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Sempre defendi uma Lisboa sofisticada. Menina e moça sim, mas sem lugar a esplanadas de plástico ou portas de alumínio, já que a minha cidade tem dádivas que não se compram.
Porque as suas qualidades naturais me preenchem sempre, na passada semana tive a oportunidade de descobrir-lhe uma vista que apenas imaginava em sonho. Sem a conhecer sabia que um dia, tal como a capacidade de deixar a vida surpreender-me, ela se cruzaria com a minha existência. Uma morada que abraça Lisboa em cento e oitenta graus de história e sentimentos únicos por quem a sente tanto como eu tento.
Um bar com um magnânimo terraço do último andar da Rua da Misericórdia, no Chiado está a fazer as delícias a quem de facto ama esta cidade.
Inalcançável para alguns, este discreto clube está a puxar pelo lado mais sofisticado dos portugueses. Aqui a água e sabão são trocados por auto-estima, amor-próprio e muitos brilhos nocturnos. Aceitando o elitismo, a existência é de louvar e por trás desta exigência estética que tanto engrandece o enjoy life está o melhor do mundo: os outros.
Nota vinte para o grupo de amigos que sonhou e construiu esta morada oferecendo à nossa cidade um lugar que na minha opinião ultrapassa claramente a experiência do restaurante Felix em Kowloon, situado no vigésimo oitavo andar do Hotel Península e de onde se avista soberbamente a energia de Hong Kong.
Quanto aos sonhos dos viajantes da minha querida cidade de seda e reflectindo no que se pode vir a tornar a nossa capital lembro-me sempre de Fernando Pessoa: porque eu sou do tamanho do que vejo, e não, do tamanho da minha altura.
coluna publicada a 31 de Março no Meia Hora.
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