu querido Epicurista de lado na primeira vez que escrevo para a GQ. A energia contagiante de Armando Ribeiro, também conhecido pelo nosso melhor mago perfumista, descobre sempre o aroma mais certo à nossa sensibilidade. Porque esta é uma revista para homens, partilho o perfume da Ulrich Lang New York, que minimalista e contemporâneo apresenta-se com uma fusão sedutora de aromas frescos e especiarias provocantes. Ainda a estreia recente da linha de banho da minha magnânima Diptique e todas as velas desta fascinante marca francesa. O poeta José Tolentino Mendonça escreveu um dia não saber quanto tempo duram as frésias. Na versão das velas da Diptyque, dura o tempo suficiente para me perder em momentos sempre mais puros.
publicado na GQ a 20 Março 2009

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