23 fevereiro 2010
oui c'est moi
O sonho não era violoncelo. Tinha apenas sete anos quando manifestei vontade de aprender violino. Não me levaram a sério e como filha de um alfarrabista, ainda me questiono como teria sido "se". Mas hoje sei que a vida é sábia e que de alguma maneira somos conduzidos para os nossos dons maiores.
Uma Outra Educação fez-me viajar ao passado, às fardas dos colégios que me deram o rigor e o brio profissional que transporto hoje comigo. Cada vez mais ecuménica, os dias vividos na antiga Batávia libertaram-me de formatar a minha espiritualidade apenas a uma religião. A forma não é o mais importante. E no alinhamento de uma educação bem portuguesa, ainda sei coser botões - salvando-me muitas vezes da palavra dependência - ainda sei usar uma máquina de costura, tricotar mantas de lareira ou organizar e cozinhar para uma jantar de cinquenta pessoas, com centros de mesa dignos de um filme como o Vatel ou Maria Antonieta (para pedir desculpa de não ter encontrado o primeiro link em francês, ofereco-vos o segundo acompanhado dos The Strokes).
Felizmente nenhum dos dotes de fada do lar fez de mim uma mulher mais sábia, antes pelo contrário. Por ingenuidade ou medo somos muitas vezes conduzidos a decisões menos certas. Mas como diz o filme, if we never did anything, we wouldn't be anybody. E não, a educação não vem toda nos livros e só a experiência e os erros (ou o que achamos na altura que foram erros) nos transformam em seres humanos mais elevados.
Não sei quantas mais vezes terei de cair até chegar ao cenário do futuro, onde me imagino com sessenta anos, de botas de verniz preto de salto alto e um penteado tipo Audrey Hepburn. Nesses dias distantes serei mais sábia e estarei rodeada de amigos que não aprodrecerão a mente com o tempo. E nessas mesas de jantar onde conversaremos durantes horas, visualizo o caminho, com a inclusão da preciosidade de todos os dias menos claros. Na beleza de tudo isto Paris não foge.
Na distância de um tempo demorado, um viajante da cidade chamou-me de "rebelde". Esse mesmo viajante chamou-me também de "Branca de Neve". Sim, acho que sou tudo isso, o inconformismo e o conto de fadas.
E hoje, abraçada à certeza de que nunca é tarde demais para reconstruir e vizualiando com ternura os que param na minha carruagem, reacendo com agradecimento a liberdade que me move,
I feel wise, but not very old.
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na escola publica onde eu andei nao me ensinaram a fazer centros de mesa mas ensinaram-me que coser um botão se escreve com s
ResponderEliminardeliciosa a distracção, elevada a sapiência dos humildes, uma menos valia o comentário anónimo :-)
ResponderEliminaré curioso como foi a última expressão do texto que me chamou há algum tempo para a visualização (é com s certo?, às vezes fico confundido anónimo) do filme. entretanto por impossibilidade ainda não me dirigi a uma sala para o ver. vontade não me falta =). Bonita identificação, afinal de contas é disso que trata o quotidiano, uma procura. A procura não precisa de estar alinhada com o passado, é bem mais estimulante se assim não o for... contudo, se este couber na mochila da viagem é óptimo. Olho para trás e tanto venero como odeio o meu. É a tal coisa, não viveria sem ele, mas também não morreria =)
ResponderEliminar"não basta encher de sonhos a mala da viagem, é preciso sorrir, encher a escuridão de árvores sem nome".
ResponderEliminar"e então vou conhecer outro lugar, experimentar no meu ouvido outro cantar"
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