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24 julho 2009

elegy



e era entre quatro paredes às escuras que pela companhia de um cinema agendado, que tinha coragem de reabrir a pasta de arquivo. sempre foi mais fácil acreditar na palavra cobardia, do que cair na escuridão das saudades do que não tinha sido vivido.

o autor é idolatrado pelos homens. mas é afastado pelas mulheres: é menos duro iludirmo-nos da verdadeira natureza do sexo masculino, por isso - tal como viver a jogar com as fichas todas - é preciso coragem para ler as despudoradas palavras de Philip Roth. nas suas páginas compulsivas, os homens são desenhados na sua mais pura realidade. incómoda, decerto a qualquer ilusão suave de quem gosta de acreditar na consistência do amor.

fiquei mais sábia na companhia das páginas deste autor. e para quem me conhece: sou romântica sim, mas prefiro uma verdade (mesmo indesejada) do que uma ilusão que me transformará num animal moribundo.

depois da passagem do tempo é Consuela que dá o passo de voltar a sentir a presença de um coração que não se esqueceu. a raridade das mulheres inteiras valem por isso, uma imensidão neste mundo incerto dos afectos. e se há alguém com conduta para uma vida em verdade, considere-se esse homem um privilegiado: nada tem a ver com a dureza do envelhecer, mas antes com a capacidade de amadurecimento.

no final, a certeza: a vida é para se viver sim, mas não se pode perder tempo. e nas quedas indesejadas ou nos longos desertos, a resistência num caminho que se faz sozinho desenhará no nosso corpo um perfil mais luminoso. como diz um dos meus irmãos de vida, ser sensível é também ser lúcido.

a tela alivia a brutalidade das páginas originais. mas não deixa por isso de valer a pena. e muito.
a ver aqui

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