31 dezembro 2010
30 dezembro 2010
29 dezembro 2010
bricklane II
'then there is the kind you do not notice at first but which adds a little bit to itself every day like an oyster makes a pearl, grain by grain, a jewel from the sand. that is the kind I have come to know'.
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a cidade à distância,
na extensão do silêncio
26 dezembro 2010
mais do que todas as luzes da cidade II
mais de uma hora à espera num dos cafés da cidade. não imaginei que às minhas mãos viesse parar o embrulho maior de todos. não se maquiava com papel e fitas. apenas uma página aberta que olhou para mim e que naquele momento, mesmo sem rosto, me escrevia com toda a luz do mundo.
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eles também voam,
Michael Nyman,
transformando-me
24 dezembro 2010
23 dezembro 2010
mais do que todas as luzes da cidade
'em Londres nunca me lembro da realidade real,
nem me sinto turista, compradora, compulsiva
tenho vivido lá a vida inteira, com pessoas que nunca existiram
nem me sinto turista, compradora, compulsiva
tenho vivido lá a vida inteira, com pessoas que nunca existiram
ou existem demasiado
e me fizeram descobrir quem sou'.
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I. Pedrosa,
na ponta dos dedos
GQ l pelas ruas da cidade
Sobre o projeto Humanidade
Havia estrelas no céu e a Isabel e o João, de mão dada à natureza escolheram as Penhas Douradas para edificar a extensão de um sonho, que se iniciou na beleza de longas caminhadas pela natureza. E tal como já partilhei há dias no meu blog, há lugares que pela experiência, ou pela intensidade da energia gerada à volta do mais importante legado de todos: os seres humanos. Os donos desta casa construíram uma morada mágica, sustentado na observação das estrelas e enquanto a sua história de amor se funde com a beleza das árvores tive de pedir ao Universo, que me desse sabedoria suficiente para conseguir partilhar a mais bonita casa da Serra da Estrela. Convicta de que as palavras não chegam, peço-vos que não abandonem esta terra dos vivos sem lá irem, porque ali, onde a terra se elevada, testemunha-se com intensidade o que deve ser o nosso projetos de humanidade. Uma família que não se limita a fechar os seus dias de conforto e que abre, não apenas as portas da beleza do que os une, mas também a vontade de ajudar todos os que fazem a história de um dos lugares mais bonitos de Portugal. Já tão perto do Natal quase que me comovo a escrever estas linhas e não falo do Adagio do Secret Garden que me acompanha neste momento o ritmo das minhas pontas dos dedos, mas dos sentimentos nobres que senti nesta morada. E poderia partilhar-vos a tão coerente arquitetura, os sóbrios e elegantes interiores escandinavos, o sorriso doce da Catarina e de toda a família que faz acontecer este pequeno pedaço de paraíso, os livros, os jogos de tabuleiro, uma mesa sempre posta de café, chás, bolos e biscoitos que nos faz sentir verdadeiramente em casa, a temperatura quente da casa e todos os programas como os longos passeios perto de pedras energéticas, a apanha de cogumelos ou um passeio numa floresta de faias douradas. E podia descrever-vos o quão elevado é o projetos de recuperação do Burel Manteigas, ou do PDF (Penhas Douradas Food que conta com a consultoria do sempre tão nobre chef Luís Baena), ambos projetos da Saberes e Fazeres da Vila que nasceram para devolver o trabalhos aos artesãos. E com toda a convicção peço-vos que por momentos abandonem a cidade se entreguem à essência de uma viagem que merece ser vivida em vida. Nesta vida.
Casa das Penhas Douradas
Penhas Douradas, Manteigas
Tel. 275 981 045
www.casadaspenhasdouradas.pt
A partir de €75
Sabor do Sul, desenho do Norte
A cozinha de Duval Pestana tem atraído viajantes às terras do Sul. Seja pela intensidade dos sabores e cheiros da sua gastronomia portuguesa de inspiração regional ou dos paladares da terra e do mar de toque meridional. Porque a capital não pára – e sempre aclamarei atitudes de rasgo em tempos de crise – o Faz Gostos Lisboa chega de uma grande tradição - primeiro em Olhão, depois Castro Marim - do Algarve e inaugura na minha cidade com uma carta de vinhos exclusiva - são mais de duzentas e trinta referências - elaborada por Virgílio Loureiro. O espaço contempla ainda um bar a cargo do indispensável David Palethorpe do bar Cinco Lounge. A aquisição gastronómica é grande, mas a minha sensibilidade estende-se quando assisto ao bom gosto estético inconfundível de Paulo Lobo. Na morada que ocupa um antigo convento da Rua Nova da Trindade, os azulejos do século XVIII são protagonistas e complementados pela muralha fernandina, fazem do Faz Gostos Lx um dos espaços mais distintos das casas de jantar da cidade. Ainda os lavabos mais cénicos de Lisboa, onde por momentos deixamos correr a água na extensão de umas mãos multiplicadas.
Faz Gostos Lx
Rua Nova da Trindade, 11H
Tel 21 347 2249
www.fazgostoslx.com
Seg a Sáb 19h – 2h
A elevação de um manifesto
Pela extraordinária beleza das embalagens e com a inconfundível e sempre tão humanamente dedicada assinatura do chef Luís Baena, a Casa das Penhas Douradas lançou a marca PDF – Penhas Douradas Food. Imagine os melhores ingredientes da Serra da Estrela transformados em inovadores, surpreendentes e irreverentes chutneys, geleias, biscoitos, torrão ou invulgares criativas passas de mel. Num já longo caminho percorrido na intervenção, interpretação e experimentação dos valores clássicos, mais uma redescoberta das nossas tradições pela mão de mais um manifesto apaixonado de Luís Baena.
PDF – Penhas Douradas Food & Factory
Rua Nova do Amada, 103 Lisboa
Tel. 21 245 6910
www.saberesefazeresdavila.pt
Seg a Dom 10h às 20h
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na ponta dos dedos
19 dezembro 2010
à mesa do café trocamos palavras l muito além do azul
Sentamo-nos no café da galeria e enquanto me descreve como teceu a sua senda do sonho, tenho como cenário os vultos que passeiam pelos jardins. Entre nós e as palavras há espaços cheios de gente de costas, portas por abrir que podem tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo.
Distante das ruas da cidade estão as casas, as muralhas habitadas dos amigos que escolheram Londres como morada, onde no ‘transportes do tempo’ de Ruy Belo se sentem bem. As palavras da escritora com que iniciei esta coluna segredou-me também que ‘ninguém pode dizer que conhece Londres se não conhecer um londrino de gema, se nunca tiver descido uma rua secundária, longe das lojas e dos teatros, e batido à porta de uma casa particular num bairro residencial’. Antes de partir alertaram-me para a eleição do bairro, onde elegeria a minha morada destes dias londrinos. Chelsea está longe de ser o meu bairro ideal, não pela sofisticação que aprecio, mas pela falta de criatividade que alcanço noutras esquinas da cidade. Gosto de viver surpreendida e mais importante do que o bairro onde vivo, a importância da experiência de uma cidade através de pessoas extraordinárias, que com as suas mãos me abrem portas como revelam segredos.
Retida pelas imagens da fita ‘Bricklane’ de Sarah Gavron, de um romance de Mónica Ali, imaginei muitas vezes os encontros dos seres humanos através de portas transparentes. Uma imagem que trouxe no meu livro de notas, como um quadro a descobrir em ‘East London’. Old Street é a estação de metro que eleva ‘o fósforo para o milagre do fogo’. Hoxton, Hackney, Bethnal Green, Shoreditch, manchas de criatividade coladas que revelam estímulos e excentricidades capazes de acordar os vultos da célebre frase de Johnson, aqui nestas ruas, não há mesmo espaço para nos fartarmos da vida.
Na excelência dos seres humanos
Londres é transversal na mudança rápida de cenário, em que de um segundo para o outro mudamos de uma elegante loja de Bond Street para uma cave Felliniana em Shoreditch. A dádiva da experiência devo-a a Miguel Domingos, um fotógrafo de moda que respira talento pela pele do seu percurso. Enquanto vivemos um poderoso ‘english breakfast’ no ‘The Premisses’, um café em Hackney também estúdio, onde já gravaram nomes como Nina Simone, Nick Cave ou os Buena Vista Social Club, revela-me o início do caminho na London College of Fashion. Londres é a sua base há nove anos, mas trabalha também em Paris, Barcelona, Berlim, Madrid e Lisboa pelas agências Volitif e Luckenpoint. Nas suas mais elevadas memórias partilha-me os ‘backstages’ da Paris Fashion Week (Karl Lagerfeld, Vivienne Westwood, John Galliano ou Lanvin são alguns dos nomes com quem colabora) e a sua colaboração na Art Partner, a agência nova iorquina onde estão agenciados os fotógrafos Mario Testino, Mario Sorrenti ou Terry Richardson. Das suas histórias retenho-me na palavra mais forte, ‘Londres é uma cidade vibrante’ e na companhia da energia de uma pessoa que transpira amor pela vida, descubro a tão esperada rua de Bricklane. São montras vintage e lojas escondidas como a fascinante Beyond Retro, mas também a paragem obrigatória na Baigel Bake (para provar os famoso Baigels de salmão fumado ou ‘salt beef’). Livres como pássaros em Istambul, percorremos a Cheshire Street, a Columbia Road com o seu famoso mercado de flores ou o salão de beleza The Powderpuff Girls onde é possível viajar no tempo para pedir um penteado dos anos cinquenta, com decoração e ‘staff’ a condizer. Ainda o mercado e as lojas de Broadway Market, o ar berlinense do Haggerston Bar, ou o tal bar digno dos filmes de Fellini, o Joiners Arms. Nas suas grandes eleições e numa escapadela ao Soho, e mesmo à frente da lojas de bolos mais excêntrica da cidade, a Cox Cookies & Cake, ainda o imperdível restaurante de ostras e marisco, o Randall & Aubin, onde atmosfera e champagne da casa ressuscitam o cansaço dos dias. Miguel vai registando movimentos por trás da câmara, e o voo acaba na simplicidade de um restaurante tailandês de bairro, o Rosa’s, no número 13 de Hanbury Street, onde remato um dia regado pelo privilégio da criação.
Hoje, leva-me contigo
É fácil perdermo-nos na cidade. E não falo de nos deixarmos navegar pelas ruas, mas de ter a sensação que alguma coisa nos está a escapar enquanto fazemos uma outra. E se a cidade é uma bênção, na sua extensão tropeço num projeto essencial para quem quer conhecer a Londres dos londrinos. Simply Rosa é um projeto de Rosa Mello do Rego que virou a página de um percurso na galeria Hauser & Wirth para iluminar as ruas desconhecidas. Habituada a planear a cidade que vale a pena ou a Londres escondida dos guias turísticos, foi com a Rosa que conheci uma das moradas mais apetecíveis para um brunch de East London, o Albion. Situado na Boundary Street, um restaurante, mercearia fina, padaria, galeria e hotel, que recomendo a quem queira ficar no lado mais irreverente do mapa londrino. Ainda longe dos sublime, mas óbvio Hakkassan, deliciosos achados como o ‘ginger pudding’ do The Lansdowne, o vinho quente com canela no The Engineer Pub, os sumos de cenoura e gengibre da frutaria de Primrose Hill, as pizzas da Story Deli, o bus vegetariano Rootmaster, a melhor sopa vietnamita de Londres ou lojas onde o design se encontra temporariamente, como a The Temporium. Haverá sempre mais experiências para viver e como grande razão para um futuro regresso, a loja The Last Tuesday Society em Mare Street, que exibia uma vitrina de fazer inveja às montras da Harvey Nichols. Nas suas escolhas mais clássicas, um episódio nos armazéns da cidade. Do Liberty a beleza do edifício, do Selfridges a seleção excecional e várias prateleiras de revistas que dariam muitas tardes inteiras de leitura. Ainda uma cena digna de um filme. Enquanto Rosa se compromete, mais uma vez, a sua serenidade à concorrida fila da Nespresso – e aqui lembro-me do privilégio de o podermos fazer a céu aberto nas ruas do meu querido Chiado, ou da genialidade de em Lisboa a reciclagem das cápsulas ajudarem os que mais precisam – observo o momento. Na vitrina as peças desenhadas por Manish Arora, chávenas de café que contam a história de dezasseis princesas, que representam as dezasseis novas sensações Grand Crus através de ilustrações cheias de cor e significado. Ainda um casal que na troca de sacos detetada a tempo, me fez lembrar o ‘Falling in Love’ de Ulu Grosbard, onde Robert de Niro e Meryl Streep trocam as compras de Natal. Sem acesso ao final da história é já em Camden Town que assisto a três epílogos. Encontro-me no London ShortCutz, uma iniciativa que Rui de Brito teve a genialidade lançar no Bicaense todas as terças feiras em Lisboa. Espaço para realizadores de todas as formas e feitios abrirem as páginas das suas criações ao mundo. A ideia estendeu-se a Londres pela mão da atriz Alice da Cunha e numa sala no Proud Camden, que ocupa um estábulo antigo, acontece o encontro dos livres cineastas.
Na troca das palavras escritas
Perto de Sloane Square marco encontro com a realizadora Cristiana Miranda. Reconhecemo-nos pelo sorriso inconfundivelmente atlântico, numa das salas da Saatchi Gallery. O seu primeiro trabalho de sucesso foi um documentário de três minutos para o Discovery Channel, sobre Dita von Teese, que lhe valeu o reconhecimento do meio e a concretização de novos projetos. Mais do que os inúmeros filmes publicitários para marcas conhecidas, ou videoclips como o ‘The Day Before the Day’ para a cantora Dido, elevo-lhe o talento humano enquanto partilhamos Cesariny. Sentamo-nos no café da galeria e enquanto me descreve como teceu a sua senda do sonho tenho como cenário os vultos que passeiam pelos jardins. ‘Entre nós e as palavras há espaços cheios de gente de costas, portas por abrir que podem tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo’. Trocamos palavras escritas, palavras legíveis e mesmo sem as cordas do violino do poeta, testemunho uma menina mulher que com todo o sangue do mundo, constrói a cidade criativa muito além do azul. Londres é isto. Uma morada onde à mesa do café me cruzo com os seus viajantes. E na memória dos que ainda não conheci, o privilégio de uma cidade inundada de imagens futuras e um grande voo no estandarte que os move. Uma grande bandeira branca desenhada como quem conta uma história e escreve sorrindo, ‘aqui, onde o mundo é a nossa casa’.
coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 18 de Dezembro de 2010
13 dezembro 2010
à mesa do café trocamos palavras l nas minhas e nas tuas mãos
A beleza obriga-me à paragem e os quatro graus negativos suspensos, na Millennium Bridge congelam a certeza de que a minha Leica jamais captaria o momento. Alongo a memória na máquina fotográfica do meu corpo: Londres mostra-se deslumbrantemente cénica.
‘Londres fascina, saio de imediato num mágico tapete colorido e eis-me transportada para a beleza sem sequer mexer um dedo’. Sempre fui fascinada por lojas de museus e sei que elas são também responsáveis pela criarte, na minha missão de elevar o grande legado que é a nossa língua. E se um dia imaginei uma marca de divulgação da língua portuguesa, inspirada nas palavras de Alexandre O’Neill, hoje habito longe dos ‘portugueses saudosistas, que vivem a miséria de uma noite gerada por um dia igual’. Em Londres é muito fácil viver a possibilidade dos horizontes longínquos e enquanto me entrego às opções dos objectos fixo, na Tate Modern um auto-retrato no Bom Jesus de Braga de Martin Parr, um dos fotógrafos da Magnum. O título? ‘Com amor’. Na busca incessante do sentimento, não perco de vista dois postais com registos de Thomas Ruff . Entre o ‘nudez ez 14’ e o ‘Stern, 02h48m, 35º’, não tenho dúvidas, escolho a imagem do Universo. Abandono o museu e a minha essência mais pura ajoelha-se perante o cenário. Na distância do que me separa do cosmos, impresso num postal ou num céu imenso, os flocos de neve misturam-se com os monumentos da cidade e com os viajantes que anseiam o destino. A beleza obriga-me à paragem e os quatro graus negativos, suspensos na Millennium Bridge congelam a certeza de que a minha Leica jamais captaria o momento. Alongo a memória na máquina fotográfica do meu corpo: Londres mostra-se deslumbrantemente cénica.
‘We are London’ é uma campanha espalhada pelas paredes subterrâneas do metro. Convicta de que as cidades serão sempre as pessoas, muitos são os testemunhos às mesas do café. O sorriso generoso de Manuel Soares Garcia, trabalhador na City londrina diz que somos bilingues quando sentimos noutra língua e na distância da sombra de um apelido, Afonso Rebelo de Sousa percorre um caminho excecional na The Brand Union, uma das maiores agências de ‘branding’ do mundo. No cenário por trás dos vidros a neve cai e regista os flocos a caírem nos lindíssimos ferros do Smithfield Market. Testemunho imagens como quem coleciona postais antigos.
Interessante como um filme de Moretti, a mais fascinante loja londrina - a Dover Street Market - foi imaginada pela cabeça criativa da Comme des Garçons, Rei Kawakubo que estudou filosofia, arte e literatura. A fusão das sabedorias transformou-se numa morada de seis andares, onde uma espécie de mercado de várias marcas e criadores (Comme des Garçons, Lanvin, John Galliano, Monocle ou IDEA Books) encontram-se numa atmosfera de ‘caos calmo’ em busca do belo. E se me deslumbro com a genialidade eclética, confesso que quando o grande esteta do Porto, Paulo Lobo, me fez prometer não deixar de visitar este mercado de formas, estava longe de imaginar a cereja no fim do bolo. Enquanto me sento no ultimo andar, para beber café e provar a famosa tarte de aveia e figo na Rose Bakery, sou privilegiada pela visão da pasta medicinal Couto e nesse preciso momento tenho a mesma sensação que teria se um desconhecido me oferecesse flores.
A cremosidade do caramelo, o aveludado da baunilha ou a intensidade doce da amêndoa, os novos Variations Nespresso mostram-se no mais desejado chá de Londres. O Sketch é conhecido pela irreverência, pela estrela Michelin e pelas originais casas de banho, uns ovos cabine diferenciados no interior, pela cor da luz e sons diferentes que percorrem a música clássica ou os sons da natureza. As várias salas de jantar são lindas e paralelamente aos também famosos chás do recuperado Savoy, do Claridge’s e Browns Hotel em Brook Street, a experiência do Sketch é especial. A morada não é novidade para os Londrinos, mas o chá na sala ‘The Parlour’ é um acontecimento na cidade pela excentricidade com que mistura o ambiente com uma pastelaria digna de um cenário francês de Sophia Coppola. Prendo-me à suavidade dos biscoitos amaretti, ao macarron de canela e laranja (o melhor que alguma vez provei), e ao Pommery Brut Royal servido com o melhor café do mundo. Já em ‘East Side’ o restaurante Le Trois Garçons e o bar Lounge Lovers oferecem-me cenários dignos do filme Vatel de Roland Joffé. Depois de muitas casas de jantar habitadas, este é para mim uns dos mais bonitos e melhores restaurantes de Londres.
Na extensão dos dias encontro-me com um grupo de amigos nas elegantes ruas de May Fair e ao lado de Ricardo Araújo Pereira à porta do Clarige’s retenho-me na entrevista que fez há apenas dois meses a António Lobo Antunes. ‘Uma coisa bela é uma alegria para sempre’ memorizou o escritor das palavras de Keats. Também eu devo muito à pintura, à música, aos livros, mas também à sinfonia de Londres. E não falo das notas de música de Vaughan Williams, mas ao ritmo dos que constroem esta cidade. Com temperaturas negativas em Liverpool Street, aguardo o autocarro e misturada com trabalhadores da City, a elegância do verde da Luvaria Ulisses não chega para me aquecer as pontas dos dedos e por breves instantes tenho saudades da brisa atlântica. Não gosto de acreditar no destino, porque me habituei a lutar sempre pelos cumes das montanhas que imagino, mas a espera revela-se na arte do encontro. O ‘bus’ chega finalmente e à altura da fita ‘Sliding Doors’ de Peter Howitt os instantes são decisivos. Ainda mais angelical que Gwyneth Paltrow, os olhos de Sónia Balacó destacam-se da cidade urgente. Foram poucos os segundos que me distraíram para perder o rasto de uma das mais conhecidas modelos portuguesas. Olho para as escadas do autocarro e vejo no cenário a cor do casaco que fixei a mover-se para o segundo andar. Sigo convicta que seria um dos testemunhos interessantes que poderia encontrar em Londres. Percorro o autocarro, rosto a rosto, olhar a olhar e quando me deparo com uma mulher portuguesa que com certeza ficaria muito bem a contracenar com Clooney, apresento-me. Uns dias mais tarde, num café de Broadway Market, Sónia hoje atriz e agenciada pela Curtis Brown, move as mãos, com a mesma consistência com que partilha o que a fez sonhar mais alto. Sophie é a sua personagem na sua primeira longa-metragem ‘I against I’, depois de muitas aulas com os melhores professores do mundo. Também Matilde Travassos, fotógrafa de moda se mudou para Londres por gostar da ‘vontade de excelência’. Com capas na chinesa Vision é a mais nova sonhadora à mesa do café. Uma frescura contrastante com Pedro Alfacinha que um dia se candidatou a um lugar na loja da Steidl e que hoje edita muitos dos seus heróis como Lewis Baltz ou Robert Franc. Ainda no rasto de ‘um brilho de possibilidade’ das imagens de Paul Graham, o testemunho da qualidade dos seres humanos que bebem café como alcançam sonhos.
A cidade move-se depressa e nas concorridas ruas de Oxford acelero a minha intenção de fuga. A minha ideia de Natal não se move pela busca de objetos e há muito que me rendi a amigos secretos. E enquanto me derrubam nas correntes natalícias tenho a certeza, que não há no mundo nenhum embrulho, pelo qual trocaria a experiência desta cidade. Agradeço a clarividência e enquanto as luzes me iluminam os ombros recebo com ternura a importância das palavras distantes. Miguel Costa arquitecto e urbanista no atelier de Norman Foster, licenciado pela Escola Superior Artística do Porto com MA em Housing & Urbanism pela Architectural Association em Londres, bolseiro pela Fundação Mies Van Der Rohe em Barcelona, colaborou em programas de investigação na Universidade de Kassel na Alemanha, de UNAM na cidade do México ou no Berlage Institute, em Roterdão. Trocamos palavras por e-mail há bastante tempo, mas no mês em que vivo a sua Londres, dirige uma equipa para desenhar um edifício do King Abdullah Financial District, em Riyadh na Arábia Saudita. Atento à minha experiência na cidade onde vive há sete anos, mostra-me o atelier de Norman Foster através de um amigo. Confirmo que as pessoas não são substituíveis e na construção das cidades e dos seus afectos, nas minhas e nas tuas mãos, também eu - tal como Keats - não tenho a certeza de nada, a não ser da verdade da imaginação. Londres é uma cidade sem prazo e mesmo no lamento de não percorrer os edifícios e as carruagens londrinas na companhia dos olhos do arquitecto viajante, agradeço as imagens de Walker Evans. Em todas as velocidades visíveis, no final do dia e apesar da celeridade dos silêncios, todos fazemos parte de uma morada tão frágil como o mundo. E na vontade de alcançar toda a beleza, novamente o poder das palavras. Seremos sempre maiores nas ‘asas invisíveis da poesia'.
coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 11 de Dezembro de 2010
‘Londres fascina, saio de imediato num mágico tapete colorido e eis-me transportada para a beleza sem sequer mexer um dedo’. Sempre fui fascinada por lojas de museus e sei que elas são também responsáveis pela criarte, na minha missão de elevar o grande legado que é a nossa língua. E se um dia imaginei uma marca de divulgação da língua portuguesa, inspirada nas palavras de Alexandre O’Neill, hoje habito longe dos ‘portugueses saudosistas, que vivem a miséria de uma noite gerada por um dia igual’. Em Londres é muito fácil viver a possibilidade dos horizontes longínquos e enquanto me entrego às opções dos objectos fixo, na Tate Modern um auto-retrato no Bom Jesus de Braga de Martin Parr, um dos fotógrafos da Magnum. O título? ‘Com amor’. Na busca incessante do sentimento, não perco de vista dois postais com registos de Thomas Ruff . Entre o ‘nudez ez 14’ e o ‘Stern, 02h48m, 35º’, não tenho dúvidas, escolho a imagem do Universo. Abandono o museu e a minha essência mais pura ajoelha-se perante o cenário. Na distância do que me separa do cosmos, impresso num postal ou num céu imenso, os flocos de neve misturam-se com os monumentos da cidade e com os viajantes que anseiam o destino. A beleza obriga-me à paragem e os quatro graus negativos, suspensos na Millennium Bridge congelam a certeza de que a minha Leica jamais captaria o momento. Alongo a memória na máquina fotográfica do meu corpo: Londres mostra-se deslumbrantemente cénica.
‘We are London’ é uma campanha espalhada pelas paredes subterrâneas do metro. Convicta de que as cidades serão sempre as pessoas, muitos são os testemunhos às mesas do café. O sorriso generoso de Manuel Soares Garcia, trabalhador na City londrina diz que somos bilingues quando sentimos noutra língua e na distância da sombra de um apelido, Afonso Rebelo de Sousa percorre um caminho excecional na The Brand Union, uma das maiores agências de ‘branding’ do mundo. No cenário por trás dos vidros a neve cai e regista os flocos a caírem nos lindíssimos ferros do Smithfield Market. Testemunho imagens como quem coleciona postais antigos.
Interessante como um filme de Moretti, a mais fascinante loja londrina - a Dover Street Market - foi imaginada pela cabeça criativa da Comme des Garçons, Rei Kawakubo que estudou filosofia, arte e literatura. A fusão das sabedorias transformou-se numa morada de seis andares, onde uma espécie de mercado de várias marcas e criadores (Comme des Garçons, Lanvin, John Galliano, Monocle ou IDEA Books) encontram-se numa atmosfera de ‘caos calmo’ em busca do belo. E se me deslumbro com a genialidade eclética, confesso que quando o grande esteta do Porto, Paulo Lobo, me fez prometer não deixar de visitar este mercado de formas, estava longe de imaginar a cereja no fim do bolo. Enquanto me sento no ultimo andar, para beber café e provar a famosa tarte de aveia e figo na Rose Bakery, sou privilegiada pela visão da pasta medicinal Couto e nesse preciso momento tenho a mesma sensação que teria se um desconhecido me oferecesse flores.
A cremosidade do caramelo, o aveludado da baunilha ou a intensidade doce da amêndoa, os novos Variations Nespresso mostram-se no mais desejado chá de Londres. O Sketch é conhecido pela irreverência, pela estrela Michelin e pelas originais casas de banho, uns ovos cabine diferenciados no interior, pela cor da luz e sons diferentes que percorrem a música clássica ou os sons da natureza. As várias salas de jantar são lindas e paralelamente aos também famosos chás do recuperado Savoy, do Claridge’s e Browns Hotel em Brook Street, a experiência do Sketch é especial. A morada não é novidade para os Londrinos, mas o chá na sala ‘The Parlour’ é um acontecimento na cidade pela excentricidade com que mistura o ambiente com uma pastelaria digna de um cenário francês de Sophia Coppola. Prendo-me à suavidade dos biscoitos amaretti, ao macarron de canela e laranja (o melhor que alguma vez provei), e ao Pommery Brut Royal servido com o melhor café do mundo. Já em ‘East Side’ o restaurante Le Trois Garçons e o bar Lounge Lovers oferecem-me cenários dignos do filme Vatel de Roland Joffé. Depois de muitas casas de jantar habitadas, este é para mim uns dos mais bonitos e melhores restaurantes de Londres.
Na extensão dos dias encontro-me com um grupo de amigos nas elegantes ruas de May Fair e ao lado de Ricardo Araújo Pereira à porta do Clarige’s retenho-me na entrevista que fez há apenas dois meses a António Lobo Antunes. ‘Uma coisa bela é uma alegria para sempre’ memorizou o escritor das palavras de Keats. Também eu devo muito à pintura, à música, aos livros, mas também à sinfonia de Londres. E não falo das notas de música de Vaughan Williams, mas ao ritmo dos que constroem esta cidade. Com temperaturas negativas em Liverpool Street, aguardo o autocarro e misturada com trabalhadores da City, a elegância do verde da Luvaria Ulisses não chega para me aquecer as pontas dos dedos e por breves instantes tenho saudades da brisa atlântica. Não gosto de acreditar no destino, porque me habituei a lutar sempre pelos cumes das montanhas que imagino, mas a espera revela-se na arte do encontro. O ‘bus’ chega finalmente e à altura da fita ‘Sliding Doors’ de Peter Howitt os instantes são decisivos. Ainda mais angelical que Gwyneth Paltrow, os olhos de Sónia Balacó destacam-se da cidade urgente. Foram poucos os segundos que me distraíram para perder o rasto de uma das mais conhecidas modelos portuguesas. Olho para as escadas do autocarro e vejo no cenário a cor do casaco que fixei a mover-se para o segundo andar. Sigo convicta que seria um dos testemunhos interessantes que poderia encontrar em Londres. Percorro o autocarro, rosto a rosto, olhar a olhar e quando me deparo com uma mulher portuguesa que com certeza ficaria muito bem a contracenar com Clooney, apresento-me. Uns dias mais tarde, num café de Broadway Market, Sónia hoje atriz e agenciada pela Curtis Brown, move as mãos, com a mesma consistência com que partilha o que a fez sonhar mais alto. Sophie é a sua personagem na sua primeira longa-metragem ‘I against I’, depois de muitas aulas com os melhores professores do mundo. Também Matilde Travassos, fotógrafa de moda se mudou para Londres por gostar da ‘vontade de excelência’. Com capas na chinesa Vision é a mais nova sonhadora à mesa do café. Uma frescura contrastante com Pedro Alfacinha que um dia se candidatou a um lugar na loja da Steidl e que hoje edita muitos dos seus heróis como Lewis Baltz ou Robert Franc. Ainda no rasto de ‘um brilho de possibilidade’ das imagens de Paul Graham, o testemunho da qualidade dos seres humanos que bebem café como alcançam sonhos.
A cidade move-se depressa e nas concorridas ruas de Oxford acelero a minha intenção de fuga. A minha ideia de Natal não se move pela busca de objetos e há muito que me rendi a amigos secretos. E enquanto me derrubam nas correntes natalícias tenho a certeza, que não há no mundo nenhum embrulho, pelo qual trocaria a experiência desta cidade. Agradeço a clarividência e enquanto as luzes me iluminam os ombros recebo com ternura a importância das palavras distantes. Miguel Costa arquitecto e urbanista no atelier de Norman Foster, licenciado pela Escola Superior Artística do Porto com MA em Housing & Urbanism pela Architectural Association em Londres, bolseiro pela Fundação Mies Van Der Rohe em Barcelona, colaborou em programas de investigação na Universidade de Kassel na Alemanha, de UNAM na cidade do México ou no Berlage Institute, em Roterdão. Trocamos palavras por e-mail há bastante tempo, mas no mês em que vivo a sua Londres, dirige uma equipa para desenhar um edifício do King Abdullah Financial District, em Riyadh na Arábia Saudita. Atento à minha experiência na cidade onde vive há sete anos, mostra-me o atelier de Norman Foster através de um amigo. Confirmo que as pessoas não são substituíveis e na construção das cidades e dos seus afectos, nas minhas e nas tuas mãos, também eu - tal como Keats - não tenho a certeza de nada, a não ser da verdade da imaginação. Londres é uma cidade sem prazo e mesmo no lamento de não percorrer os edifícios e as carruagens londrinas na companhia dos olhos do arquitecto viajante, agradeço as imagens de Walker Evans. Em todas as velocidades visíveis, no final do dia e apesar da celeridade dos silêncios, todos fazemos parte de uma morada tão frágil como o mundo. E na vontade de alcançar toda a beleza, novamente o poder das palavras. Seremos sempre maiores nas ‘asas invisíveis da poesia'.
coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 11 de Dezembro de 2010
06 dezembro 2010
à mesa do café trocamos palavras l viajamos para confirmar a existência do mundo
Londres é uma cidade fascinante e na travessia do ar, abraçada às palavras de Virginia Woolf também eu iria escrever sobre Londres. E hoje, enquanto vos escrevo estas palavras, sei que esta cidade se apoderou da minha vida privada e a transporta nos dias de hoje sem esforço.
O Anjo Mudo de Al Berto ensinou-me que a pouco e pouco nenhum viajante vê o que os outros viajantes veem, o olhar de cada um, sobre as coisas do mundo, é único, não se confunde com nenhum outro. Retenho-me sempre nas suas páginas imaculadas que tanto inspiram as minhas pontas dos dedos. Na véspera da minha partida para Londres encontro-me com um dos meus amigos viajantes e enquanto partilho livros e planos com a mesa do café, trocamos palavras. Na partilha de todas as cidades do mundo, que viajam pelas ruas de Lisboa comovo-me com as histórias do Alfaiate Lisboeta. Lisboa deve-lhe muito. E no momento em que me tira esta fotografia retenho-me de novo nas palavras do poeta, viajamos para confirmar a existência do mundo.
Apanho um táxi para o aeroporto e agradeço o privilégio de apanhar um verde e preto. Ainda imagino ser transportada pela cidade pelas mãos de John Malkovich, mas fico aliviada por saber que estou bastante viva e que não me vão roubar qualquer Volluto. Abandono a cidade com a música do rádio, ‘a gente da minha terra’ e aprecio as mensagens de uma partida. Não acredito num destino que me amarra e por mais que me seja negado, prefiro prender-me sempre às cordas de uma guitarra. Minutos antes da descolagem demorada, a espera conversa comigo e por momentos a minha cidade faz-me prometer um bilhete com regresso. Londres é uma cidade fascinante e na travessia do ar, abraçada às palavras de Virginia Woolf também eu iria escrever sobre Londres. E hoje, enquanto vos escrevo estas palavras, sei que esta cidade se apoderou da minha vida privada e a transporta nos dias de hoje sem esforço. ‘Os rostos passam e reanimam-me o espírito’.
São muitos os viajantes com que me cruzo. Seres humanos que me mostram uma Londres que se estende numa das maiores obras de design de sempre, o mapa do metro londrino. As distâncias são grandes e na companhia de um livro que me mostra a Londres fragmentada de Rϋdiger Görner, confirmo as palavras de Samuel Johnson: quando um homem está farto de Londres está farto da vida. As suas palavras do século XVIII movem-se atuais e enquanto a carruagem volta a partir, com rostos de todas as nacionalidades sinto-me tentada a procurar as personagens aladas das Asas do Desejo de Wim Wenders. Na procura da grandiosidade dos seres humanos sou surpreendida por um dos mais internacionalmente reconhecidos chefes portugueses do momento. Nuno Mendes abandonou Portugal há muitos anos e depois de moradas como os Estados Unidos, Ásia e Espanha, encontra em Londres uma cidade transversal e estimulante. Partilha-me com uma elevada humildade a surpresa com que é mimado pela impressa britânica. Nas suas duas casas de jantar, as mesas são grandes e partilham-se de formas diferentes. No The Loft Project Nuno e Clarisse recebem chefes convidados e clientes, numa mesa única para viver com o desconhecido. O ambiente é de partilha e ao ficar sentada ao lado da primeira mulher árabe a pisar o Polo Norte reconcilio-me com a minha estadia nos Emirados Árabes Unidos. Elham Al-Qasimi traz nos olhos a ternura que nunca encontrei naquelas terras de deserto. Na mesa comprida a missão de Nuno Mendes ganha ainda mais valor quando dou por mim a reconhecer os outros viajantes do mundo. Esta não é apenas uma sala de jantar, é uma mesa onde no sorriso do encontro se vivem emoções. São muito os pratos de degustação acompanhados de vinhos diferentes e há uma forte ligação à natureza. Memorizo o lombo cozinhado lentamente com caramelo, cogumelos silvestres e amoras pretas e a suavidade com que o promissor Alex Mckechnie nos oferece o cocktail mais original que alguma vez provei. Uma mistura de uísque, granitado de chá, café e chocolate servido num vaso de barro e que se confundia com a simplicidade de uma planta num jardim.
No restaurante Viajante, inserido no Town Hall Hotel em East London, Nuno Mendes continua a extensão de uma sala de jantar íntima e o seu talento é vivido com o testemunho de todas as suas memórias e experiências. Com uma cozinha aberta para a sala, as formas e cores escandinavas misturam-se com a generosidade de uma experiência que faz questão de repartir com a equipa de cozinheiros que se movem no palco. ‘Se não repartimos não crescemos’ diz com a mesma suavidade que explica todos os pratos que faz questão de trazer à mesa. A sua cozinha cria emoções. Sensações únicas acompanhadas com vinhos de todo o mundo, onde destaco a qualidade dos ingredientes, os sabores originais servidos em loiça feita à mão por amigos.
Em apenas setes dias ‘as a Londoner’ lembro-me de novo do café onde iniciei esta viagem. São muitas emoções, encontros e experiências que me lembram a ideia de por o Rossio na Betesga destas duas páginas. Ainda não entrei em todas as livrarias, mas sinto-me a desfrutar de uma biblioteca. E nestes dias brancos, onde recordo com a pura neve as páginas de Almada Negreiros, conto os livros que ainda tenho para ler e os dias que ainda terei até ao Natal. Não chegam, não duram nem para uma prateleira da livraria. Mas haverá - tenho a certeza - outras maneiras de me salvar, senão estarei perdida.
The Wolseley
As viagens iniciam-se sempre antes de partirmos. A poucos dias de Londres partilhava a nossa Taberna Ideal com um amigo inglês, com estudos no nobre colégio de Eton. Prometi-lhe o meu primeiro pequeno-almoço no The Wolseley. ‘As refeições mudam com o tempo, com o clima, com a geografia mas o pequeno-almoço continua a ser um ponto constante no mundo. É uma das poucas coisas que é nossa, mas que é também de qualquer outra pessoa’. E tal como imaginava, no primeiro momento de luz, assisti ao encontro dos que se comprometem a viver com muita alegria um novo dia. Não tive coragem para o famoso English Breakfast guarnecido de ovos, bacon, ‘pudding’, tomate, cogumelos e feijões, mas estendi-me aos melhores ‘Eggs Benedict’ que alguma vez provei e as umas ameixas marinadas em laranja e gengibre. E embora este café restaurante exista há poucos anos, o The Wolseley não é um pastiche, mas uma evolução magnífica de um stand de automóveis e de um de um banco. Hoje revela-se como uma das moradas mais sofisticadas de Londres, numa cidade onde sorrisos rasgados privilegiam reuniões de negócios e encontros à volta de uma mesa.
Tate Modern l Gauguin Maker or Mith
Por ser um dos meus museus preferidos de sempre, a Tate Modern emociona-me sempre. Detentora de uma detalhada viagem cronológica exímia e inegável, confesso que nunca me conformei por ter pedido a última Unilever Series de Miroslaw Balka. Talvez por isso cheguei expectante com a exposição ‘Sunflower Seeds’ do artista chinês Ai Weiwei. Mas as memórias têm cheiro e jamais me poderia esquecer da exposição ‘The Weather Project‘ onde há sete anos me fundi com o Sol de Olafur Eliasson. Nesses tempos era possível deitarmo-nos no chão do Turbine Hall e contemplar os tons alaranjados espelhados na imensidão do edifício. Hoje não me foi possível caminhar sobre as sementes de girassol de porcelana (produzidas segundo os métodos tradicionais na antiga cidade de Jingdezhen, na China, famosa pela sua produção de porcelana para a corte imperial). E dizem-me que estava a fazer mal à saúde dos que gostam de caminhar sobre obras de arte. Mas estamos numa cidade livre e criativa, numa cidade onde é fácil atravessarmos continentes como quem atravessa uma simples porta. Por isso na transversal cidade de Londres deixo-me levar pelas cores de Gauguin e ‘fecho os meus olhos, para ver’.
coluna 'à mesa do café trocamos palavras' patrocinada pela Nespresso, publicado no suplemento Outlook do Diário Económico a 4 de Dezembro de 2010
04 dezembro 2010
A cidade na ponta dos dedos l valores que se reconstroem
Presentes, há muitos. Na Ribeira do Porto e na Baixa de Lisboa, duas moradas imensamente criativas e um banco da Serra da Estrela, para contemplar o mais importante.
A revolução do artesanato
Se nunca ouviu falar de Paulo Lobo é porque não conhece o Porto ou porque não sabe que a cidade do Norte tem um mágico que faz acontecer a sofisticação daquela cidade. Autor de projectos inesquecíveis como os restaurantes Cafeína, Buhle, Shis ou o recém inaugurado Faz Gostos em Lisboa, Paulo Lobo abriu uma das lojas mais marcantes do Porto. São dois pisos, com pé-direito alto, paredes e estantes pintadas a cinzento onde sobressaem peças de assinatura e que desenterrando memórias nos remetem às artes tradicionais portuguesas, de uma forma minimalista. A maioria das colecções tem apenas 80 peças e são de edição limitada.
Lobo Taste
Palácio das Artes, Largo de S. Domingos, 20 Porto
Tel. 22 201 7102
www.paulolobo.com
Seg a Dom 10h – 20h
Lisboa já merecia uma loja assim
A loja já existia mas ao fim de um ano de existência decidiu deslumbrar a Baixa Pombalina com um conceito irreverente, que eleva Lisboa a uma cidade mais criativa. A morava transporta-nos a uma viagem de cores e formas estimulantes, onde marcas como a Converse e Sanjo se misturam com o Horto Do Campo Grande, Diesel, coleções da Loja Das Meias - Dior, Lanvin, Salvatore Ferragamo, Ralph Lauren, Emilio Pucci, Celine, ou Valentino, tudo a cinquenta por cento - cadeiras Pantone, candeeiros da Mood ou da Domo. Há ainda muitos objetos para fazerem as delícias das listas de Natal mais criativas e uma exposição tecnológica, a ARTinPARK e se ainda tiver dúvidas, sobre a transversalidade genial desta loja temporária, pode ainda comprar - imagine - uma lambreta.
Temporary Store
Largo S Julião, 16 Lisboa
Tel. 21 342 7253
Ter a Sáb 10h30 às 19h30
A partir de 6 Dezembro aberto todos os dias
Do mais puro saber da serra
A revolução do artesanato
Se nunca ouviu falar de Paulo Lobo é porque não conhece o Porto ou porque não sabe que a cidade do Norte tem um mágico que faz acontecer a sofisticação daquela cidade. Autor de projectos inesquecíveis como os restaurantes Cafeína, Buhle, Shis ou o recém inaugurado Faz Gostos em Lisboa, Paulo Lobo abriu uma das lojas mais marcantes do Porto. São dois pisos, com pé-direito alto, paredes e estantes pintadas a cinzento onde sobressaem peças de assinatura e que desenterrando memórias nos remetem às artes tradicionais portuguesas, de uma forma minimalista. A maioria das colecções tem apenas 80 peças e são de edição limitada.
Lobo Taste
Palácio das Artes, Largo de S. Domingos, 20 Porto
Tel. 22 201 7102
www.paulolobo.com
Seg a Dom 10h – 20h
Lisboa já merecia uma loja assim
A loja já existia mas ao fim de um ano de existência decidiu deslumbrar a Baixa Pombalina com um conceito irreverente, que eleva Lisboa a uma cidade mais criativa. A morava transporta-nos a uma viagem de cores e formas estimulantes, onde marcas como a Converse e Sanjo se misturam com o Horto Do Campo Grande, Diesel, coleções da Loja Das Meias - Dior, Lanvin, Salvatore Ferragamo, Ralph Lauren, Emilio Pucci, Celine, ou Valentino, tudo a cinquenta por cento - cadeiras Pantone, candeeiros da Mood ou da Domo. Há ainda muitos objetos para fazerem as delícias das listas de Natal mais criativas e uma exposição tecnológica, a ARTinPARK e se ainda tiver dúvidas, sobre a transversalidade genial desta loja temporária, pode ainda comprar - imagine - uma lambreta.
Temporary Store
Largo S Julião, 16 Lisboa
Tel. 21 342 7253
Ter a Sáb 10h30 às 19h30
A partir de 6 Dezembro aberto todos os dias
Do mais puro saber da serra
O banco Tertúlia é estofado com burel, um tecido artesanal português cem por cento lã e que tem acompanhado a história da Serra da Estrela. A Burel nasceu para valorizar os saberes da serra e para valorizar os habitantes de Manteigas, que têm vindo a perder o emprego devido ao encerramento das fábricas de lanifícios da região. O património único que em tempos se limitava apenas às capas dos pastores, transforma-se agora em novas formas surpreendentes, alcançáveis nas ruas do Chiado, depois de ter estado na feira Tokyo Lifestyle 2010, uma das mais importantes feiras de design do mundo.
Banco Tertúlia
PDF – Penhas Douradas Food & Factory
Rua Nova do Amada, 103 Lisboa
Tel. 21 245 6910
www.saberesefazeresdavila.pt
Seg a Dom 10h às 20h
€ 235
Banco Tertúlia
PDF – Penhas Douradas Food & Factory
Rua Nova do Amada, 103 Lisboa
Tel. 21 245 6910
www.saberesefazeresdavila.pt
Seg a Dom 10h às 20h
€ 235
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