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Mostrar mensagens com a etiqueta Um lugar para viver. Mostrar todas as mensagens
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01 fevereiro 2011

36 Hours in Lisbon by New York Times


não adorei a abordagem,
mas não deixa de ser a minha Lisboa no The New York Times.

'Cheap. That’s the label usually slapped across the forehead of the Portuguese capital. Around the Continent, the waterside city is mostly seen as the charmingly faded seat of a centuries-gone trade empire where you can plunk down some coins to ride an old yellow cable car, visit Baroque churches and squares, fill up on cut-rate seafood meals, sip 2-euro glasses of Portuguese red and retire to your budget hotel. But Lisbon is getting fancier every month. By day, ambitious upstart museums and renovated industrial districts offer an infusion of contemporary art and design. By night, a fledgling wave of neo-Portuguese restaurants, stylish night spots and innovatively designed hotels provide happening places to play. The best part? The city remains a terrific bargain'.

veja as imagens aqui.

28 janeiro 2011

eu hoje acordei assim

abraçada
a todos os lugares onde iremos com as mãos abertas.

07 janeiro 2011

à mesa do café trocamos palavras l Se hoje me puderes ouvir



Abandono os cafés onde troquei tantas palavras. São imagens e movimentos que passam a fazer parte de um livro, que passam a existir demasiado em todas a memórias que hoje trago comigo.

Todas as cidades têm o seu tempo mais certo e Londres revela-se mais lenta pelo manto branco que cobriu a cidade. ‘Pela neve sem vincar rasto, sempre caminhou aquele que busca um amor’ é uma das frases do livro que trago comigo para as viagens de baixo de terra. As palavras fazem-me olhar vezes sem conta, para as tantas faces que constroem o movimento da cidade. Talvez por isso a importância das imagens que se cruzam nas carruagens e que a tão poucos centímetros de distância reconhecem a importância de um sorriso. Nestes dias recolho momentos, que me fazem brilhar os olhos mais do que todas as luzes da cidade.

Passeio sobre a neve nas ruas do Soho e por mais frio que esteja, não congelo a minha atenção à vibração londrina. Cruzo-me numa esquina com um viajante que carrega um enorme ramo de flores e o aroma das fréseas brancas magnetiza-me a curiosidade. São flores de março, mas o mês de dezembro tem esta capacidade de me fazer acreditar que tudo é ainda mais possível. Sigo-lhe os passos e descubro uma das moradas mais apetecíveis desta viagem. A Dean Street Townhouse é um hotel elegantemente discreto que não chega a ter qualquer sinal na porta. A entrada tem uma biblioteca e as muitas velas acesas transportam-me à minha ideia de Natal, vivido à volta das histórias dos livros mais antigos. Recebem-me como numa casa de amigos e enquanto observo a dança imóvel das criações de Olivia Putman volto a homenagear o café que tanto elogia as cidades, quando me perguntam se aceito um Volluto. Este é o hotel londrino mais perfeito para me sentir em casa.

‘Londres tem definitivamente um efeito nefasto nos diários íntimos’
Só desta vez atrevo-me a não concordar com Virginia Woolf que tanto me tem acompanhado na beleza dos dias. A velocidade da cidade contraria as mensagens mais cinzentas que me chegam de Portugal. Tenho a certeza que por mais pensamentos fatais, ao privilégio de estarmos vivos, o mundo não acaba nem mesmo com a pior das crises. Por isso mais vale gastar energia na criatividade e no associativismo que sempre tanta falta fez ao meu país Atlântico. Para planear o ano de 2011, o qual tenho a certeza ser importante ao nosso projeto de humanidade, rendo-me às leves e finas folhas azuis da Smythson no número quarenta de New Bond Street. As folhas de apenas cinquenta gramas não impedem o uso das canetas de tinta permanente e mais do que um ‘secret social passport’ a organizar vidas desde 1887, esta loja do centro de Londres é uma bênção a quem gosta de escrever. O Royal Court foi o primeiro registo diário a ser publicado pela Smythson em 1895, que com o formato de um dia por página e com uma secção de informações úteis daria início a uma marca, que tem na sua história as pontas dos dedos da Rainha Vitória, de Sigmun Freud ou de Grace Kelly. Hoje encantam quem sofre de saudades da magia de uma carta. Na coleção dos Panama Notebooks rasgo o sorriso nas mensagens que as capas oferecem: ‘dance like no one's watching’,'dreams and thoughts', ‘now panic and freak out’ ou ‘make it happen’. A ideia genial foi da diretora criativa da marca, a primeira-dama Samantha Cameron que estendeu a genialidade à ousadia. As páginas por preencher dizem-me ‘está tudo por acontecer’.

É mesmo agora o que mais me comove
Com a mesma beleza de um quadro de Johannes Vermeer, a futura primeira-dama da banca inglesa, Ana Horta Osório partilha-me as moradas mais apetecíveis da elegância londrina. Anoto a exuberância discreta do Zuma, do Nobu, do Cecconi ou do Cipriani London. ‘Viver Londres é também viver os leilões da Sotheby's, as corridas de Ascot, ou o torneio de ténis Wimbledon’. Para nos guiar existe um Tatler London Guide e para mesa do café o último andar do Harvey Nichols ou as cores românticas da Ladurée. Na importância de quem corre por gosto e não se cansa entre cidades (Ana é fundadora de um dos melhores Spas de Lisboa, o Spatitude) ainda a conquista da Maratona de Nova Iorque, a partilha da cidadania numa Londres que tanto vive de associativismo ou das tantas causas por uma causa. Registo a cidade no seu retrato mais perfeito.

Um destino que passa e não passa por aqui
A cidade revela-se por ser de passagem e muitos me confessam os tantos amigos que já partiram. Na velocidade da memória recordo-me das conversas de um dos mais antigos restaurantes de Londres, o Rules, que me privilegiou com um soberbo pato selvagem com macas caramelizadas e um ‘toffe pudding’ de avelãs ou do extraordinário e bonito Daylesford Organic, um mercado e também café biológico que adoraria ter em Lisboa. Porque a extensão da alma também come, os livros e histórias da magnânima Daunt Books, em Marylebone High Street, a beleza gráfica dos livros da Magma em Clerkenwell Road ou as viagens paginadas na Travel Book Shop no cenário edílico de Notting Hill. No bairro que escolheria para viver, a espontaneidade e os almoços sofisticadamente descontraídos do café 202, com quem me sentei à mesa com Mariana de Castro. Não proclamo ‘o sonho como a pior das cocaínas’, mas agradeço o seu doutoramento no Kings College que em breve nos permitirá o Shakespeare de Fernando Pessoa. A ponte literária recorda-me as placas azuis que memorizam as casas mais importantes da cidade. Sãos marcos que relembram quem não deve ser esquecido e que não perdem o seu lugar sagrado na cidade enquanto o tempo passa. Também Mafalda Trabucco Borea me confirma a importância das imagens cénicas deste bairro vintage. A trabalhar na Mubi, a sala de cinema on-line permite descobrir e partilhar com cinéfilos desconhecidos fitas raras de encontrar em qualquer prateleira de uma loja, confirmando-me o futuro do cinema em casa.

Aquilo que nem ao vento sequer segredamos
Abandono os cafés onde troquei tantas palavras. São imagens e movimentos que passam a fazer parte de um livro, que passam a existir demasiado em todas as memorias que hoje trago comigo. Um testemunho romântico de uma cidade, que mais do que um cenário da história de Sarah e Maurice do romance de Graham Greene, abre-me à importância dos seres humanos. A velocidade dos dias toma conta de mim e enquanto a neve cai a energia esgota-se no meu último dia em Londres. Entregue ao positivismo de um condutor desconhecido, o táxi rasga as ruas ao longo do rio, dando-me uma imagem mágica da antiga central eléctrica em Battersea. Pela febre que me deixou quase intransportável imploro o meu lugar com destino a Lisboa. São momentos que me fazem viver o meu ‘The Sheltering Sky‘ de Bernardo Bertolucci e que longe das cores proibidas de David Sylvian, reconhece a importância de um taxista no momento de uma partida. O aeroporto revela-se num caos imenso e consigo embarcar acreditando nos milagres desta época de luz. Agradeço com humildade o regresso da viajante no momento que re-encontro o poema que deu o título a estas páginas. E enquanto ‘a noite abre os meus olhos’, recebo as palavras do poeta distante: se hoje me puderes ouvir recomeça, medita numa viagem longa, ou num amor,
talvez o mais belo.

coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 7 de Janeiro de 2011

19 dezembro 2010

à mesa do café trocamos palavras l muito além do azul



Sentamo-nos no café da galeria e enquanto me descreve como teceu a sua senda do sonho, tenho como cenário os vultos que passeiam pelos jardins. Entre nós e as palavras há espaços cheios de gente de costas, portas por abrir que podem tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo.

Distante das ruas da cidade estão as casas, as muralhas habitadas dos amigos que escolheram Londres como morada, onde no ‘transportes do tempo’ de Ruy Belo se sentem bem. As palavras da escritora com que iniciei esta coluna segredou-me também que ‘ninguém pode dizer que conhece Londres se não conhecer um londrino de gema, se nunca tiver descido uma rua secundária, longe das lojas e dos teatros, e batido à porta de uma casa particular num bairro residencial’. Antes de partir alertaram-me para a eleição do bairro, onde elegeria a minha morada destes dias londrinos. Chelsea está longe de ser o meu bairro ideal, não pela sofisticação que aprecio, mas pela falta de criatividade que alcanço noutras esquinas da cidade. Gosto de viver surpreendida e mais importante do que o bairro onde vivo, a importância da experiência de uma cidade através de pessoas extraordinárias, que com as suas mãos me abrem portas como revelam segredos.

Retida pelas imagens da fita ‘Bricklane’ de Sarah Gavron, de um romance de Mónica Ali, imaginei muitas vezes os encontros dos seres humanos através de portas transparentes. Uma imagem que trouxe no meu livro de notas, como um quadro a descobrir em ‘East London’. Old Street é a estação de metro que eleva ‘o fósforo para o milagre do fogo’. Hoxton, Hackney, Bethnal Green, Shoreditch, manchas de criatividade coladas que revelam estímulos e excentricidades capazes de acordar os vultos da célebre frase de Johnson, aqui nestas ruas, não há mesmo espaço para nos fartarmos da vida.

Na excelência dos seres humanos
Londres é transversal na mudança rápida de cenário, em que de um segundo para o outro mudamos de uma elegante loja de Bond Street para uma cave Felliniana em Shoreditch. A dádiva da experiência devo-a a Miguel Domingos, um fotógrafo de moda que respira talento pela pele do seu percurso. Enquanto vivemos um poderoso ‘english breakfast’ no ‘The Premisses’, um café em Hackney também estúdio, onde já gravaram nomes como Nina Simone, Nick Cave ou os Buena Vista Social Club, revela-me o início do caminho na London College of Fashion. Londres é a sua base há nove anos, mas trabalha também em Paris, Barcelona, Berlim, Madrid e Lisboa pelas agências Volitif e Luckenpoint. Nas suas mais elevadas memórias partilha-me os ‘backstages’ da Paris Fashion Week (Karl Lagerfeld, Vivienne Westwood, John Galliano ou Lanvin são alguns dos nomes com quem colabora) e a sua colaboração na Art Partner, a agência nova iorquina onde estão agenciados os fotógrafos Mario Testino, Mario Sorrenti ou Terry Richardson. Das suas histórias retenho-me na palavra mais forte, ‘Londres é uma cidade vibrante’ e na companhia da energia de uma pessoa que transpira amor pela vida, descubro a tão esperada rua de Bricklane. São montras vintage e lojas escondidas como a fascinante Beyond Retro, mas também a paragem obrigatória na Baigel Bake (para provar os famoso Baigels de salmão fumado ou ‘salt beef’). Livres como pássaros em Istambul, percorremos a Cheshire Street, a Columbia Road com o seu famoso mercado de flores ou o salão de beleza The Powderpuff Girls onde é possível viajar no tempo para pedir um penteado dos anos cinquenta, com decoração e ‘staff’ a condizer. Ainda o mercado e as lojas de Broadway Market, o ar berlinense do Haggerston Bar, ou o tal bar digno dos filmes de Fellini, o Joiners Arms. Nas suas grandes eleições e numa escapadela ao Soho, e mesmo à frente da lojas de bolos mais excêntrica da cidade, a Cox Cookies & Cake, ainda o imperdível restaurante de ostras e marisco, o Randall & Aubin, onde atmosfera e champagne da casa ressuscitam o cansaço dos dias. Miguel vai registando movimentos por trás da câmara, e o voo acaba na simplicidade de um restaurante tailandês de bairro, o Rosa’s, no número 13 de Hanbury Street, onde remato um dia regado pelo privilégio da criação.

Hoje, leva-me contigo
É fácil perdermo-nos na cidade. E não falo de nos deixarmos navegar pelas ruas, mas de ter a sensação que alguma coisa nos está a escapar enquanto fazemos uma outra. E se a cidade é uma bênção, na sua extensão tropeço num projeto essencial para quem quer conhecer a Londres dos londrinos. Simply Rosa é um projeto de Rosa Mello do Rego que virou a página de um percurso na galeria Hauser & Wirth para iluminar as ruas desconhecidas. Habituada a planear a cidade que vale a pena ou a Londres escondida dos guias turísticos, foi com a Rosa que conheci uma das moradas mais apetecíveis para um brunch de East London, o Albion. Situado na Boundary Street, um restaurante, mercearia fina, padaria, galeria e hotel, que recomendo a quem queira ficar no lado mais irreverente do mapa londrino. Ainda longe dos sublime, mas óbvio Hakkassan, deliciosos achados como o ‘ginger pudding’ do The Lansdowne, o vinho quente com canela no The Engineer Pub, os sumos de cenoura e gengibre da frutaria de Primrose Hill, as pizzas da Story Deli, o bus vegetariano Rootmaster, a melhor sopa vietnamita de Londres ou lojas onde o design se encontra temporariamente, como a The Temporium. Haverá sempre mais experiências para viver e como grande razão para um futuro regresso, a loja The Last Tuesday Society em Mare Street, que exibia uma vitrina de fazer inveja às montras da Harvey Nichols. Nas suas escolhas mais clássicas, um episódio nos armazéns da cidade. Do Liberty a beleza do edifício, do Selfridges a seleção excecional e várias prateleiras de revistas que dariam muitas tardes inteiras de leitura. Ainda uma cena digna de um filme. Enquanto Rosa se compromete, mais uma vez, a sua serenidade à concorrida fila da Nespresso – e aqui lembro-me do privilégio de o podermos fazer a céu aberto nas ruas do meu querido Chiado, ou da genialidade de em Lisboa a reciclagem das cápsulas ajudarem os que mais precisam – observo o momento. Na vitrina as peças desenhadas por Manish Arora, chávenas de café que contam a história de dezasseis princesas, que representam as dezasseis novas sensações Grand Crus através de ilustrações cheias de cor e significado. Ainda um casal que na troca de sacos detetada a tempo, me fez lembrar o ‘Falling in Love’ de Ulu Grosbard, onde Robert de Niro e Meryl Streep trocam as compras de Natal. Sem acesso ao final da história é já em Camden Town que assisto a três epílogos. Encontro-me no London ShortCutz, uma iniciativa que Rui de Brito teve a genialidade lançar no Bicaense todas as terças feiras em Lisboa. Espaço para realizadores de todas as formas e feitios abrirem as páginas das suas criações ao mundo. A ideia estendeu-se a Londres pela mão da atriz Alice da Cunha e numa sala no Proud Camden, que ocupa um estábulo antigo, acontece o encontro dos livres cineastas.

Na troca das palavras escritas
Perto de Sloane Square marco encontro com a realizadora Cristiana Miranda. Reconhecemo-nos pelo sorriso inconfundivelmente atlântico, numa das salas da Saatchi Gallery. O seu primeiro trabalho de sucesso foi um documentário de três minutos para o Discovery Channel, sobre Dita von Teese, que lhe valeu o reconhecimento do meio e a concretização de novos projetos. Mais do que os inúmeros filmes publicitários para marcas conhecidas, ou videoclips como o ‘The Day Before the Day’ para a cantora Dido, elevo-lhe o talento humano enquanto partilhamos Cesariny. Sentamo-nos no café da galeria e enquanto me descreve como teceu a sua senda do sonho tenho como cenário os vultos que passeiam pelos jardins. ‘Entre nós e as palavras há espaços cheios de gente de costas, portas por abrir que podem tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo’. Trocamos palavras escritas, palavras legíveis e mesmo sem as cordas do violino do poeta, testemunho uma menina mulher que com todo o sangue do mundo, constrói a cidade criativa muito além do azul. Londres é isto. Uma morada onde à mesa do café me cruzo com os seus viajantes. E na memória dos que ainda não conheci, o privilégio de uma cidade inundada de imagens futuras e um grande voo no estandarte que os move. Uma grande bandeira branca desenhada como quem conta uma história e escreve sorrindo, ‘aqui, onde o mundo é a nossa casa’.

coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 18 de Dezembro de 2010

13 dezembro 2010

à mesa do café trocamos palavras l nas minhas e nas tuas mãos



A beleza obriga-me à paragem e os quatro graus negativos suspensos, na Millennium Bridge congelam a certeza de que a minha Leica jamais captaria o momento. Alongo a memória na máquina fotográfica do meu corpo: Londres mostra-se deslumbrantemente cénica.

‘Londres fascina, saio de imediato num mágico tapete colorido e eis-me transportada para a beleza sem sequer mexer um dedo’. Sempre fui fascinada por lojas de museus e sei que elas são também responsáveis pela criarte, na minha missão de elevar o grande legado que é a nossa língua. E se um dia imaginei uma marca de divulgação da língua portuguesa, inspirada nas palavras de Alexandre O’Neill, hoje habito longe dos ‘portugueses saudosistas, que vivem a miséria de uma noite gerada por um dia igual’. Em Londres é muito fácil viver a possibilidade dos horizontes longínquos e enquanto me entrego às opções dos objectos fixo, na Tate Modern um auto-retrato no Bom Jesus de Braga de Martin Parr, um dos fotógrafos da Magnum. O título? ‘Com amor’. Na busca incessante do sentimento, não perco de vista dois postais com registos de Thomas Ruff . Entre o ‘nudez ez 14’ e o ‘Stern, 02h48m, 35º’, não tenho dúvidas, escolho a imagem do Universo. Abandono o museu e a minha essência mais pura ajoelha-se perante o cenário. Na distância do que me separa do cosmos, impresso num postal ou num céu imenso, os flocos de neve misturam-se com os monumentos da cidade e com os viajantes que anseiam o destino. A beleza obriga-me à paragem e os quatro graus negativos, suspensos na Millennium Bridge congelam a certeza de que a minha Leica jamais captaria o momento. Alongo a memória na máquina fotográfica do meu corpo: Londres mostra-se deslumbrantemente cénica.

‘We are London’ é uma campanha espalhada pelas paredes subterrâneas do metro. Convicta de que as cidades serão sempre as pessoas, muitos são os testemunhos às mesas do café. O sorriso generoso de Manuel Soares Garcia, trabalhador na City londrina diz que somos bilingues quando sentimos noutra língua e na distância da sombra de um apelido, Afonso Rebelo de Sousa percorre um caminho excecional na The Brand Union, uma das maiores agências de ‘branding’ do mundo. No cenário por trás dos vidros a neve cai e regista os flocos a caírem nos lindíssimos ferros do Smithfield Market. Testemunho imagens como quem coleciona postais antigos.

Interessante como um filme de Moretti, a mais fascinante loja londrina - a Dover Street Market - foi imaginada pela cabeça criativa da Comme des Garçons, Rei Kawakubo que estudou filosofia, arte e literatura. A fusão das sabedorias transformou-se numa morada de seis andares, onde uma espécie de mercado de várias marcas e criadores (Comme des Garçons, Lanvin, John Galliano, Monocle ou IDEA Books) encontram-se numa atmosfera de ‘caos calmo’ em busca do belo. E se me deslumbro com a genialidade eclética, confesso que quando o grande esteta do Porto, Paulo Lobo, me fez prometer não deixar de visitar este mercado de formas, estava longe de imaginar a cereja no fim do bolo. Enquanto me sento no ultimo andar, para beber café e provar a famosa tarte de aveia e figo na Rose Bakery, sou privilegiada pela visão da pasta medicinal Couto e nesse preciso momento tenho a mesma sensação que teria se um desconhecido me oferecesse flores.

A cremosidade do caramelo, o aveludado da baunilha ou a intensidade doce da amêndoa, os novos Variations Nespresso mostram-se no mais desejado chá de Londres. O Sketch é conhecido pela irreverência, pela estrela Michelin e pelas originais casas de banho, uns ovos cabine diferenciados no interior, pela cor da luz e sons diferentes que percorrem a música clássica ou os sons da natureza. As várias salas de jantar são lindas e paralelamente aos também famosos chás do recuperado Savoy, do Claridge’s e Browns Hotel em Brook Street, a experiência do Sketch é especial. A morada não é novidade para os Londrinos, mas o chá na sala ‘The Parlour’ é um acontecimento na cidade pela excentricidade com que mistura o ambiente com uma pastelaria digna de um cenário francês de Sophia Coppola. Prendo-me à suavidade dos biscoitos amaretti, ao macarron de canela e laranja (o melhor que alguma vez provei), e ao Pommery Brut Royal servido com o melhor café do mundo. Já em ‘East Side’ o restaurante Le Trois Garçons e o bar Lounge Lovers oferecem-me cenários dignos do filme Vatel de Roland Joffé. Depois de muitas casas de jantar habitadas, este é para mim uns dos mais bonitos e melhores restaurantes de Londres.

Na extensão dos dias encontro-me com um grupo de amigos nas elegantes ruas de May Fair e ao lado de Ricardo Araújo Pereira à porta do Clarige’s retenho-me na entrevista que fez há apenas dois meses a António Lobo Antunes. ‘Uma coisa bela é uma alegria para sempre’ memorizou o escritor das palavras de Keats. Também eu devo muito à pintura, à música, aos livros, mas também à sinfonia de Londres. E não falo das notas de música de Vaughan Williams, mas ao ritmo dos que constroem esta cidade. Com temperaturas negativas em Liverpool Street, aguardo o autocarro e misturada com trabalhadores da City, a elegância do verde da Luvaria Ulisses não chega para me aquecer as pontas dos dedos e por breves instantes tenho saudades da brisa atlântica. Não gosto de acreditar no destino, porque me habituei a lutar sempre pelos cumes das montanhas que imagino, mas a espera revela-se na arte do encontro. O ‘bus’ chega finalmente e à altura da fita ‘Sliding Doors’ de Peter Howitt os instantes são decisivos. Ainda mais angelical que Gwyneth Paltrow, os olhos de Sónia Balacó destacam-se da cidade urgente. Foram poucos os segundos que me distraíram para perder o rasto de uma das mais conhecidas modelos portuguesas. Olho para as escadas do autocarro e vejo no cenário a cor do casaco que fixei a mover-se para o segundo andar. Sigo convicta que seria um dos testemunhos interessantes que poderia encontrar em Londres. Percorro o autocarro, rosto a rosto, olhar a olhar e quando me deparo com uma mulher portuguesa que com certeza ficaria muito bem a contracenar com Clooney, apresento-me. Uns dias mais tarde, num café de Broadway Market, Sónia hoje atriz e agenciada pela Curtis Brown, move as mãos, com a mesma consistência com que partilha o que a fez sonhar mais alto. Sophie é a sua personagem na sua primeira longa-metragem ‘I against I’, depois de muitas aulas com os melhores professores do mundo. Também Matilde Travassos, fotógrafa de moda se mudou para Londres por gostar da ‘vontade de excelência’. Com capas na chinesa Vision é a mais nova sonhadora à mesa do café. Uma frescura contrastante com Pedro Alfacinha que um dia se candidatou a um lugar na loja da Steidl e que hoje edita muitos dos seus heróis como Lewis Baltz ou Robert Franc. Ainda no rasto de ‘um brilho de possibilidade’ das imagens de Paul Graham, o testemunho da qualidade dos seres humanos que bebem café como alcançam sonhos.

A cidade move-se depressa e nas concorridas ruas de Oxford acelero a minha intenção de fuga. A minha ideia de Natal não se move pela busca de objetos e há muito que me rendi a amigos secretos. E enquanto me derrubam nas correntes natalícias tenho a certeza, que não há no mundo nenhum embrulho, pelo qual trocaria a experiência desta cidade. Agradeço a clarividência e enquanto as luzes me iluminam os ombros recebo com ternura a importância das palavras distantes. Miguel Costa arquitecto e urbanista no atelier de Norman Foster, licenciado pela Escola Superior Artística do Porto com MA em Housing & Urbanism pela Architectural Association em Londres, bolseiro pela Fundação Mies Van Der Rohe em Barcelona, colaborou em programas de investigação na Universidade de Kassel na Alemanha, de UNAM na cidade do México ou no Berlage Institute, em Roterdão. Trocamos palavras por e-mail há bastante tempo, mas no mês em que vivo a sua Londres, dirige uma equipa para desenhar um edifício do King Abdullah Financial District, em Riyadh na Arábia Saudita. Atento à minha experiência na cidade onde vive há sete anos, mostra-me o atelier de Norman Foster através de um amigo. Confirmo que as pessoas não são substituíveis e na construção das cidades e dos seus afectos, nas minhas e nas tuas mãos, também eu - tal como Keats - não tenho a certeza de nada, a não ser da verdade da imaginação. Londres é uma cidade sem prazo e mesmo no lamento de não percorrer os edifícios e as carruagens londrinas na companhia dos olhos do arquitecto viajante, agradeço as imagens de Walker Evans. Em todas as velocidades visíveis, no final do dia e apesar da celeridade dos silêncios, todos fazemos parte de uma morada tão frágil como o mundo. E na vontade de alcançar toda a beleza, novamente o poder das palavras. Seremos sempre maiores nas ‘asas invisíveis da poesia'.

coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 11 de Dezembro de 2010

06 dezembro 2010

à mesa do café trocamos palavras l viajamos para confirmar a existência do mundo



Londres é uma cidade fascinante e na travessia do ar, abraçada às palavras de Virginia Woolf também eu iria escrever sobre Londres. E hoje, enquanto vos escrevo estas palavras, sei que esta cidade se apoderou da minha vida privada e a transporta nos dias de hoje sem esforço.

O Anjo Mudo de Al Berto ensinou-me que a pouco e pouco nenhum viajante vê o que os outros viajantes veem, o olhar de cada um, sobre as coisas do mundo, é único, não se confunde com nenhum outro. Retenho-me sempre nas suas páginas imaculadas que tanto inspiram as minhas pontas dos dedos. Na véspera da minha partida para Londres encontro-me com um dos meus amigos viajantes e enquanto partilho livros e planos com a mesa do café, trocamos palavras. Na partilha de todas as cidades do mundo, que viajam pelas ruas de Lisboa comovo-me com as histórias do Alfaiate Lisboeta. Lisboa deve-lhe muito. E no momento em que me tira esta fotografia retenho-me de novo nas palavras do poeta, viajamos para confirmar a existência do mundo.

Apanho um táxi para o aeroporto e agradeço o privilégio de apanhar um verde e preto. Ainda imagino ser transportada pela cidade pelas mãos de John Malkovich, mas fico aliviada por saber que estou bastante viva e que não me vão roubar qualquer Volluto. Abandono a cidade com a música do rádio, ‘a gente da minha terra’ e aprecio as mensagens de uma partida. Não acredito num destino que me amarra e por mais que me seja negado, prefiro prender-me sempre às cordas de uma guitarra. Minutos antes da descolagem demorada, a espera conversa comigo e por momentos a minha cidade faz-me prometer um bilhete com regresso. Londres é uma cidade fascinante e na travessia do ar, abraçada às palavras de Virginia Woolf também eu iria escrever sobre Londres. E hoje, enquanto vos escrevo estas palavras, sei que esta cidade se apoderou da minha vida privada e a transporta nos dias de hoje sem esforço. ‘Os rostos passam e reanimam-me o espírito’.

São muitos os viajantes com que me cruzo. Seres humanos que me mostram uma Londres que se estende numa das maiores obras de design de sempre, o mapa do metro londrino. As distâncias são grandes e na companhia de um livro que me mostra a Londres fragmentada de Rϋdiger Görner, confirmo as palavras de Samuel Johnson: quando um homem está farto de Londres está farto da vida. As suas palavras do século XVIII movem-se atuais e enquanto a carruagem volta a partir, com rostos de todas as nacionalidades sinto-me tentada a procurar as personagens aladas das Asas do Desejo de Wim Wenders. Na procura da grandiosidade dos seres humanos sou surpreendida por um dos mais internacionalmente reconhecidos chefes portugueses do momento. Nuno Mendes abandonou Portugal há muitos anos e depois de moradas como os Estados Unidos, Ásia e Espanha, encontra em Londres uma cidade transversal e estimulante. Partilha-me com uma elevada humildade a surpresa com que é mimado pela impressa britânica. Nas suas duas casas de jantar, as mesas são grandes e partilham-se de formas diferentes. No The Loft Project Nuno e Clarisse recebem chefes convidados e clientes, numa mesa única para viver com o desconhecido. O ambiente é de partilha e ao ficar sentada ao lado da primeira mulher árabe a pisar o Polo Norte reconcilio-me com a minha estadia nos Emirados Árabes Unidos. Elham Al-Qasimi traz nos olhos a ternura que nunca encontrei naquelas terras de deserto. Na mesa comprida a missão de Nuno Mendes ganha ainda mais valor quando dou por mim a reconhecer os outros viajantes do mundo. Esta não é apenas uma sala de jantar, é uma mesa onde no sorriso do encontro se vivem emoções. São muito os pratos de degustação acompanhados de vinhos diferentes e há uma forte ligação à natureza. Memorizo o lombo cozinhado lentamente com caramelo, cogumelos silvestres e amoras pretas e a suavidade com que o promissor Alex Mckechnie nos oferece o cocktail mais original que alguma vez provei. Uma mistura de uísque, granitado de chá, café e chocolate servido num vaso de barro e que se confundia com a simplicidade de uma planta num jardim.

No restaurante Viajante, inserido no Town Hall Hotel em East London, Nuno Mendes continua a extensão de uma sala de jantar íntima e o seu talento é vivido com o testemunho de todas as suas memórias e experiências. Com uma cozinha aberta para a sala, as formas e cores escandinavas misturam-se com a generosidade de uma experiência que faz questão de repartir com a equipa de cozinheiros que se movem no palco. ‘Se não repartimos não crescemos’ diz com a mesma suavidade que explica todos os pratos que faz questão de trazer à mesa. A sua cozinha cria emoções. Sensações únicas acompanhadas com vinhos de todo o mundo, onde destaco a qualidade dos ingredientes, os sabores originais servidos em loiça feita à mão por amigos.

Em apenas setes dias ‘as a Londoner’ lembro-me de novo do café onde iniciei esta viagem. São muitas emoções, encontros e experiências que me lembram a ideia de por o Rossio na Betesga destas duas páginas. Ainda não entrei em todas as livrarias, mas sinto-me a desfrutar de uma biblioteca. E nestes dias brancos, onde recordo com a pura neve as páginas de Almada Negreiros, conto os livros que ainda tenho para ler e os dias que ainda terei até ao Natal. Não chegam, não duram nem para uma prateleira da livraria. Mas haverá - tenho a certeza - outras maneiras de me salvar, senão estarei perdida.

The Wolseley
As viagens iniciam-se sempre antes de partirmos. A poucos dias de Londres partilhava a nossa Taberna Ideal com um amigo inglês, com estudos no nobre colégio de Eton. Prometi-lhe o meu primeiro pequeno-almoço no The Wolseley. ‘As refeições mudam com o tempo, com o clima, com a geografia mas o pequeno-almoço continua a ser um ponto constante no mundo. É uma das poucas coisas que é nossa, mas que é também de qualquer outra pessoa’. E tal como imaginava, no primeiro momento de luz, assisti ao encontro dos que se comprometem a viver com muita alegria um novo dia. Não tive coragem para o famoso English Breakfast guarnecido de ovos, bacon, ‘pudding’, tomate, cogumelos e feijões, mas estendi-me aos melhores ‘Eggs Benedict’ que alguma vez provei e as umas ameixas marinadas em laranja e gengibre. E embora este café restaurante exista há poucos anos, o The Wolseley não é um pastiche, mas uma evolução magnífica de um stand de automóveis e de um de um banco. Hoje revela-se como uma das moradas mais sofisticadas de Londres, numa cidade onde sorrisos rasgados privilegiam reuniões de negócios e encontros à volta de uma mesa.

Tate Modern l Gauguin Maker or Mith
Por ser um dos meus museus preferidos de sempre, a Tate Modern emociona-me sempre. Detentora de uma detalhada viagem cronológica exímia e inegável, confesso que nunca me conformei por ter pedido a última Unilever Series de Miroslaw Balka. Talvez por isso cheguei expectante com a exposição ‘Sunflower Seeds’ do artista chinês Ai Weiwei. Mas as memórias têm cheiro e jamais me poderia esquecer da exposição ‘The Weather Project‘ onde há sete anos me fundi com o Sol de Olafur Eliasson. Nesses tempos era possível deitarmo-nos no chão do Turbine Hall e contemplar os tons alaranjados espelhados na imensidão do edifício. Hoje não me foi possível caminhar sobre as sementes de girassol de porcelana (produzidas segundo os métodos tradicionais na antiga cidade de Jingdezhen, na China, famosa pela sua produção de porcelana para a corte imperial). E dizem-me que estava a fazer mal à saúde dos que gostam de caminhar sobre obras de arte. Mas estamos numa cidade livre e criativa, numa cidade onde é fácil atravessarmos continentes como quem atravessa uma simples porta. Por isso na transversal cidade de Londres deixo-me levar pelas cores de Gauguin e ‘fecho os meus olhos, para ver’.

coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 4 de Dezembro de 2010

27 novembro 2010

London here I am



'um dia escreveria sobre Londres.
e de como ela se apodera das vidas privadas e as transporta sem esforço. os rostos que passam reanimam-me o espírito, impedem-me de se fixar como sucede no silêncio de Rodmell'.

dizem que a primeira impresão marca sempre. não que não conhecesse Londres. mas na convicção de que somos almas contínuas, os olhos mais maduros absorvem imagens diferentes. para primeiro dia já percebei a grandiosidade do desafio, de colocar pelas pontas dos dedos, o Rossio na Bestesga. um primeiro dia que durou dezasseis horas e que já me valeu a viagem.

por respeito à morada em papel, apenas começarei a partilhar a cidade por estas linhas, a partir de dia 4, dia da primeira coluna no Diário Económico.

agora,
a cidade que se promete branca
espera-me.

08 novembro 2010

21 outubro 2010

hoje à noite libertam-se sonhos no céu de Lisboa



foi há um ano que tive o privilégio de viver a minha montra viva no Príncipe Real Live. e recebo com ternura do meu amigo alfaiate um comentário no post do escritório vivo, um ano depois.

mesmo não me envolvendo directamente na acção, continuo a trazer colados à pele os poemas de Al Berto e lançarei o meu desejo mais profundo, numa das grandes novidades do evento, os sonhos libertados no céu de Lisboa.

a explorar aqui.

28 setembro 2010

Porto, a cidade que incendeia


‘seus olhos – se eu sei pintar o que os meus olhos cegou – não tinham luz de brilhar, era chama de queimar; e o fogo ateou vivaz, eterno, divino, como facho do destino. divino, eterno! – e suave ao mesmo tempo: mas grave e de tão fatal poder, que, um só momento que a vi, queimar toda alma senti… nem ficou mais de meu ser, senão a cinza em que ardi’.




Com as intensas palavras de Almeida Garrett regresso ao Porto feliz pelas futuras descobertas. E quando o escrevo não o faço apenas por ser mais uma das nossas mais bonitas cidades, mas porque sempre que toco o postal do Porto apaixono-me de olhos abertos pela proximidade das margens do rio, ou por um dos finais de tarde mais bonitos do mundo.
Numa das ruas mais interessantes da Baixa Portuense, onde se exibe o café da Brasileira e depois de cento e vinte e dois anos do incêndio no desaparecido Teatro Barquet, o Hotel Teatro que ocupa o mesmo espaço estende a Rua Sá da Bandeira a um acto onde os panos se abrem ao primeiro design hotel da cidade e a um Porto cada vez mais extraordinário. Altivo, o projecto arquitectónico tem um traço contemporâneo sem ferir a estética dos edifícios da Baixa e os interiores intimistas a cargo da sempre surpreendente Nini Andrade Silva, preservam a alma de uma morada que homenageia o mundo do espectáculo. E na importância de que as cidades serão sempre as pessoas, o Hotel Teatro recebe as minhas palmas pela equipa, que mesmo com setenta e quatro quartos, não se desprende da missão do acolhimento familiar e a simpatia que se move vestida de tecidos fluidos. O restaurante ‘Palco’ candidata-se a ter o mesmo movimento que em Lisboa encontro na Brasserie do Hotel Tivoli ou no Flores do Hotel do Bairro Alto. E com a mais-valia de um restaurante que já conquistou o centro da cidade, o hotel ilumina-se em detalhes deliciosos, ao lado do poema de Garrett gravado na porta de entrada: o ‘lobby’ lembra-me antigas bilheteiras de cinema e o imponente espelho de do lavabo da recepção transportam-me a um espelho de camarim. Divididos em Gallery, Tribune, Audience, Suite Junior ou Suite, destaco os trinta e sete metros quadrados do Audience pela dinâmica estética do quarto e as suites onde banheiras com pés sugerem banhos espectaculares. O Hotel tem ainda um ginásio com uma vista agradável para as ruas da cidade e um terraço situado no coração do edifício, que além de ser mais uma homenagem à natureza artística do hotel, elevam a expressividade do teatro. Numa morada onde vale a pena pagar para ver e sentir, o Hotel Teatro não é nada menos do que mais ‘um fósforo para o milagre do fogo’, numa cidade onde me sinto sempre incendiada.
Hotel Teatro
Rua Sá da Bandeira, 84 Porto
Tel. 220 409 620
http://www.hotelteatro.pt/

‘A cidade também nos constrói e nos dá sentido’
Incendiada ainda pela estética e pela poesia é agora urgente descobrir o Porto, uma cidade que me fascina pelo entusiasmo assertivo e ambicioso, na construção de espaços sempre tão singulares. Estou em cima da hora para almoçar com o amigo senhor, que em tempos entrevistava por estas páginas e na correria das saudades chego a tempo à acolhedora Taberna do Bonjardim, na rua do mesmo nome.


Caixas de vinho em madeira a revestir a parede, pratos pendurados, cores, quadros e candeeiros a evocar outras épocas, ou escritos a giz sobre lousa, acompanham a variedade de petiscos caseiros num serviço que demorado se revela compensadoramente atencioso, não estivéssemos nós na terra da simpatia.
Solto-me de seguida pelas ruas da cidade e consigo finalmente entrar na Casa de Ló na Travessa da Cedofeita. Com tantas tentativas passadas de a encontrar aberta, jamais estaria preparada para a desilusão da viagem, ao descobrir um potencial imenso entregue ao desmazelo das vitrinas, à falta de produto ou ao ar sujo da apresentação da loja. Um espaço soberbo e carismático onde se pode comprar o mítico Pão-de-ló da Casa Margaride, distraiem a minha exigência pelas nossas queridas cidades e fazem-me oferecer os meus gratuitos serviços de consultoria, em proveito de gestos tão simples como elevar ao máximo um espaço que tem para ser extraordinário. Saio triste e no mergulho nas minhas notas e destinos procuro ansiosa a esquina da Rua da Conceição com o Largo Mompilher. Encontro o Café Candelabro, que nasceu num antigo alfarrabista e que em homenagem à vida do meu pai dedicada aos livros, me devolve as emoções felizes ao deliciar-me com o chão preservado, os livros espalhados pelo café ou as montras muito bem conseguidas, onde máquinas de escrever glorificam o nome do meu blog.



Cheio de portuenses que relaxam e gozam o ‘wireless’ oferecido entre torradas e compotas, cadeiras vintage, estantes com livros de fotografia, cinema, teatro ou artes plásticas fazem-me beijar de coração cheio a magia do Porto.
Na continuidade da elevação das palavras, elevo-me no testemunho de Helder Pacheco, no Café 3C.E se ‘o Porto, cidade, somos nós, as pessoas, (mais a nossa cultura, que construiu e lhe deu sentido), a cidade somos nós, com a memória que dela mantemos e a asa de futuro que queremos para ela’.


Rendo-me assim a uma cidade profunda e cosmopolita, onde um restaurante bar se revela através de antigos contentores de carga e frases soltas nas paredes. Marco o encontro sempre obrigatório com a Livraria Lello na Rua das Carmelitas e por boa energia apanho aberto a meio da tarde o bar ‘Era uma vez no Porto…’, que no meio de livros e paredes forradas a papel revelam uma prometedora atmosfera alternativa.


Ainda à procura da memória de outros tempos, desloco-me agora para o primeiro andar do número vinte da Rua Galeria de Paris, para descobrir o que a Catarina Portas fez por cá. Linda a loja como seria de esperar (obrigada Catarina pela mestria com que propões o carisma de Portugal ao mundo), saí determinada a escrever nestas linhas, a minha opinião sobre os Armazéns Fernandes Mattos, que antecedem o rés-do-chão e são passagem obrigatória à Vida Portuguesa.



Não sou complacente com a fraca escolha de selecção do artesanato e com toda a ousadia atrevo-me a sugerir que ofereçam de bandeja o vosso piso térreo à loja de cima. Tenho dito. Haja então ainda tempo, para tratar da minha irritação no Café da Galeria de Paris enquanto se toca piano ao vivo. Somos poucos a esta hora do dia e talvez por isso as velharias e brinquedos que se exibem nas vitrinas do café bar (que é já uma cartão-de-visita do Porto) me transportam a uma viagem por momentos sem regresso: esta cidade é um espanto.


Na procura de mais beleza e na direcção do bairro da arte ganho a viagem, quando descubro que a Rota do Chá ocupa agora o edifício todo ou que as roupas do Quarto de Cima trocaram o primeiro andar da Casa Almada pelo bairro da Miguel Bombarda.





Ainda a tempo de acompanhar esta cidade onde a cada bom dia me chamam de ‘menina’ remato com chave de ouro na Ribeira, com um jantar descontraído no Pimm’s. A espontaneidade de uma cidade do mundo recorda-me os meus três anos de vida em Amesterdão quando uma mesa de holandeses pergunta-me pelo Porto oferecendo-lhes a sorte grande.


Abandono o cenário da cidade, num restaurante com um serviço raro nos dias de hoje, onde o ambiente de brancos escandinavos e um bacalhau com broa extraordinário me confirmam a gratidão de voltar muitas vezes a esta cidade. Despeço-me com saudades das românticas gaivotas nos Aliados e na eloquência das palavras de Pacheco memorizo que ‘a cidade é um grande, um vasto objecto das emoções dos sonhos, ternuras e desesperos que fazem a vida. Um lugar onde nascemos ou vivemos, a cidade também nos constrói e nos dá sentido e por isso deveria ser cuidada (…) com amor’.
No caso do Porto, não há margem para dúvidas.

moradas
3C Café Club
Rua Cândido dos Reis, 118 Porto
Tel. 222 018 247
www.clube3c.pt
A Vida Portuguesa
Rua Galeria de Paris 20, 1º Porto
Tel. 22 202 2105
www.avidaportuguesa.blogspot.com
Café Candelabro
Rua da Conceição, 3 Porto
Tel. 96 698 4250
www.cafecandelabro.com
Casa de Ló
Travessa de Cedofeita 20A, Porto
Era uma vez no Porto…
Rua das Carmelitas, 162, 1º Porto
Tel. 222 022 240
Galeria de Paris
Rua Galeria de Paris, 56 Porto
Tel. 934 210 792
Pimm's Café Restaurante
Rua Infante Dom Henrique, 95 R/C Porto
Tel. 222 015 172
www.pimms.com.pt
Quarto de Cima
Rua do Rosário, 154 Porto
Tel. 222 010 149
Rota do Chá
Rua Miguel Bombarda, 457 Porto
Tel. 220 136 726 / 914 394 027
www.rotadocha.pt
Taberna do Bonjardim
Rua do Bonjardim, 450 Porto
Tel. 222 013 560

25 setembro 2010

no elevado sentido de existência



não me surpreendo. mesmo sentindo-me sempre magnânima entre as cidades é ligada à natureza que limpo 'a morte dos dias'. e enquanto esgravato a terra das Beiras, não apenas com as pontas dos dedos, mas com as mãos abertas - ligada ao universo - sinto a morada onde tudo começa. a humidade escorre-me entre os dedos e o aroma impossível em cidades atlânticas, estende-me a certeza do tão elevado sentido de existência.

hoje, 'tudo me prende à terra onde me dei'.

10 setembro 2010

mais elevações Nespresso



numa fuga de fim-de-semana onde espero fundir-me com a natureza, abandono a cidade com a mala de viagem pesada de revistas desejadas. e na senda do desejo uma sombra de uma árvore ou um silêncio mais puro para a absorção das páginas soltas. hoje abandono a cidade à pressa, depois da apresentação da nova edição da Nespresso e deixo-vos a sugestão de apanharem a edição número catorze da revista desta marca que numa edição dedicada à cidade das luzes, se apresenta numa imagem extraordinária e conteúdos prometedores.

mais elevações Nespresso, em breve nas minhas páginas sobre a cidade.

30 agosto 2010

Porto alto


regresso à minha cidade inundada da excelência a que o Porto me elevou. tudo isso e a extensão de um orgulho maior, não apenas pelas novas moradas que trago comigo, mas pela dádiva das margens da ribeira, onde num postal de fim de tarde poderia morrer abraçada a um dos cenários mais bonitos do mundo.

26 julho 2010

gelatatui


para ter o privilégio de entrar no laboratório (sim, de fábrica nada tem) do Santini faço quase tudo. inclusivamente levantar-me antes das sete da manhã, para vestir o belo modelinho, num dia em que nem a brisa salva o andar atlântico.

brevemente numa das minhas páginas sobre a cidade.

13 junho 2010

santos populares, primeiro prémio


fica na Pampulha e é delicioso.

21 maio 2010

na impossibilidade da imaginação concretizada



não foi há muito tempo que escrevi este post. na impossibilidade da imaginação concretizada, a salvação chegou-me através de uma viagem de CS-HGH, um helicóptero do TTC Group. A acção colocou Lisboa a meus pés numa manhã bem passada em Tires, com acções da Nespresso, Montblanc, e o exemplar serviço da Cateri. Em breve numa das minhas páginas sobre o abraço a esta cidade.







19 maio 2010

'a instituição'

para quem não apanha o Económico TV como eu (imperdoável não estar ainda na grelha do meo) aqui deixo as palavras da Mafalda com a certeza de que não há famílias perfeitas, nem há homens permanentemente felizes.

18 maio 2010

o regresso III


depois deste post e a breves dias de voltar à floresta,

I went into the woods because I wanted to live deliberately. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life...to put to rout all that was not life; and not, when I came to die, discover that I had not lived.

mais sobre a campanha da Dedon aqui e Bruce Weber aqui.

17 maio 2010

'escuta-me'



Escuta-me porque hoje não consigo ser irónico. Escuta-me, é sério. Há décadas que andamos nisto, a marcar passo, a assobiar para o lado, somos funcionários do comodismo e cúmplices da trafulhice. Mentem-nos e nós calamos. E um povo de cordeiros terá sempre um governo de lobos. Eu percebo e aceito que temos agora de pagar mais impostos, que os preços vão subir e os salários descer. Mas era preciso chegar até aqui? Era preciso ter a alma, e não apenas o bolso, exangue? Era preciso, durante anos, colaborar com os chico-espertos, os sucateiros, os empreiteiros, os autarcas mafiosos, os ministros desonestos e com reformas milionárias, os banqueiros chupistas e burlões, os traficantes de influências, os empresários que declaram salários mínimos e conduzem Mercedes, os funcionários parasitas e os políticos dissimulados? Era preciso ter um primeiro ministro que nos mente sem pudor? – há menos de um mês disse, no parlamento, que não ia aumentar impostos. Era preciso um governo cobardolas que aproveita a distracção com o Papa – que nos custou milhões de euros e uma tolerância de ponto – para anunciar que estamos entre a espada e a parede? Era preciso um presidente que diz, no santuário de Fátima, “Entendo que não devo fazer qualquer comentário sobre a vida político-económica portuguesa”? Eu sei que temos culpa, que nos comportámos como novos ricos sendo o país pobre, que andámos dormentes. Fomos sempre desinteressados, mansos, totós, egoístas. E hoje estamos de espírito vergado. Temos o que merecemos? Começo, com tristeza e revolta, a acreditar que sim.

publicado a 13 de Maio na crónica diária do viajante, no jornal i

30 abril 2010

use only in times of crisis or invasion



o andar atlântico surpreende-se com o seu significado.

In the Spring of 1939, with war against Germany all but inevitable, the British Government's Ministry of Information commissioned a series of propaganda posters to be distributed throughout the country at the onset of hostilities. It was feared that in the early months of the war Britain would be subjected to gas attacks, heavy bombing raids and even invasion. The posters were intended to offer the public reassurance in the dark days which lay ahead.

The posters were required to be uniform in style and were to feature a 'special and handsome' typeface making them difficult for the enemy to counterfeit. The intent of the poster was to convey a message from the King to his people, to assure them that 'all necessary measures to defend the nation were being taken', and to stress an 'attitude of mind' rather than a specific aim. On the eve of a war which Britain was ill-equipped to fight, it was not possible to know what the nation's future aims and objectives would be.

At the end of August 1939 three designs went into production with an overall print budget of 20,600 pounds for five million posters. The first poster, of which over a million were printed, carried a slogan suggested by a civil servant named Waterfield. Using the crowns of George VI as the only graphic device, the stark red and white poster read 'Your Courage, Your Cheerfulness, Your Resolution will Bring Us Victory'. A similar poster, of which around 600,000 were issued, carried the slogan 'Freedom is in Peril'. But the third design, of which over 2.5 million posters were printed, simply read 'Keep Calm and Carry On'.

The first two designs were distributed in September 1939 and immediately began to appear in shop windows, on railway platforms, and on advertising hoardings up and down the country. But the 'Keep Calm' posters were held in reserve, intended for use only in times of crisis or invasion. Although some may have found there way onto Government office walls, the poster was never officially issued and so remained virtually unseen by the public - unseen, that is, until a copy turned up more than fifty years later in a box of dusty old books bought in auction.

Shop owners Stuart and Mary Manley liked the poster so much that they had it framed and placed near the till in their shop. It quickly proved popular with customers and attracted so many enquiries that Stuart and Mary decided to print and sell a facsimile edition which has since become a best-seller, both in the shop and via the internet.

The Ministry of Information commissioned numerous other propaganda posters for use on the home front during the Second World War. Some have become well-known and highly collectable, such as the cartoonist Fougasse's 'Careless Talk Costs Lives' series. But ours has remained a secret until now. Unfortunately, we cannot acknowledge the individuals responsible for the 'Keep Calm' poster. But it's a credit to the nameless artists that, long after the war was won, people everywhere are still finding reassurance in their distinctive and handsome design, and the very special 'attitude of mind' they managed to convey.

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