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29 setembro 2011

Vogue l Saída de Emergência l habitar a cidade




Os corpos movimentavam-se suados. Lisboa feminina numa noite quente de Outono, expunha-se através dos deslocamentos das peles com sede. Sede de cultura, sede de vivências, sede de pessoas.

continue a ler a Saída de Emergência aqui.

três anos de um dos melhores cafés da cidade



o Kaffeehaus fez três anos e ontem em privado Lisboa aconteceu aclamada por todos os viajantes de mundo que tanto investem na minha cidade. apaixonados pelas ondas do Atlântico os austríacos Christoph e Konrad fizeram deste café um os mais cool do Chiado.
Lisboa agradece a extensão de mundo.

28 setembro 2011

como o movimento silencioso das algas


tal como as casas em construção,
é quando os amigos partem que recolho com a beleza do mundo o mais importante das nossas vidas sempre tão fugazes. a importância das mesas desconstruídas, onde com as migalhas ecoam ainda o rasgar dos sorriso de uma noite de verão. a partilha de um dia improvável, a mistura de almas distantes e desconhecidas, que se misturam em fermentação como um bom vinho nascido das vinhas de Lagido.

e há um momento em que as paredes brancas se iluminam. depois da porta fechada e das velas que se vão apagando, elevo as palavras de um dos meus maiores mestres.

hoje 'adquiri um andar flutuante - como o movimento silencioso das algas. um andar oceânico.

27 setembro 2011

a revolução dos pastéis de nata



os nossos pastéis de nata já podem ser resgatados no 37 da Rue do Roi de Sicile em Paris. mais aqui.



e como se isso não bastasse, os Pastéis de Belém associaram-se à candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade com o lançamento de uma edição especial ilustrada por André Carrilho. mais aqui.



the letter



'através das palavras, só conseguimos transmitir dez por cento daquilo que queremos comunicar'.

26 setembro 2011

verbo ir



viajamos para confirmar a existência do mundo.

25 setembro 2011

de uma segunda pele



é nesta Lisboa que eu gosto,
que num único dia me deixa mergulhar no Atlântico nos primeiros dias do Outono, que me estimula com uma feira vintage na rua principal do Lx Factory, que enche um dos meus jardins de eleição no ultimo dia de Out Jazz, num verão que insiste em não partir.

é nessa mesma Lisboa
que ao folhear a Monocle, marco encontro com o verde que também é azul, de uma segunda pele que não me distância
do êxtase que esta cidade me dá
cada vez que habito um dos seus dias.

23 setembro 2011

Vogue l Saída de Emergência l a todos os viajantes de mente




Da ilha que me mostrou talvez o estado de humanidade mais puro que tinha vivido no nosso pedaço de terra, voo com as asas largas ao encontro de um português que me privilegia com um enorme sentido de partilha de mundo.

continue a ler a Saída de Emergência aqui.

20 setembro 2011

o que é que esta ilha tem?



peço desculpa pelo silêncio,
mas resolvi perder o avião de propósito para ficar mais cinco dias.

a sério o que é que esta ilha tem?

16 setembro 2011

Vogue Saída de Emergência l Há uma coisa muito bonita que é a sedução




O meu coração encheu-se quando soube da notícia. De todos os sonhos que ainda tenho para a minha cidade, juntar dois projectos tão sublimes, como a editora Babel e o espaço Fabrico Infinito, no Príncipe Real, é como um abraço demorado, daqueles que ficará para sempre nos aromas da memória.

Aos livros, estendo muito do tempo que passo na minha companhia e, nas suas páginas cheias de sabedoria extensível, abraço na minha essência mais centrada o que mais os caracteriza: eles são os meus amigos silenciosos.

continue a ler a Saída de Emergência aqui.

12 setembro 2011

GQ l Na importância do silêncio








Viver os Açores é viver Portugal em forma de sonho. Um sonho que Sophia de Mello Breyner registou para sempre como um pedaço de terra onde o mar é maior. No arquipélago onde o mar é maior os seres humanos tornam-se mais humildes, perante a grandeza da dispensável mão do homem. Num verão onde somos mais do que nunca chamados à nossa identidade, como humanos e como país faz mais do que sentido descobrir umas das mais bonitas ilhas do mundo. Nos Açores crescem as Bellis Azorica, também conhecidas por margaridas, a espécie protegida pela Convenção de Berna e pela Directiva Habitats é única na terra.

Nos Açores crescem os melhores e mais genuínos ananases portugueses, que produzidos em estufas de vidro e utilizando técnicas de cultivo tradicionais, demoram dois anos até serem colhidos. Nos Açores há calçada portuguesa com certeza, mas são utilizados seixos pretos e brancos do Atlântico em vez de pedras calcárias. Nos Açores já bolo levedo quentinho que nos permite sensações de veludo. Nos Açores e de cultivo junto ao mar crescem as cepas de verdelho, espécie referida por Leon Tolstoi no livro Guerra e Paz protegidas como Património da Humanidade.

No melhor destas ilhas Atlânticas intocados há lugares que elevam Portugal ao nível de qualquer viagem de sonho que muitas vezes desejamos por esse mundo fora, mas com uma diferença: não estamos a horas largas de avião e estamos em território onde a língua nos aproxima à nossa mais bonita e humilde identidade. Mais ainda, a viagem é uma elevação à natureza, num início de um século que nos diz ser urgente conectar com a nossa essência. E assim de repente, num tempo como este em que vivemos em transformação interior, não me lembro de mais nenhum lugar que possa ser mais magnânimo para uma viagem sagrada como essa.

Na ilha de São Miguel, a Lagoa das sete Cidades e a Lagoa do Fogo dispensam as minhas palavras jamais suficientes. Eu rendo-me sempre mais à segunda e peço-vos para não abandonarem a ilha sem fazer uma caminhada dentro da cratera já que a experiência é um dos corações mais sagrados da ilha. De Ponta Delgada e a caminho da Lagoa do Fogo, os lofts e apartamentos do Pico do Refúgio são um dos lugares mais apetecíveis para fazer desta a sua morada. A sua localização em Rabo de Peixe e a sua estrutura fortificada tiveram um papel importante na vigilância da costa, contra corsários e mais tarde nas lutas liberais, como forte de milícias. Em tempos cultivou-se chá, laranjas e foi a casa de campo do pintor e escritor Luis Bernardo Ataíde tal como, mais tarde, residência e fonte de inspiração da escultora Luisa Constantina. Com vinte hectares à disposição, em parte inseridos na reserva ecológica regional, misture-se com a agricultura (há produção de compotas caseiras desde o cultivo dos próprios frutos), observe aves, dê longos passeios a pé, relaxe na piscina inserida no meio da natureza ou de jante sobre árvores à luz das velas. Bem perto do Pico do Refúgio pode ainda surfar na praia de Santa Barbara onde se realiza anualmente o Campeonato Nacional de Surf.

Na extensão das águas pode tomar banhos de mar com águas a mais de quarenta graus. A experiência sensacional acontece nas Termas da Ferraria, integradas no monumento natural regional do Pico das Camarinhas, uma zona de protecção da natureza composta por varias estruturas de origem vulcânica de grande valor paisagístico. ‘Este acontecimento geológico é anterior ao povoamento da ilha de São Miguel e teve origem numa erupção estromboliana que construiu um cone de escórias e originou uma escoada de lava que desceu pela arriba em direcção ao mar e construiu uma fajã lávica. A entrada desta corrente lávica no mar, gerou uma explosão freática, que por sua vez criou uma estrutura vulcânica em forma de cone, encimada por uma cratera. Não sendo uma cratera comum, por não estar associada a uma chaminé vulcânica de cuja profundidade viria o magma, esta cratera é cientificamente designada de pseudo-cratera e é considerada, pela sua singularidade e beleza, um Geomonumento a preservar. Mas para além da sua beleza e interesse científico, o lugar da Ferraria tem outra grande riqueza: as suas duas nascentes de águas termais de origem vulcânica que aquecem as piscinas naturais da Ferraria e abastecem o seu complexo Termal’. As qualidades terapêuticas das águas termais levaram a que se tornasse um local de culto desta ilha atlântica.

Nos restaurantes de São Miguel destacam-se o Colégio 27 e o Gato Mia. O primeiro tem morada num antigo estábulo e numa antiga fábrica de sal, onde Michael Smith construiu um dos lugares mais desejados de São Miguel. Um dos melhores sítios para se jantar a ouvir jazz muitas vezes ao vivo, na companhia de uma cozinha com influências francesas, escandinavas e de fusão. O Filet Mignon, o Carneiro assado, a tosta tradicional de camarão, a Salada Caeser, o salmão da Noruega marinado com molho de mel e mostarda, a sopa de lagosta e para sobremesa, a tarte de pêra com molho de baunilha ou os morangos flambé confirmam uma cozinha internacional. No Gato Mia a honra da casa é feita pelas iguarias açorianas, num ambiente contemporâneo de riscas coloridas em contraste com o rústico. Rasgado por janelas com vista para o jardim, onde se destacam as petúnias, a morada é ideal para se deliciar com uma das melhores ofertas gastronómicas dos Açores. Bacalhau na chapa com migas, espadarte grelhado com manteiga de alhos, Naco de atum regional com crocante de azeitona, Plumas de porco preto com migas de bacalhau, ou o desafiante Bife de lagarto grelhado são muitas das tentadoras sugestões que não ficam atrás do delicioso pudim de mel.

A segunda maior ilha e uma das mais bonitas do arquipélago, oferece-nos o testemunho da mais magnânima montanha portuguesa. Na ilha do Pico a beleza do silêncio é ainda maior. Situado na zona protegida da Vinha do Pico, classificado como património Mundial pela UNESCO, o sítio de excelência para sonhar na ilha é o Pocinho Bay. Com uma vista para a baia idílica, rodeado de elegância e excelentes conceitos estéticos, a decoração de design contemporâneo transpira a simplicidade dos Açores em estado puro, aliado a uma imensa elegância espontânea. O ambiente exterior é tão encantador como o interior, uma vez que fica situado mesmo à frente da baía com praia e com vista para a ilha do Faial. Pode optar-se por dar passeios pedestres por aquela região contemplativa ou se quiser relaxar na piscina ou acabar o dia na praia. Será esta a ilha ideal para observar cetáceos, mergulhar com golfinhos ou fazer uma viagem interior até ao cume do Pico.

Num extremo mais ocidental e num planalto sobranceiro ao Atlântico, a natureza guarda como um míudo guarda um tesouro um dos seus maiores mistérios, a Aldeia da Cuada. Abandonada nos anos sessenta quando os seus habitantes emigraram para a América, a aldeia foi recuperada estabelecendo um lugar à medida do isolamento da Ilha das Flores. Numa viagem entre o passado e o presente e com um enorme respeito à traça rural das casas de pedra a Aldeia da Cuada oferece-nos uma experiência de natureza pura que nos funde com o aroma fresco dos Loureiros e o doce perfume da Cana Roca. Aqui a tranquilidade nos Açores é total, sempre na companhia do canto dos pássaros que acompanham a ilha e que nas palavras aquáticas de Vitorino Nemésio, transportam os humanos a uma ‘vontade de uma verdade sempre mais pura’.

Agenda de bordo
www.sata.pt
www.visitazores.org
www.acores.com

Pico do Refúgio
Roda do Pico 5, Rabo de Peixe, Ribeira Grande, São Miguel
Tel. 296 491 062 www.picodorefugio.com
Termas da Ferraria
Rua Ilha Sabrina, Ginetes, São Miguel
Tel. 296295669
www.termasferraria.com
Seg a Dom 10h – 19h

O Colégio 27
Rua Carvalho Aráujo 27 - Ponta Delgada, São Miguel Açores
Tel. 296 288 930
Ter a Dom 12h – 15h e das 19h – 23h

O Gato Mia
Rua Fulgêncio F. Marques, 13, Ribeirinha, Açores
Tel. 296 479 420
Quar a Seg 12h – 15h e das 19h – 23h

Pocinho Bay
Pocinho Monte, Madalena, Ilha do Pico
Tel. 292 629 006
www.pocinhobay.com

Aldeia da Cuada
Ilha das Flores
Tel. 292 590 040
www.aldeiadacuada.com

artigo publicado na GQ de Setembro de 2011

11 setembro 2011

a arquitectura dos movimentos



a arquitectura dos movimentos, a fluidez dos corpos, a sensualidade da pele
as formas intensamente simples. a imensidão de Wim Wenders e a sensação de que quando alguém nos toca no pulso, as nuvens ficam imóveis.

esmagante. obrigatório.

first Lacoste from Felipe Oliveira Baptista


aqui fica a minha eleição da primeira colecção do nosso Felipe para a Lacoste.
mais 'puzzle of womans' e 'french chic allure' aqui. amei o french accent ;-).


10 setembro 2011

a cidade na ponta dos dedos l no regresso à cidade



Um corte de cabelo num dos salões iconográficos de Lisboa, uma cafetaria para assimilar as energias da terra e uma sugestão ‘detox’ para uma reentrada em grande força.

Solte-se pelos cabelos
Depois dos cabelos ao vento livre-se do velho para dar lugar ao novo. No regresso à cidade, um dos mais bonitos salões de Lisboa, o Le Salon - com morada um apartamento de pé alto enorme na Avenida da Liberdade e forrado a estuques - recebe com nova gestão um dos mais carismáticos artistas do cabelo de Lisboa . Carlos Santos Silva, habituado a cortar alguns dos cabelos mais ilustres da cidade promete retirar o desgaste das férias e renovar energias em grande estilo.
Le Salon
Av. Liberdade 262 R/C Esq. Lisboa
Tel. 213 562 057 Seg a Sáb 9h30 – 20h

Por nós e pela Mãe Natureza
Associada aos supermercados biológicos Brio, a grande missão da nova cafetaria do Lx Factory é regressar às origens, oferecendo uma alimentação com base nos frutos da terra. Com cereais, legumes e frutas e outros produtos cem por cento biológicos acontecem receitas à moda antiga: sopas, saladas, crepes, tarteletes, ‘tartines’, sumos, empadas, tortilhas, sanduíches e sobremesas que prometem sabores autênticos, sem corantes nem conservantes. Já abertas as cafetarias de Alcântara e Carnaxide, este mês inauguram também no Chiado (cafetaria), no espaço Amoreiras (cafetaria e restaurante) e no Estoril (restaurante).
Origem
Lx Factory
Rua Rodrigues Faria, 103 Lisboa
Tel. 968 098 201
www.origem.org
10h - 20h

Programa ‘detox’ em três dias
Com morada na emblemática Merendinha, que se tornou famosa pela mais deliciosa limonada do Chiado, a Liquid - pioneira em Portugal na arte do “juicing”, reconhecido por assegurar um acesso rápido aos nutrientes necessários a uma saúde de ferro, ajudando à prevenção de inúmeras doenças, como as cardiovasculares, neurológicas e oncológicas - preparou um programa de três dias para limpar as desgraças do verão e preparar energias. Os ‘shots’, sumos e ‘smoothies’ são entregues esteja onde estiver, num prazo de trinta minutos após a sua elaboração, garantindo assim que não perdem as suas propriedades nutritivas.
Liquid Detox
Rua Nova do Almada, 45 A
www.liquid.pt
Tel. 913 122 334
Seg a Sáb das 8h às 19h
€ 95, todas as refeições do dia incluídas

artigo publicado na revista Única do Expresso a 3 de Setembro 2011

frase da noite



'forget regret or life is your to miss'.

mais aqui, aqui e a estrondosa voz de Idina Menzel aqui.

08 setembro 2011

Vogue l Saída de Emergência l Viver o Sagrado a 264 km/h



fotos aqui.

Enquanto reúno no coração os meus melhores sentimentos, um pássaro decide pousar na varanda da minha janela atlântica. E não hesito, enquanto sorrio com humildade. Será possível transformar em palavras esta experiência?

A ideia perseguia-me há tempo, mas a vida tem este esplendor inexplicável de nos por a apanhar as carruagens mais certas nos momentos mais precisos. Com tudo planeado, não ia sozinha para Évora, mas o não ser refém dos males entendidos do mundo, mostrou-me que esta viagem teria apenas a minha única companhia.

Rasgo a auto-estrada e a exigência do meu 2011 corre-me nas veias. Plena de que na nossa vida não devemos perguntar ‘porquê’, mas apenas ‘para quê’, animais esvoaçantes inundam o habitáculo do carro que pulsa também a minha velocidade. As borboletas partem das minhas entranhas mais profundas e chegam até ao paraíso de uma ilha deserta ou mesmo à incerteza deliciosa do desconhecido. Recebo por mensagem 'ordem para gozar' e envolta numa agradável ansiedade a delinear-me os movimentos estaciono no Aeródromo Municipal de Évora.

Com os pés no chão e com a verdade que defende o meu ser humano mais completo, não me escondo na evidência mais transparente de todas: estava silenciosamente agitada. A Paula, hoje a tomar conta da Skydive, dirige-se a mim, como se não tivesse importância nenhuma ter trocado o dia do voo, para um dia antes. Doce e envolvida numa aura rara de quem se move como se nada a atingisse, rasga-me o pensamento do que teria esta mulher vivido, para agir com tanta serenidade perante os passageiros nervosos que se aproximavam. Protegida por uma energia de luz, mostrava-se como uma mulher a quem o processo da vida já a elevou a um ser humano mais alto, com uma luminosidade que descongelava qualquer receio do dia.

A pioneira Skydive Portugal existe em Évora desde 2007, e se hoje se salta tanto de pára-quedas em Portugal, o rasgo visionário chegou pelo voo de um homem empreendedor. Eddy era um homem franco de sorriso jovem, um homem sem medo de arriscar em tudo naquilo que acreditava. E essa magia sente-se quando somos acolhidos por todos os seres humanos que constroem esta empresa atmosférica. Pela beleza recolhida do dia, imagino que na sua partida (Eddy abraçou para sempre a beleza do céu no verão de 2009 num acidente de avião na companhia do pára-quedista João Silva) deixou dois filhos lindos entregues à serenidade de Paula, mas também um grupo de instrutores, pára-quedistas e sorrisos que me recebem como tanta genuinidade, que não tenho dúvidas: estou no seio de uma família.

No movimento da gare, retenho-me na enorme imagem sueca de Jorge Grade, um dos grandes atletas do pára-quedismo português. Paula apresenta-me o Faustino, o braço direito do todo o legado deixado por Eddy e sossega-me por ser uma das pratas da casa, o director técnico da Skydive. A caminho dos cinco mil saltos, Faustino é um dos nossos melhores pára-quedistas de
free-fly e se julgam que a vida deste ser humano se resume a isto, que se desenganem os menos ambiciosos. Carlos Faustino gere uma empresa em Lisboa e entrega-se de corpo e alma, quatros dias por semana a realizar sonhos dos seres humanos que teimam em abrir asas.

Esta entrega fervorosa, não o deixa talvez ter o mediatismo que lhe era merecido, mas um dos mais experientes
jump flyers do país, o homem que me ia fazer voar é nutrido de uma abordagem ousada. No meus olhos sublimava-se um homem, que transporta com enorme responsabilidade o crescimento de um legado que não pediu por herança. Não é assim tantas vezes a vida, estar à altura do que nos acontece com uma dignidade que será sempre maior em silêncio? Longe dos holofotes de qualquer meio de comunicação social ou patrocínio de bebidas que nos fazem voar, Carlos Faustino salta de onde quiser na calada na noite, mas neste dia, entregando-me nas suas mãos, abriria as asas do meu salto para a vida.

Com uma espontaneidade de criança, o homem-pássaro alinha em tudo o que lhe peço, incluindo o capricho de saltarmos vestidos de amarelo, uma cor que decidi colar à pele desde que o ano presente me decidiu tirar a rede.

Apresentam-me o Nuno, o pássaro-homem que ia registar ao vivo e a cores o meu voo. Nuno Lobo Paulo é atleta da Selecção Nacional de Pára-Quedismo, o projecto Atmosfera G4 na modalidade de voo de formação. Com uma boa disposição de veludo, Nuno revela-se capaz de ressuscitar qualquer alma insegura, que chegue pronta a despegar-se de tudo aquilo que nunca compreendeu na sua vida. Teria esta família a noção do que eu vivia neste dia tão sagrado? Claro que não, mas porque fluía tudo tão demasiadamente perfeito e porque me descongelavam as pedras do caminho com um sorriso generoso, que só me lembro dos tempos de criança?


No seu amor às asas dos outros, a criatividade de Nuno imaginou um dia o Ultimate Switch, um dispositivo de accionamento da máquina fotográfica através do sopro, desenvolvido para ser o mais pequeno, leve e duradouro sistema profissional de disparo remoto de pára-quedismo. Desenvolvido e patenteado em Portugal há três anos, este equipamento é comercializado em todo o mundo, com revendedores em todos os continentes. Nuno respondia a todas as minhas perguntas, mesmo as mais loucas, compreensíveis para quem se vai atirar daí a uns minutos, à beleza intocada das nuvens. Enquanto visto o fato que me iria proteger das temperaturas negativas, Faustino explica-me como me comportar lá em cima e pergunta-me se estou nervosa. Com a minha resposta negativa provoca-me até à partida do avião e fica decidido que a saída seria em mortal para trás. ‘Ganha por cem, ganha por mil’ foi o meu pensamento imediato. E confesso que ainda estou incrédula, com o medo que nunca chegou, ou pelas borboletas que desapareciam sem deixar rasto.

A bordo da aeronave Cessna Caravan 208 B, um dos melhores e mais utilizados aviões de turbina para pára-quedismo - leva até dezoito pára-quedistas - Paulo filma a sombra do avião, nos campos que abraçam o aeródromo e eu confirmo a invasão de uma alegria, livre e diferente de tudo o que já tinha vivido nos meus anos de vida. Teria eu enlouquecido, ou a minha vontade de me fundir com um dos elementos da natureza que mais respeito, permitiam-me enfrentar sem receio o mergulho no 'todo'? Na troca de lugares, outro atleta da Selecção Nacional brinca comigo. José Luís Candeias vestido com o fato de cores ousadas para um homem daquele tamanho (era cor de rosa e com flores havaianas) pergunta-me porque me pintei para saltar. Retenho-me num segundo na expressão vernácula ‘pergunta o roto ao nu’ e respondo-lhe serena da minha convicção: ’é que hoje é um grande dia’.

Tal como William Wallace, também eu entrancei o meu cabelo e usei tinta azul para enfrentar uma batalha impossível no passado. No meu Breaveheart recolhia, com as mãos a transbordar, o que os seres humanos presentes na aeronave me entregavam. Da mulher Atmosfera Marta recolhia o que a minha infância de cristal nunca me deixou ser: ali eu tinha a minha oportunidade de mostrar a minha criança mais guerreira.

Com mais de quatro mil saltos aos vinte e dois anos, Mário André já atingiu todos os desafios que pode atingir um pára-quedista. A saltar com uma asa de oitenta e dois pés - eu saltei com uma de duzentos e quarenta pés – Marinho, como lhe chama esta sua grande família é o menino de ouro da Skydive. Está na fila de trás ao lado da Marta, mas jamais será por isso que o sinto distante. O que teria este ser humano, para me entregar no dia em que mudava a minha vida? Segredam-me as nuvens que Marinho podia ter-se encostado à sobra de quem um dia o pôs no mundo. Mas com o mesmo molde de compreensão do que tantas vezes nos faz falta, recolho a irreverência, quando identifico a qualidade de uma fibra, que mesmo sem o devido colo, nos fez crescer a uma altura que jamais será física.

A sete mil pés de altitude abro as mãos para recolher a luz da Maria. Sentada a meu lado e com umas feições de mulher bonita, por fora, mas também por dentro, a raça alada da pára-quedista provocaria cobiça, a qualquer página da Vogue, ou a qualquer figura feminina do Matrix dos irmãos Wachowski . A Maria, mãe de três filhos - também membro projecto Atmosfera - não saltava há catorze meses. A sua concentração absoluta contrastava com a minha excitação de miúda, que tenta divertir as caras estarrecidas dos que como eu, saltavam a primeira vez. Sem sortir efeito nas faces dos estreantes, vivi a seriedade do meu salto através da sua serena e consistente auto-focagem. E enquanto me saiam gargalhadas de felicidade unia-me à sua aura, para atravessar um dos momentos mais sérios da minha identidade.

A minutos de abraçar o mundo, apenas me retive no privilégio do caminho percorrido, que me permitiria dar este salto emocional. Com ele a oportunidade de me desprender de tudo o que me tem distanciado do projecto mais puro à minha essência. E ali estava eu preparada para enfrentar o Universo ‘face to face’ e desculpem-me o inglesismo, mas quando a porta do Cessna se abriu, toquei com os olhos a curvatura do mundo inteiro. Pendurada na humildade de não me ser possível exprimir por palavras o que senti, os meus olhos viram um mundo que me permitia, a partir daquele momento, viver a vida que eu quisesse: ‘ Estou aqui, sou livre, posso imaginar tudo’.

Agarro-me como uma miúda inconsciente, às alças que me prendiam ao homem-pássaro. Nesse momento, a minha alegria é transformada num sério e consciente momento de introspecção, de tudo o que representava o meu salto para a atmosfera. Antes de saltar, tenho ainda tempo para confessar segredos distantes à nova família do ar e memorizo a carruagem onde me encontro. Não são as bonitas imagens de Walker Evans, mas antes a de uma cena que me revela sem dúvida, todos os anjos que me acompanham desde cheguei à Terra . Ali estava eu inteira, despida por dentro, na carruagem das asas de um desejo, que podia ser de Wim Wenders. E de mão dada às entidades que me ajudam todos os dias, a construir a melhor versão da minha existência, com eles, o Eddy, a quem agradeço nestas linhas nunca ter desistido do sonho, que hoje me permitia
a escolha da nova vida.

Num ano em que ser português pode ser tão difícil, agradeço a sua visão e a capacidade de ajudar tantas almas que aqui chegam, muitas vezes, manchadas pelo ‘sítio tão frágil que é o mundo’. Aceito tudo o que o céu me entrega, mesmo a sabedoria de não conseguir descrever o que foi viver o sagrado a 264 Km/h.

E é sem palavras que termino esta Saída de Emergência, uma porta que me mudou para sempre, e que confirmou a beleza do que ainda espero viver neste mundo: afinal ‘as luas que muitas vezes conhecemos, só existem pela reflexão da luz. A luz do Sol’.

imagens de Nuno Lobo Paulo, Atleta da Selecção Nacional de Pára-quedismo
texto publicado na na Saída de Emergência da Vogue.pt

Skydive Portugal
Aeródromo Municipal de Évora
Tel. 910 999 991/ 256 878 086
www.skydiveportugal.net

filme desta experiência, on-line para a semana
:-)





04 setembro 2011

day after



acordei com uma enorme sensação de felicidade e com a noção que será um desafio de humildade, conseguir passar a experiência na próxima Saída de Emergência da Vogue.

'e é no silêncio do céu que se escuta o imenso grito patético de orgulho e de fé que ela eleva na direcção das nuvens'.

02 setembro 2011

'provado o quê?'


'A Concetta tem razão. Depois de ter amado, ficar com um homem como ele é como beber água depois de ter provado Marsala'.

01 setembro 2011

Vogue l Saída de Emergência l na senda da cidade perfeita




cada recanto conta uma história e enquanto os estrangeiros da mesa de trás desenham Lisboa a giz no individual de ardósia, a minha mesa exibe uma luz especial, não apenas pelo ser humano fora de série que me acompanhou nessa noite e que tanto me eleva os dias, mas pela placa e pela luz que marca o lugar.

continue a ler a Saída de Emergência aqui.