a sala não estava cheia, mas encheu a alma a quem se rendeu às Nuvens de Maio, o último filme a passar no festival Pontes para Istambul que aconteceu no CCB entre o dia 1 e 20 de Março.
na fita 'um cineasta regressa à pequena aldeia onde nasceu, na Anatólia, para filmar a idílica paisagem local, mas verifica que o seu pai está quase a perder as terras familiares que vêm de gerações anteriores'.
a serenidade que Nuri Bilge Ceylan regista neste bocado de céu e que tive o privilégio de absorver na sala escura transportou-me à lembrança de um avô longínquo e ao dia da sua partida. não chovia nesse dia, mas cheirava a pinheiros como nunca antes o sentira naquela morada.
e na ternura de todos os momentos que a minha criança guarda como um tesouro antigo, recordei a magia de pequenas coisas, tão simples e que me faziam voar sempre tão alto.
hoje,
não sei se será com a palavra responsabilidade que terei direito ao desejo
e ao sonho, mas posso imaginar o dia da partida,
assim serena,
como quem pedalou a vida toda e descansa de olhos fechados
e ao sonho, mas posso imaginar o dia da partida,
assim serena,
como quem pedalou a vida toda e descansa de olhos fechados
na sombra de uma árvore.
Este filme mostra quase na perfeição como as pequenas coisas, que parecendo insignificantes e não relacionadas umas com as outras, de repente, e de forma misteriosa, se conjugam num todo. E a magia é de tal forma profunda que não conseguimos deixar de nos ver a nós próprios na obra que nasce à frente dos nossos olhos. Somos todos aquela criança. E aquele é o nosso avô.
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