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29 julho 2009

Lisboa revisitada



Enquanto caminho livre pelas ruas da cidade, abraço a palavra cumplicidade. O sentido de pertença molda-se em silêncios puros, que não já não precisam de nome. Ontem menina e moça, hoje mulher és a minha Lisboa, uma amante por quem vivo uma paixão compulsiva. Desejando-te uma feminilidade balzaquiana, procuro-te ainda um mais digno Terreiro do Paço, a recuperação dos edifícios devolutos, a substituição das inexplicáveis esplanadas de plástico, uma Baixa Pombalina com sorrisos nocturnos, ou mesmo uma perseverança e uma vontade mais sentida. Mas foi nos dias em que te troquei pela justa e rigorosa Amesterdão ou pela alegre e caótica Atenas, que realizei numa certeza mais limpa, a bênção de um Tejo que nos abraça. Talvez por isso, e apesar do que te falta, não ousei trocar-te pela movida de Madrid. Sonhos e futuros à parte, sempre misteriosa, a minha cidade branca continua a atrair viajantes, sejam eles descobridores por tempo certo, ou vidas livres que passaram a chamar pátria à nossa capital. E perante a energia presente, onde se vive a ideia de mundo, os alternativos pontos de encontro fazem-me trocar pensamentos e palavras mais europeias. Por isso agradeço os novos lugares que hoje habito. Lisboa está, sem dúvida, mais iluminada e se muitos acusam ainda o ”tanto por fazer”, apenas me revejo na palavra oportunidade. Entre as esquinas escondidas e os tapetes de folhas de plátanos que testemunham o Outono futuro, sei que Lisboa é insubstituível. E se o caminho é longo, para nunca deixar de a sonhar, nas suas sete colinas me enaltecerei. Sempre.

(re)publicado na Revista de Turismo de Lisboa

27 julho 2009

e por falar em refrescos


estão lá todos: o capilé, a gasosa, a ginja, o pirolito e até a castanheira.
o quiosque fica na praça mais bonita e mais maltratada da cidade, a Praça de São Paulo.
Catarina e João, para quando mais uma recuperação a juntar aos vossos feitos estóicos por Lisboa?


refresco sobre a cidade



O Verão reconhece os viajantes que percorrem as colinas, enquanto a cidade flutua com a brisa atlântica a arejar as esquinas da cidade. “Mas e o refresco, onde está o refresco?” Os quiosques devolvidos à cidade - nas Praças do Camões, Praça das Flores e Praça do Príncipe Real - marcam ponto de encontro com bebidas inspiradas em receitas centenárias. Confeccionadas com menos açúcar, a limonada chic, a famosa orchata, o chá gelado com jasmim ou o capilé são escolhas geniais para quem deambula pelas calçadas portuguesas. Mas a imagem cénica de Lisboa merece bem que observemos o Tejo de frente: a companhia do granizado de melão servido pelo Tiago na varanda do Hotel do Bairro Alto, o esfusiante Porto Tónico do Luís Baiena ou na recém inaugurada varanda do terraço do Tivoli Lisboa, a abençoada Morangosca dos meninos do Rio ou qualquer vinho fresco no Deli Delux. Ainda o chá de Verão com figos secos na Carpacceria Infinita, o chá gelado de canela do Casanova ou a enigmática Pussy Royal na Bica do Sapato. A cereja no fim do bolo será a mais cúmplice bebida do Verão, o Hendrick’s com rodelas de pepino, que na varanda do Lux ou nas ruas da Bica, no Baliza é servido nas taças originais. Mas o Tejo é sempre Atlântico por isso num abraço consumado a um poderoso pôr-do-sol, a varanda do Albatroz com a carta dos vinhos brancos gelados e o Farol Design Hotel na companhia de uma sangria de pepino, com gengibre e sake rematam a cidade na sua extensão de Tejo.

Lisbon Golden Guide, Julho 2009

24 julho 2009

elegy



e era entre quatro paredes às escuras que pela companhia de um cinema agendado, que tinha coragem de reabrir a pasta de arquivo. sempre foi mais fácil acreditar na palavra cobardia, do que cair na escuridão das saudades do que não tinha sido vivido.

o autor é idolatrado pelos homens. mas é afastado pelas mulheres: é menos duro iludirmo-nos da verdadeira natureza do sexo masculino, por isso - tal como viver a jogar com as fichas todas - é preciso coragem para ler as despudoradas palavras de Philip Roth. nas suas páginas compulsivas, os homens são desenhados na sua mais pura realidade. incómoda, decerto a qualquer ilusão suave de quem gosta de acreditar na consistência do amor.

fiquei mais sábia na companhia das páginas deste autor. e para quem me conhece: sou romântica sim, mas prefiro uma verdade (mesmo indesejada) do que uma ilusão que me transformará num animal moribundo.

depois da passagem do tempo é Consuela que dá o passo de voltar a sentir a presença de um coração que não se esqueceu. a raridade das mulheres inteiras valem por isso, uma imensidão neste mundo incerto dos afectos. e se há alguém com conduta para uma vida em verdade, considere-se esse homem um privilegiado: nada tem a ver com a dureza do envelhecer, mas antes com a capacidade de amadurecimento.

no final, a certeza: a vida é para se viver sim, mas não se pode perder tempo. e nas quedas indesejadas ou nos longos desertos, a resistência num caminho que se faz sozinho desenhará no nosso corpo um perfil mais luminoso. como diz um dos meus irmãos de vida, ser sensível é também ser lúcido.

a tela alivia a brutalidade das páginas originais. mas não deixa por isso de valer a pena. e muito.
a ver aqui

21 julho 2009

pied de poule


sobre o poder lunar
e com a verdade tingida na pele.

correio virtual


na excepção do irreconhecível
um roubo, pelas ruas da cidade.

obrigada ao viajante.

17 julho 2009

Descobrir l como se mais nada existisse


clique na imagem ou aqui páginas 12 e 13.

Agora que é tempo de descobrir o que existe para lá do sonho, o Verão aparece como um fim de tarde sem instantes. Alarga-se então o tempo para nos encontrarmos, para nos descobrirmos. Porque a cidade abraça sempre os que ficam, duas moradas para viver o Verão com a intensidade que todos os devaneios merecem.

15 julho 2009

GQ l Pelas ruas da cidade



O raro toque de Midas
Quem conhece a energia feminina e contagiante de Marcela Brunken sabe que o seu toque de Midas transforma ideias simples em acontecimentos irrepetíveis. Uma galeria, um espaço para homenagear o design, mobiliário e objectos reciclados, acessórios, livros, discos, a imensa ideia de mundo e agora uma carpacceria infinita. Rendida à poesia do seu bonito projecto, nesta fábrica de sonhos não existem duas árvores iguais, dois pássaros iguais, duas gotas de chuva iguais ou dois beijos iguais. Talvez por isso a nova carpacceria tenha nascido como mais um irrepetível projecto de amor, desta viajante atlântica pela nossa cidade. Tudo neste templo do bairro do Príncipe Real é construído com uma enorme dedicação, que com detalhes apaixonantes fazem do Fabrico Infinito um testemunho onde de se põe tudo o que se é naquilo que se faz. Da experiência, nomeio o carpaccio de bresaola e abacate ou o de salmão, a acompanhar com o chá gelado infinito com frutos secos. Mas o ponto alto vai para o couvert servido com gengibre, pesto e um extraordinário balsâmico de figo. Ainda para se render a um carpaccio de morango ou desfrutar de um Hendrick's no final do dia, neste terraço e retendo mais uma vez as palavras do nosso mais notável poeta, há ainda o dever de sonhar. De sonhar sempre.

Venham as estrelas
Há anos que me debato com a questão: porque não existem mais restaurantes portugueses com mais estrelas Michelin? Sabemos receber como ninguém, temos umas das melhores gastronomias do mundo e na doçaria temos o privilégio de contemplar tesouros conventuais únicos no planeta. Poderia ter em conta que a doação de estrelas fosse empacotada numa delimitação Ibérica, e que os membros de quem as atribui em Portugal serem os nossos vizinhos galegos. Mas sobra ainda a tão difícil consistência, qualidade importante para se adquirir qualquer estrela Michelin. Na nomeação das estrelas da minha cidade, o Bocca surge como um beijo. Com um nome que nada tem de italiano, este restaurante apresenta uma das mais apetecíveis cartas da cidade e sim merecia mais estrelas do que as que acompanham os passos da equipa fora de série (quem nos serve, move-se sobre uns All Star verdes bandeira). Com a recente mudança de carta não poderia deixar de partilhar as novas sugestões e o carinho com que Pedro Freitas faz desta morada uma das mais consistentes da oferta da capital. Ainda no rasto dos astros, a minha escolha elege o camarão tigre salteado com arroz cremoso de algas wakame, com telha de parmesão e nori com emulsão de mariscos. Sobre a atribuição das merecidas Michelin, quero continuar a acreditar – acreditar sempre -no trampolim de estrelas que Carlos Drummond de Andrade tanto transpirava nos seus poemas do além.

As melhores do mundo
Com a minha pouca admiração de qualquer franchising na minha cidade, abro uma excepção merecida a estas pequenas bolachas artesanais. Da catalã Demasié, estão disponíveis na Xocoa, o novo paraíso de chocolate da Baixa Pombalina. Defendidas pelos seus criadores como “exageradamente boas”, eu atrevo-me a adjectiva-las como surpreendentes ou mesmo as melhores do mundo. Fica a provocação.

Personal Time 3 l Julho 2009



É-nos muito fácil acompanhar o seu tempo pessoal e continuar a ajudá-lo nas suas férias, mesmo se as suas fugas forem para fora do país. Na primeira newsletter deste Verão, a partilha de um dos mais familiares e charmosos hotéis de Portugal, com tempo ainda para o novo cocktail da Hendrick’s, a descoberta da mala mais visionária do design português, uma dança com a Lykke Li, uma inesquecível viagem de barco pela beleza do Adriático ou uma elevação à poesia. Sejam quais forem as suas opções, o que é preciso é ter tempo. Como escreveu um dia o nosso poeta mais presente, ter tempo para sentir tudo de todas as maneiras. Viver tudo de todos os lados, ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, realizar em si toda a humanidade de todos os momentos, num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
Estamos cá para tudo isso.

mais aqui e aqui

14 julho 2009

"enquanto houver Sol"


uma Lisboa abençoada
por um viajante que tanto agradeço na minha vida e na minha cidade

10 julho 2009

A cidade na ponta dos dedos l quase como um poema


clique na imagem ou se é assinante aqui.

De frente para o Atlântico, no Farol Design Hotel, em Cascais, ou no Hotel Tivoli, em Lisboa, sugerem-se sofisticados refrescos para quentes finais de tarde. Ainda, coloridos livros de notas com capa dura para registar encontros com viajantes da cidade.

publicado na revista Única do Expresso a 6 de Julho de 2009

Descobrir l quando as cidades me falam de amor


clique na imagem ou aqui páginas 12 e 13.

Hoje, apenas escrevo, quando as cidades me falam de amor. Um amor pessoal e transmissível que relata fielmente, o que ele dita dentro de mim. Sentada por momentos em Florença e folheando o amor apaixonado de Dante por Beatriz, nas páginas de uma Vida Nova, observo ainda os encontros perdidos na ponte Vecchio. Hoje, confirmo mais uma vez as palavras do poeta onde a comédia é divina: afinal, o amor e o coração nobre são uma única coisa.

Descobrir l na importância do que somos


clique na imagem ou aqui páginas 12 e 13.

Na velocidade dos dias sobra-me ainda tempo para a consciência de que só vale a pena viver em comunhão com a pureza do Mundo. Sejam quais forem as nomeações, haja ainda espaço para o tempo do coração de David Mourão Ferreira tanto falava: a importância do que somos transporta-se hoje pela minha e pela tua pele.

arrivato


em breve
algumas congelações das estações onde parei.