sss



15 agosto 2009

a mancha humana

emprestado pelo irmão de sangue, mais uma adaptação do autor isolado que se foca na inteligência, na consciência. sempre "com palavras despudoradas", a fragilidade na complexidade das emoções.

-Tenho uma ligação, Nathan. tenho uma ligação com uma mulher de 34 anos. nem lhe sei explicar o bem que me fez.
Durante quarenta anos fez o que era necessário fazer. Andou atarefado, e a natureza, que é a besta, mudou-se para uma caixa. Agora essa caixa está aberta. Ser reitor, ser pai, ser marido, ser intelectual, professor, ler livros, dar lições, corrigir textos, dar notas, tudo isso acabou. Evidentemente que já não é a vigorosa besta lúbrica que foi. Mas o que resta da besta, o que resta dessa coisa natural, é com isso que ele está agora em contacto, com o que resta. E sente-se feliz por isso, sente-se grato por estar em contacto com o que resta. Sente-se mais do que feliz: sente-se emocionado, e já está ligado, profundamente ligado a ela, por causa dessa emoção. Não é de família que se trata, a biologia já não lhe serve para nada. Não é família, não é responsabilidade, não é dever, não é dinheiro, não é uma filosofia partilhada ou o amor à literatura, não são grandes discussões de ideias. Não, o que o liga a ela é a emoção. Amanhã descobrem-lhe um cancro e acabou-se.

Mas hoje, agora, tem essa emoção.

Sem comentários:

Enviar um comentário