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19 junho 2008

O Senso e a Cidade l na brisa atlântica


aqui página 17 ou

Somos uns privilegiados.
Uma costa atlântica de mão beijada, de mares enérgicos no litoral e de praias serenas no Sul, de onde vos escrevo estas palavras. Mergulho no saco do semanário Expresso e tropeço num artigo que goza do título “como eles (os estrangeiros que cá vivem) nos vêem”.
Diz o artigo que chegam “atraídos pelo clima, pela gastronomia, a cultura, a simpatia e a facilidade de fazer amigos”. Para quem viveu na Holanda sabe bem que Portugal é uma pérola, no que toca à fraternidade.
O artigo revela também os defeitos: o desornamento do território, o mau urbanismo, o pessimismo, o mau sistema de saúde. Como as linhas não dão para mais ressalvo o mau senso no ordenamento do território.
Ter uma costa de mão beijada e destruí-la em prol do betão autárquico inspira-me reacções pouco condescendes. Também os gregos receberam as suas fabulosas ilhas de mão beijada e embora tenham destruído Atenas, as ilhas estão intocadas, bem à maneira da nossa Óbidos.
E se com esta vila do Oeste partilho a prova de que é possível fazer bem, questiono-me o que teria sido de Portugal na mão dos holandeses. É que Deus criou o mundo e segundo os próprios, os holandeses a Holanda. E é verdade, em termos de planeamento do território é de se lhe tirar o chapéu. E não porque temos mais Sol, mas apenas porque a sua conduta calvinista os leva a pensar no planeamento urbano com rigor.
Mesmo sem a nossa costa, a nossa paisagem eclética e sem a Luz de Lisboa jamais “planeariam” tenebrosas Caparicas ou Quarteiras. Aprendamos então, e salvemos o que ainda sobra em terras de brisa atlântica.
publicado a 20 Junho no jornal Meia Hora

1 comentário:

  1. Isso é tão verdade e enstristece-me.

    Gosto deste cantinho :)

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