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Da minha experiência de vida em terras da Batávia guardo como exemplo exímio o respeito ao património holandês. Com expedições nocturnas ao mais romântico dos programas, lembro com gosto as noites passadas a subir os alpendres das casas dos edílicos canais, onde confirmava a preservação não apenas dos lindíssimos edifícios, mas também dos seus interiores.
Com rigor e como manda a influência calvinista recordo-me quando o senhorio da minha casa teve de repetir o restauro de uma janela que dava para as traseiras do Museumplein, por não ter respeitado a traça original. Talvez por isso Amesterdão faça as delícias a quem procura e encontra uma cidade única na Europa.
Preocupando-me com a minha rainha branca é urgente a consciencialização de uma Lisboa preservada também nos seus interiores. Na busca incessante de uma nova morada tenho-me deparado com alarvidades para as quais não encontro justa explicação.
Moradores em bairros históricos que pela ordem de uma enorme falta de sensibilidade arrancam estuques da parede para encaixar sofás, escondem tectos trabalhados para colocar os tenebrosos focos em pladur e substituem lavatórios de cozinha de mármore antigo por outros de inox. Tudo em prol da palavra modernidade e falta de criatividade ecléctica. A juntar a isto, a capital fere-se ainda com o soalho flutuante e a destruição das marquises em ferro antigo.
Uma cidade enquanto vive evolui, mas que o ecletismo da sua história se faça com bom senso, condição indispensável para se manter única e especial. É que a exclusividade de uma Lisboa mais marcante estará sempre na magia dos detalhes.
coluna publicada a 14 de Abril no Meia Hora.
Precisando de ler de novo o artigo, deixo para já a nota de que está muito bem escrito, sensibiliza para o problema quem é sensível e quem gosta de coisas bonitas.
ResponderEliminarParabéns.
Inês Martins