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14 abril 2010

um lugar para viver



a história 'Away we go' de Sam Mendes transportou-me ao passado, no dia em que me lembro de ter chegado a Lisboa - vivia na Grécia - abraçada a um 'start again' e ter atirado sessenta caixas (ou o meu sublime legado) para dentro de um armazém. a pergunta mais válida, apenas esta: 'quando e onde voltaria a encontrar-me com os meus objectos e os meus amigos silenciosos?

lembro-me que bati com a porta, abandonando o armazém com o objectivo determinado de um dia, voltar a marcar o número de telefone da empresa de mudanças. nesses dias distantes lembro-me do pensamento que me movia: aconteça o que acontecer, terá de ser contruído com paixão. nada de prostituições em função de um alcance mais rápido aos objectos. sim, hoje apenas me movo abraçada à liberdade. sem medo, o dinheiro (essa palavra que verbalizo, consciente de que é apenas uma energia que está neste mundo para nos servir), aparece sempre para voltar a erguer o castelo. e confesso-vos que muitas vezes ainda me espanto com os frutos duma árvore que nunca se deixou podar pelo medo.

na senda dos riscos que cumpri durante a vida, muitas vezes me cruzo com histórias e pessoas que vivem sem redes, como eu. e os filmes de Sam Mendes obrigam-me sempre a confrontar capítulos do passado. 'American Beauty' ou 'Revolutionary Road' já tinham marcado encontro com algumas gavetas da memória. em 'Away we go' não me posso esquecer da imagem final do filme (e não revelarei pormenores para não estragar surpresas) o olhar final de duas pessoas que testemunham 'o elogio do amor' de Miguel Esteves Cardoso.

nunca precisei de colar um itinerário dentro de nenhum dos meus casacos, mas sei que muitas vezes apenas tomamos consciência das nossas imagens passadas nas histórias dos outros. o espelho foi muito próximo: a emoção e a incompreensão na expressão de Verona (Maya Rudolph) e a surpresa serena de Burt (John Krasinski), tudo numa imagem que faz esquecer qualquer cartão a fazer de vidro, ou o frio que um dia entrou através de uma janela partida.
mais aqui e aqui.

2 comentários:

  1. Já tinha lido uma sinopse. Percebi logo que o queria ver
    do teu zé=)

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  2. A magia dos filmes de Sam Mendes também se exercem comigo. Foi uma hora e meia muito produtiva. Não engravidei ninguém e também não tive um projecto com alguém que requeresse a procura por outo lugar, mas a verdade é que é com a dimensão humana, com os medos e alegrias que eu estremeci em cada minuto do filme. Um sentido de humor terno e extremo era a minha salvação em várias alturas e de facto é destas pequenas humanidade que Away We Go foi feito. Disso e do público. Cada espectador contribui com a sua identificação para a progressão natural do filme.

    Não sei se já leu, mas pode passar pela minha crítica: http://estado-darte.blogspot.com/2010/04/filmes-pequenos-grandes-historias.html

    De resto, quanto ao texto, respondo com uma bela música/poema cujas linhas principais já tinha escrito aqui há algum tempo. Acho que em todos os momentos me vinha à cabeça com a história da fita e agora com o texto:

    Passo a Passo - João Coração

    Acelera cara a cara
    Sobe a mudança
    O vento empurra a quem mudar
    Não passes dos oitenta e abre o vidro de lado
    Vai ser um dia de calor
    De mau grão nunca sai bom pão
    Leva o último tostão,
    Mas não olhes para trás
    Que o tempo aí é melhor
    Do que a última promessa...
    ...que o rio vai no sentido do mar

    Vou conhecer outro lugar
    Experimentar no meu ouvido outro cantar
    Mas cada um que me tocar
    Serás tu que eu vou lembrar no seu lugar

    Abertas avenidas sempre a sul da tempestade
    Na terra que o sol abraçou
    Os meninos já são homens
    Nem brincam com os amigos
    E um deles há-de-te merecer
    Da tua boca hão-de vir
    As palavras proibidas
    Não te vais arrepender
    Mas se um dia quiseres voltar à tua terra
    Saberás onde me encontrar

    Vou conhecer outro lugar
    Experimentar no meu ouvido outro cantar
    Mas cada um que me tocar
    Serás tu que eu vou lembrar no seu lugar

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