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06 fevereiro 2012

Fora de Série l Pico, a mais bonita solidão do mundo




Existem nestas linhas humildade suficiente para saber que não haverá em nenhum dicionário da terra, com palavras possíveis à altura da experiência da ilha do Pico. Dias onde a pureza da consciência permite no pulsar das veias, o basalto negro, o azul do Atlântico e o verde que eleva Portugal ao seu estado mais nobre.

Cheguei ao Pico na minha companhia, numa manhã de nevoeiro e sem saber o que me esperava deixei-me guiar pelo fundador do Cume 2351, o guia Nilton Nunes que criou a empresa especializada na subida mágica e na exploração da ilha, como local e como pessoa que conhece cada recanto da ilha, cada rosto das ruas e cada árvore de fruto. Apenas com três horas de sono não cheguei a questionar-me se estaria à altura do desafio, porque as nuvens guardam a altura da montanha, num mistério que é para desvendar devagar e quem qualquer ponto de interrogação. De um lugar que é muito mais do que uma montanha Atlântica, há um mistério que nos protege, que os obriga a gozar o durante e não o objectivo,sempre na certeza de que esta montanha é um local sagrado.




Habituada a prender quem a compreende, com a montanha percebo o que os habitantes da ilha me segredam que existem pessoas que não conseguem permanecer muitos dias. A ilha do Pico emergiu de uma fractura tectónica de orientação Ono-Esse, a mesma que deu origem à ilha do Faial, denominada Fractura Faial-Pico, que se desenvolve ao longo de trezentos e cinquenta quilómetros desde a Crista Médio Atlântica, até uma área a Sul da Fossa do Hirondelle. Como a segunda maior ilha do Arquipélago dos Açores, dista de cerca de oito quilómetros da Ilha do Faial e de quinze quilómetros de São Jorge. A sua superfície com quatrocentos e quarenta e sete quilómetros quadrados, apresenta quarenta e dois quilómetros de comprimento por vinte de largura. Na magia do lugar existe uma energia diferente de tudo o que já vivi no mundo. A subida faz-se cadente e ritmada, que na minha experiência atingiu as três horas de caminhada. A simplicidade e humanidade de excelência do guia Nilton Nunes faz parte das entranhas desta terra e com uns olhos tão profundos como o mar do oceano é na simplicidade das suas histórias que vou tocando as histórias puras das pessoas da ilha. No que senti no cimo do Piquinho, a ponta mais alta da montanha do Pico, partilho apenas a provocação de quem não acredita em impossíveis, convido os leitores destas linhas a não deixarem a vida sem viverem esta experiência sagrada.



Ainda intocada pela ganância autárquica, a tristeza de betão não toca a olha do Pico. O hotel ao lado da Ilha Verde Rent a Car - que me conduziu nos dias da ilha - é a única nódoa digna de uma borracha no postal desta ilha tão intacta. Uma ilha que para onde quer que olhemos sempre em direcção ao mar, ou à direcção do Pico nos aproxima dos cinco sentidos e que na sua intocabilidade é um lugar para permanecer, para observar, para absorver e para sentirmos o que de mais puro transportamos.

No alpendre sobre o mar
A minha primeira paragem de sonho foi feita na Piedade, no extremo este da ilha, no L'Escale de l'Atlantic. Com uma vista edílica sobre a ilha de São Jorge, a casa recuperada pelos actuais proprietários, Monique e Jack partilham detalhes e recantos geridos com horas certas, num ambiente descontraído e informal. Os tons suaves e o romance dos mosquiteiros inundam os quartos que se dividem pelos nomes das ilhas do arquipélago dos Açores. A casa tem muitos livros e histórias para contar e o pequeno-almoço, servido com uma vista sobre o mar oferece aos clientes receitas diferentes todos os dias. O talento de Monique aproveita e recicla materiais cerâmicos de cores atlânticas, estendendo a sua arte não apenas nos pormenores do terreno do jardim mas até às fontes que deixadas ao abandono na vila.




Uma morada para permanecer
Na Madalena e junto ao mar, o Pocinho Bay fica no coração da zona protegida da vinha do Pico, classificada como património mundial. Com uma vista de tirar a respiração é em frente ao Atlântico que numa pequena baía, em frente à Ilha do Faial que habita a morada mais privilegiada para adormecer na ilha. A grande casa dividida em pequenas casas de pedra, fundem-se com o bom gosto e sofisticação do design e dos materiais simples. Com uma pequena baia em frente ao mar, a alargada visão de mundo e o bom gosto de Luísa e José Eduardo abrem as portas de uma casa única na ilha, onde no coração de uma família nos é entrega sem tempo de mãos abertas, sempre com espaço para o nosso tempo mais puro. Uma piscina com vista Atlântica, uma varanda que nos emociona ao fim da tarde e os melhores pequenos-almoços que poderá ter no Pico fazem do Pocinho Bay a experiência mais apetecível e sofisticada da ilha.






No encontro dos viajantes do mundo
Em São Roque, a Pousada de Juventude daria uma Pousada de Portugal fora de série, mas a democratização à juventude marca encontro com os muitos cidadãos do mundo que partilham por alguns dias o mesmo teto. Sem limite de idade, o Convento de São Pedro de Alcântara, edificado no século XVII, a morada é ideal para partilhar a ilha nas noites conversas longas nos claustros ou nas alas do convento, na companhia de muitos viajantes do mundo.



Na gratidão do amor
Na ilha há rostos que marcam. Há pessoas que me contam as suas histórias como se declamassem poemas. Na Adega da Buraca, Leonardo Ávila da Silva fala com as emoções a transbordar nas palavras que lhe escorrem do coração aberto. Com os pés enraizados nas terras mais sublimes do Pico é com o seu amável convite, que passo um dia nas vindimas. E sem dar pela passagem das horas, entre o esgravatar da terra e o apanhar das uvas, com o calor do Sol a bater-me nos ombros dou por mim a almoçar a uma mesa de família, onde o amor se faz sentir. Na gratidão com que me acolhem, sinto um mundo puro longe da velocidade das cidades que tanto me movem. No testemunho da beleza humana, não tenho dúvida: era capaz de morrer nesta ilha a escrever poemas.



Nas palavras que falam com a minha consciência testemunho os sentimentos de Raul Brandão. É que a ilha do Pico também se apoderou dos meus sentidos. ‘O Pico é mais bela ilha dos Açores, duma beleza que só a ela pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção. É mais que uma ilha, é uma estátua erguida até ao céu e moldada pelo fogo’. Uma ilha de bruma, onde também eu passei a pertencer e onde recolhi uma imagem que guardarei até ao fim dos dias. A pureza de um postal ‘onde as gaivotas vão beijar a terra’.



Moradas imprescindíveis

Voo Lisboa Pico pela Sata

Tel. 707 22 7282
www.sata.pt

Pocinho Bay
Pocinho do Monte, Madalena Pico, Açores
Tel. 229 629 135
www.pocinhobay.com
L'Escale de l'Atlantic
Morro de Baixo, Piedade, Pico, Açores
Tel. 292 666 260
www.escale-atlantic.com

Pousada de Juventude do Pico
Rua João Bento Lima, São Roque do Pico, Açores
Telefone: 292 648 050
www.pousadasjuvacores.com

Ilha Verde Rent a Car

Tel: 351 296 304 842
www.ilhaverde.com

Aventura
Cume 2351 (para subir o Pico e explorar a ilha)
Tel. 914570009
www.cume2351.com
Material para a subida Merrel
www.merrell.com
Mergulho e observação de Cetáceos
Tel. 292 293 891
www.norbertodiver.com

Turismo
www.pt.artazores.com

Restaurantes
Petisca
Avenida Padre Nunes da Rosa, Pico, , Açores
Tel. 292 622 357
Ancoradouro
Rua Rodrigo Guerra, 7
Areia Larga Madalena, Pico, Açores
Adega a Buraca
Estrada regional 35 Santo António Pico, Açores
292 642 119
Canto do Paço
Rua do Ramal, Prainha São Roque do Pico, Açores
292 655 020

03 janeiro 2012

à conversa com The Sartorialist


Scott Schuman é autor do blogue thesartorialist.com que, com milhões de visualizações, se tornou num dos ‘bloggers’ mais famosos de sempre. O mundo já não vive sem as tendências que Scott Shuman vai captando pelas ruas da cidade.



Depois de quinze anos a trabalhar no mundo da moda, Scott Shuman achou que poderia fazer o balanço entre as tendências das passagens de modelos e o que as pessoas de facto usavam no dia-a-dia. Nasce assim um dos blogs referência mais importantes no manifesto de tendências reais, apenas pela captação de fotografias de pessoas que como ele navegam pelas ruas. Hoje colaborador da Vogue francesa, GQ americana, Fantastic Man ou revista Elle, Scott Shuman participa em projectos que segundo as suas palavras, lhe permitem ir construindo o maior dos seus sonhos: fotografar desconhecidos nas ruas. Nova Iorque, Paris, Milão, Londres, Moscovo ou Estocolmo são algumas das cidades que mais visita, mas seria num evento em Madrid que tive a oportunidade de conversar com um dos bloggers mais famosos do mundo.

Convidado para o lançamento do telemóvel Xperia Ray, a Sony Ericsson convidou-me entre outras oito bloggers internacionais, para um dia de trabalho de Scott Shuman, em que teríamos o privilégio de ser fotografadas numa sessão conjunta num estúdio montado para o evento. Ambientes numa festa, à mesa entre amigos, ou numa conversa íntima de sofá, os bloggers deambulavam pelo estúdio enquanto Scott Shuman apanhava os momentos com os oito megas pixéis do Xperia Ray. Com um estilo muito próprio a imprensa de moda da cidade movida não falava de outra coisa nessa semana e Lisboa conseguiu também o privilégio de uma conversa com um dos mais carismáticos fotógrafos do mundo.

Receosa de me desiludir com os homens ou mulheres que admiro, entrevistar The Sartorialist foi para mim um imenso privilégio, no sentido de confirmar a sua grandiosidade humana. Mais do que as palavras que me entregou nas mãos, a escolha da capa do seu livro, uma mulher de nome Julie, a quem a vida parece perfeita. E se lhe chamaram um dia a nova Audrey Hepburn, na verdade, a mulher sobriamente chic que ilustra a capa tem uma perna mais curta que a outra, braços excessivamente magros e coxeia ao caminhar. Nas suas palavras o elogio ao mais importante dos seres humanos, a sua essência que nunca deixou a sua realidade física diminuir o seu encanto. A capa escolhida homenageou todos os que não deixam de expressar as bonitas pessoas que são, apesar das suas fragilidades estéticas ou físicas e só por isso a minha curiosidade de conversar com o homem por trás da câmara.

Em minutos que me surpreenderam pela simplicidade elevei a minha satisfação a uma realidade que atingiu a alta expectativa. Atento, humilde, muito simpático e com um forte sentido de estrutura Scott Shuman prometeu-me vir um dia a Lisboa. Enquanto esperamos que mostre ao mundo e através da sua objectiva discreta, a beleza da nossa cidade cénica, as palavras falam pelo homem que prova que a altura de um homem jamais será física. Genuíno, humilde e sem qualquer energia de vedeta e obriga-me a usar o segundo tempo do verbo, já que mesmo na distância, somos todos cidadãos do mundo.

No livro revelas a tua filha como alguém que nasce com uma missão especial. Mais do que um ‘fashion hunter’ eu penso que és caçador de almas. Faz sentido?
No livro há tanta diversidade de pessoas… eu não vou para a rua para caçar moda, marcas ou criadores de sapatos. Não estou interessado nos detalhes, eu apenas tento fazer boas fotografias de pessoas que de alguma maneira me parecem interessantes. O que elas vestem não é o assunto principal e no final do dia, o que vejo no meu blog são imagens de pessoas.
Nas tuas imagens há um atracão fatal pela contradição…
Sim pelo mistério… eu quando fotografo uma pessoa na rua não tenho de perceber tudo. Não conheço a grande maioria das pessoas que fotografo. Eu gosto de não as conhecer e não acho que seja importante.
Thesartorialist.com é um marco muito importante para o mundo da moda mundial. Tens a noção que inspiras também todas as pessoas que vão diariamente ao teu blog?
Faz tanto sentido o que me está a dizer… eu cresci no Indiana, no meio dos Estados Unidos da América, onde não existe qualquer tipo de moda ou estilo. Eu cresci a viajar e a sonhar através de revistas, de como seria o mundo, de como seriam as pessoas. Este sentimento de procura e descoberta era muito forte e quando hoje em dia quando fotografo o sentimento é o mesmo. Eu não preciso de saber os factos… eu não quero saber os factos. Eu quero faze-lo sempre de maneira sonhadora e romântica, a maneira que como eu vejo as pessoas e daquilo que eu imagino delas.
És então um sonhador…
Sim um sonhador romântico (sorriso), que de alguma maneira mostra uma parte bonita da pessoa que encontrou na rua. Felizmente tenho sabedoria suficiente para saber que nem toda a gente que encontro é divertida ou maravilhosa na vida real, por isso guardo alguma distância e o momento do encontro são sempre momentos muito breves. Muitas das pessoas que fotografei jamais as verei de novo… e gosto deste mistério. E se por vezes as fotografias podem parecer revelar sobre a pessoa…é apenas sobre uma parte delas. É sobre o abstracto da ideia do que elas são. Para mim é mais estimulante e divertido dessa maneira porque é mais romântico e inspirador.
Nos tempos em que vivias no Indiana e não tinha o sucesso que tem hoje, tinhas a noção da missão e o sucesso, que iria ser o The Sartorialist?
Obrigada pelas tuas palavras… (sorriso). Quando era miúdo eu sabia que ia fazer alguma coisa importante, mas não sabia bem o que seria seria.
Foi um sucesso planeado?
Quando queres fazer alguma coisa grandiosa, se fores esperto tens a noção que navegas num rio, não para ir apara esta ou aquela direcção, mas para te deixares navegar até encontrar o que será a tua elevação. Eu fui ajustando o que encontrava com aquilo que acreditava ser a minha grandeza. Quando estava na escola eu tive aulas de alfaiataria e design de padrões, mas logo nessa altura tive a perfeita noção que não seria um designer. Nunca imaginei vir a ser fotografo, pois nunca tive aulas de fotografia. Comecei por fotografar os meus filhos, depois comecei a explorar como podia conjugar fotografia e moda e o que me movia era o que eu próprio pensava que seria a moda, a moda real, a moda viva nas ruas.
Sente-se um imenso respeito pelas pessoas que fotografas…
Sim fotografo-os com o mesmo respeito e dedicação com que fotografo os meus filhos e acho que o sucesso das fotografias se revela pela honestidade com que o faço. Pela expressão honesta que as consigo captar.
Confesso que tenho sempre receio de conhecer as pessoas que admiro e é para mim uma grande alegria tocar de perto a humildade que revelas em tudo o que fazes e dizes… És uma pessoa humilde mas também assertiva.
Sim… ‘perspicaz’ é a palavra.
Sei que tens um fascínio por Florença e que adoras a sua luz, e os edifícios não muito altos. Nunca pensantes fotografar em Lisboa?
Tenho alguns sítios salvaguardados para fotografar (sorriso).
‘Tudo na vida é confiança’. Há uma busca de confiança nas pessoas que encontras na rua?
Mais do que confiança, a palavra é encanto. Mesmo os homens mais machos conseguem ter encanto. O homem da página trezentos e cinquenta e sete do meu livro parece um sem abrigo e ninguém diria que ele trabalha para a Ralph Laurent. Só descobri a sua profissão mais tarde e achei fascinante saber que é ele que compra as antiguidades para a casa Ralph Laurent.
És mais rico nos frutos monetários do teu sucesso ou quando andas pela rua a fotografar pessoas?
Há muita sinceridade em tudo o que faço. Os outros projectos servem para fazer dinheiro, o que me permite fazer o que mais gosto que é continuar a andar na rua a fotografar. Socialmente, o meu livro e o blog mostram outro tipo de pessoas… bem diferentes dos modelos jovens e frescos das revistas. Há pessoas a ir ao meu blog e a dizerem ‘eu quero parecer assim quando for mais velho’. Pela primeira vez os mais jovens estão-se a inspirar nos mais velhos que mantêm o encanto apesar da idade.
E isto parece um detalhe, mas é muito importante. Mais do que moda ou estilo capturado, a ideia de poder retratar a elegância e nobreza do envelhecimento e poder tocar as pessoas é a minha maior riqueza.








26 novembro 2011

Fora de Série l Da essência da Terra





Quando se chega à região de Champagne as vinhas estendem-se pela essência da terra que ondula suave. Chego a Reims nos dias dos tons mais dourados dos campos, onde a beleza das vinhas se mostram mais esplendorosas. Há qualquer coisa de muito suave a tranquilo que se evapora da terra, mesmo quando reconheço com alegria que o nosso Douro continua a ser uma das mais bonitas paisagens do mundo. A palavra ‘champagne’, ocasionalmente aportuguesado para ‘champanha’ ou ‘champanhe’, deriva do latim popular ‘campania’, que designava uma paisagem de campos abertos e se em Champagne não existe a marca de um rio comovente, a ondulação que nos envolve nas vinhas fazem-me coleccionar postais de momentos, onde apenas há espaço para a arte de viver a desejar beleza para este campo lavrado que é a nossa vida humana.

Nos dias mais gloriosos onde se tira a rolha com alegria, uma garrafa de champagne transporta-me para os onde abrimos tesouros com fitas de cetim vermelho vivo. Nessa imagem cénica, abro as portas de uma das maiores caves de champagne, a casa Mumm, imortalizada pelo célebre Cordon Rouge nascido em 1875.

Desde o fim do século XIX que esta casa utiliza nas suas garrafas a fita colorida como homenagem à faixa da Legião de Honra, a mais alta distinção francesa criada por Napoleão I , um símbolo que representa a procura da perfeição e espírito de aventura. Elaborado com uvas provenientes das melhores vinhas da região de Champagne e respeitando as tradições e o ‘savoir-faire’ ancestral, o Champagne Mumm é a terceira marca mais vendida no mundo, e a segunda com mais sucesso em Portugal. A sua gama generosa, e que tive a oportunidade de provar, com Didier Mariotti passa por várias emoções diferentes. O Cordon Rouge, o Champagne dos Champagnes apresenta um carácter único e um paladar que nos transporta para um universo de sabores com uma grandeza excepcional. Na sua extensão, o Demi-Sec , uma tradição de prazeres intensos, fresco e untuoso, é o mais macio dos champagnes da Casa. No Rose sente-se o charme em estado líquido e sendo uma cuvée original, combina a delicadeza do Cordon Rouge à força e frutado do Pinot Noir, e por isso, muitas vezes ambicionado pelos desejos mais femininos. No Mumm de Cramant, a cuvée de excepção é rara e preciosa, elaborada na mais pura tradição ‘champenoise’ desde 1882, o champagne apresenta-se com uma efervescência delicada, uma selecção rigorosa de vinhos Cramant cem por cento chardonnay que lhe conferem um sereno estado de pureza.

Por trás de uma grande garrafa há sempre um grande homem
No caso da Cuvée R. Lalou 1998 a bebida é eleva-se ao alto. Envelhecida por uma década nas caves G.H. Mumm, é definitivamente e por direito próprio, um vintage de alta gastronomia, a sua generosidade e riqueza expressam a mais profunda essência de um terroir e da sua história. Criado para prestar homenagem ao visionário René Lalou, inspirado criador de terroir, esta cuvée de excelência inspira-se na sua ilustre predecessora – a Cuvée René Lalou de 1985 – ainda hoje um vintage lendário para muitos apreciadores de champagne e um verdadeiro tesouro para muitos dos grandes chefs e sommeliers de todo o mundo.
Inspirada no blend utilizado na cuvée original, a sua concepção reflecte profundamente o carácter do terroir das vinhas garantindo que apenas o melhor do melhor é utilizado. Proveniente das vinhas mais antigas e com características assertivas da sua localização, não se trata de uma mistura simples de diferentes vinhos, mas uma selecção de mestria de parcelas específicas, escolhidas de uma palete de doze vinhas, todas elas situadas no coração histórico dos grands crus e que constituem a palete de cores onde o Chef de Cave, Didier Mariotti encontrou a sua inspiração.

‘A prova dos jovens vinhos a serem utilizados nesta cuvée revelou quais os de maior intensidade e força, quais os mais distintivos e complexos, os que revelavam frescura ou notas minerais e subtileza. Vinhos das parcelas dos Hannepées são densos e concentrados, com notas complexas de bagas vermelhas. A robustez e o corpo destes vinhos torna-os imprescindíveis no blend. Por outro lado, do patchwork das doze vinhas eleitas, os chardonnais originários de Bionnes têm o estilo e elegância de um puro-sangue. Aromas florais a acácia e camélia sobressaem de uma base cítrica. Estes são vinhos com profundidade e equilíbrio, mesmo em anos difíceis, e dão longevidade à cuvée.’ Apenas sete dos doze vinhos são seleccionados para a mistura final fazendo o equilíbrio entre os Pinot Noir e os Chardonnais’. Na condução da prova, este Champagne fora de série, apresenta um tom dourado, fino e brilhante, capturando a luz e os seus aromas que de vão desdibrando num crescendo. A primeira impressão é de elegância, sublinhada por uma complexidade aromática que dificulta a análise final do vinho, tantos são os elementos interligados e o olfacto abre-se em frescas notas críticas e minerais, possivelmente a marca das parcelas de les Bionnes e de La Croix de Cremant. Logo depois, podem ser detectados traços de Crupots, se não de les Rochelles transpirando toda a sua complexidade, com aromas de nougat, laranja, flores brancas e mel de acácia. Acentos de citrinos e frutas exóticas, baunilha, avelã e amêndoa torrada exasperam-se de seguida. O vinho parece estar dançar entre frescura e maturidade e na boca é limpo e jovial mantendo o equilíbrio entre estrutura e acidez, apesar de seu carácter complexo e generoso. O fim é consistente, com um ligeiro amargor no grande final.

O ano de 1998, foi o eleito por ter sido marcado por fortes contrastes climáticos que após um inverno moderado e seco, foi marcado primeiro por gelos e depois por granizo, seguidos de chuva até ao momento de floração das vinhas. O início do verão fresco, seguido por um Agosto tórrido e as fortes chuvadas abriram o mês de Setembro, mas as vindimas foram solarengas, dando aos vinhos um alto grau de maturidade e frescura. A Cuvée R. Lalou 1998, envelhecida por uma década nas caves G.H. Mumm, revela-se então como um vintage de alta gastronomia, onde a sua generosidade e robustez só são igualadas pela sua riqueza e complexidade ímpares. Com este champagne a casa G.H. Mumm criou uma cuvée que, mais que qualquer outra, expressa a mais profunda essência de um terroir e da sua história.

artigo publicado na revista Fora de Série do Económico a 11 de Novembro de 2011

07 julho 2010

na senda do deserto

para quem acompanha este blog já sabe que não gostei, não gosto e jamais gostarei do Dubai. Se por um lado admiro a capacidade de concretização da família Al Maktoum não posso deixar de achar que o que acontece por lá é a antítese do que eu acho ser a nossa vida na terra: uma fusão com a natureza. de qualquer maneira, viajar serve para estendermos a nossa erudição e conhecimento. não tem de ser a viagem da nossa vida. sobre o hotel Armani, que me levou aos Emirados Árabes Unidos, a certeza de que será uma grande referência da hotelaria mundial. aqui fica o testemunho escrito para a revista Fora de Série do Diário Económico.



Viajar para terras de areia transporta-me sempre para o ‘Chá do Deserto’ de Bernardo Bertolucci. A imensidão do silêncio, os desenhos construídos pelo movimento da terra ou as cores quentes que me enaltecem os sentidos levaram-me ao deserto, com a certeza de que não assinaria por baixo o diálogo de Debra Winger e John Malkovich, com Campbell Scott. No destino da viagem às areias da Arábia, o encontro com o primeiro hotel Armani, situado no Burj Khalifa, o mais alto edifício do mundo. O Hotel Armani Dubai - o primeiro de uma rede que se quer estender em 2011 a Milão, Egipto e Marrocos - foi desenhado pelo Skidmore, Owings, & Merrill, os mesmos que desenharam as Sears Tower em Chicago e a Freedom Tower em Nova Iorque. Inspirado numa flor do deserto, a Hymenocallis, o Burj Khalifa que ultrapassou o edifício Taipei 101, tem uma altura de 828 metros, possíveis de serem percorridos pelo elevador mais rápido do mundo, a 18 m/s (65 km/h, 40 mph), sem qualquer sensação de movimento durante a viagem.

‘Stay with Armani’
Inovação em hospitalidade, design, estética e estilo são os lemas do conceito ‘Stay with Armani’, que acompanha toda a imagem do hotel, com morada nos primeiros oito pisos, assim como no trigésimo oitavo e nono andares do Burj Kalhifa. A segurança é garantida pela paragem de qualquer carro ou peão que faça o percurso que separa as ruas da cidade, da entrada do hotel. Abrem a porta do carro dois homens vestidos com calças e camisolas pretas que pelos cânones de beleza, parecem saídos de um catálogo de Giorgio Armani. Seguem-se mais dois para abrir as portas de entrada e impressiono-me com a elegância do ‘lobby’. Antes de ter tempo para me dirigir a qualquer recepção, sou surpreendida pela simpatia de uma recepcionista, vestida de Armani (todas as fardas foram desenhadas pelo designer italiano) que me pede para aguardar num dos sofás estofados a seda. Espero três minutos e enquanto olho para um dois balcões do lado direito e esquerdo, verifico que o conceito de recepção é inexistente, quando sou novamente cumprimentada, desta vez pela minha ‘lifestyle manager’, a Anne, uma francesa que me leva directa para uma suite no sétimo andar. Apercebo-me do conceito instituído pelo ‘Mr. Armani’, como lhe chamam as muitas nacionalidades que trabalham neste hotel. A minha suite é a número 725 e além de duas casas de banho, um quarto, uma sala e ainda um terraço onde posso dar festas privadas. Numa das mesas da sala esperam-me flores e morangos frescos com opção de os provar com açúcar em forma de neve ou natas batidas que parecem veludo. A Anne explica o conceito de ‘lifestyle manager’ - que tem como intenção um serviço mais personalizado e próximo do cliente - enquanto me ensina todas as funções de um comando que exibe o logotipo Armani. Será a partir deste comando que farei quase tudo dentro da suite: abrir e fechar as cortinas, fechar e acender luzes ou carregar num botão para o ‘lifestyle manager’ vir ao quarto ou ligar-me de volta. O quarto exibe cores que se estendem ao chocolate dos armários, ao bronze das sedas usadas nas paredes forradas a tecido, nos estofos e cortinas até à cor de areia que impera o ambiente das casas de banho. Tudo é sóbrio, tudo é muito simples e elegante. Na casa de banho reparo nos cotonetes invulgarmente negros serem mais compridos do que o normal e na forma do sabonete, uma pedra cor de fogo que nos transporta ao fundo do mar. Diferente do habitual, todo o serviço de bar - bebidas, aperitivos e chocolates Armani - é para o cliente usufruir sem qualquer custo. As bebidas alcoólicas são apenas possíveis por ‘room service’, altamente compensado com vários tipos de água como a norueguesa Voss ou a qualidade dos sumos biológicos. Há ainda Nespresso e chá à descrição e chocolates onde impera a marca Armani.

Setecentos e um empregados para cento e sessenta quartos
Mais de quatro empregados por quarto estendem-se por nacionalidades que atravessam países como Suécia, Itália, Índia, Bangladesh, Egipto, França ou Paquistão entre tantos outros. Nas áreas comuns destaca-se o Armani Lounge com vista para a aclamada fonte do Dubai, ideal para um aperitivo ou ‘drink after business’ sempre servido por empregadas elegantes, que se movem com um vestido que facilmente usaria num cocktail em Portugal. O mesmo acontece na elegância dos vestidos de modelo quimono das discretas e também bonitas empregadas de limpeza, sempre presentes já que os Emiratis são obcecados pelo brilho. (pode-se ver às seis da manhã homens a limpar os carris do metro com a mesma facilidade que confirmamos os setenta por cento de humidade do ar). Neste piso térreo há ainda a Armani Galleria, uma boutique de acessórios de alta-costura exclusivos, a Armani Dolci, uma loja com selecção de doces e chocolates e a Armani Fiori, uma boutique floral com arranjos de flores frescas pensados por Giorgio Armani.

Os olhos também comem
Com a certeza que foi o ‘buffet’ de pequeno-almoço mais bonito que alguma vez experienciei, os produtos são de extraordinária qualidade e toda a padaria e pastelaria (aspecto fora de série e continuamente reposta, por uma sombra da equipa Armani) é feita dentro de portas. O restaurante ‘Mediterraneo’ onde também são servidos os pequenos-almoços têm assinatura portuguesa, pelo talento de Pedro Baroso e Jorge Costa, chefe e subchefe (ambos ex-Penha Longa) que fazem as honras da casa e confirmam o charme lusitano além fronteiras, enquanto cumprimentam alguns clientes habituais. Empregados de calças esvoaçantes cor de estanho trazem como bebida de boas vindas, um delicioso sumo de manga laranja e gengibre, chá ou café e ainda um tabuleiro cromado, com torradas acabadas de fazer protegidas por um pano de linho. No objectivo de comer tudo o mais fresco possível, estrondosos ovos ‘Benedict’ ou panquecas com doce acabadas de fazer, pedem-se à carta.
Do outro lado do Armani Lounge está o Armani Ristorante a comando do carismático italiano Alessandro Salvatico. Com grandes janelas e mesas circulares, foi a melhor refeição que fiz no Dubai com nota vinte para a sobremesa, ‘Baverese alla vanilla, crema alle viole, sorbetto al cassis’ talvez a mais bonita e melhor que alguma vez provei na minha vida. O restaurante indiano Amal, o japonês Hashi e o Peck complementam a oferta de restauração do hotel. Há ainda espaço para um Spa e para o club Armani Privé, uma discoteca aberta até às três da manhã e com entrada directa a partir do exterior, onde emiratis e estrangeiros gozam momentos de libertação através da música e o maior ecrã do mundo, alguma vez colocado num local nocturno.

Na profundidade de uma cidade construída sobre as areias do deserto, a cumplicidade do olhar dos que constroem esta cidade é retida nos sorrisos de povos simples que contrastam com o que as inimagináveis ambições do homem. Na beleza da simplicidade e sem qualquer dúvida que a nova aposta de Giorgio Armani será uma referência de qualidade extraordinária na hotelaria mundial, retenho ainda nesta experiência arábica, as palavras do poeta José Tolentino Mendonça, que tanto me acompanhou nestes dias de visita ao Dubai. ‘Perdemos repentinamente, a profundidade dos campos, os enigmas singulares, a claridade que juramos conservar, mas levamos anos a esquecer alguém que apenas nos olhou’.
Armani Hotel Dubai
Tel. +971 4 303 4222
www.armanihotels.com
A partir de €375

Na pureza da experiência arábica
A quarenta e cinco minutos da cidade, situado nos duzentos e vinte e cinco quilómetros da Reserva do Deserto do Dubai, o Al Maha Desert Resort & Spa é uma fuga privilegiada na fusão com a natureza. O paraíso pertence ao ‘The Leading Smal Hotels of the World’, com morada num antigo campo Beduíno foi galardoado com inúmeros prémios internacionais, incluindo o importante National Geographic Traveller & Conservation International. As suites espaçadas umas das outras com piscina privada e com vista para as dunas ou para as montanhas Hajar, parecem tendas montadas num oásis do deserto e permitem a observação de mais de trinta e três mamíferos e répteis e mais de cem espécies de pássaros. Todas as refeições são feitas dentro de portas, as quais podem ser feitas no restaurante‘Al Diwwaan’, no ‘deck’ privado das suites ou no meio na beleza das dunas se o calor permitir. A bênção deste oásis estende-se ainda as caminhadas no deserto, passeios a cavalo ou de camelo, observação de falcões, ou a uma revigorante aula de ioga ao nascer do Sol.
Al Maha Desert Resort & Spa
Tel. +971 4 303 4222
www.emirateshotelsresorts.com/al-maha
A partir de €650

Não deixe o Dubai sem observar os locais no Dubai Mall, sentado no restaurante Switch decorado pelo designer egípcio Karim Rashid, visitar a zona de Deira através de abras (pequenos barcos que os passageiros usam para atravessar o estuário de Dubai, entre as estações abra em Bastakiya e Baniyas Road), jantar no restaurante argentino do The Palace Old Town ou no internacionalmente conhecido japonês Zuma uma das moradas mais emocionantes da restauração do Dubai. Os melhores meses para não apanhar temperaturas elevadas são de Outubro a Abril.