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16 outubro 2009

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O moleskine trazia o meu dia cheio, enquanto atravessava a passadeira mais famosa do Chiado. Entre a calçada do Largo Camões e a Igreja do Loreto estou atenta ao walk lusitano quando sou abordada pela frase: "deve ser designer para ter uma mala tão original".
Não sei se o viajante da cidade conhecia a Sinfonia n.1 in re maggiore de Mahler que se exibia por um vinil antigo da minha carteira, mas nos meus dias de Amesterdão – por necessidade ou abertura de mente - perdi qualquer desconfiança neste tipo de abordagem. E porque prefiro acreditar sempre na beleza do Mundo, tive a espontaneidade de responder: "não sou designer mas escrevo sobre a cidade".
A minha liberdade com as palavras e a minha transversalidade com as pessoas resultaria numa perseguição Chiado a baixo, onde apenas acabou com um convite para um café.
Adoro cidades, adoro pessoas, adoro experiências sociológicas e sei medir a dimensão real dos episódios inesperados. Jamais seria desagradável mesmo que o viajante em questão não parasse de insistir, como foi o caso. A concluir a abordagem puxei da graciosidade e guardando por diplomacia o papel com um telefone, usei também o meu calvinismo para lhe dizer que não iria ligar de volta, mas que a minha elegância de coração retribuía a abordagem com um sorriso.
A carteira era original sim e pelos vistos não canta a sinfonia de Mahler, mas encanta alguns viajantes da cidade. Mas o mais importante deste post é analisar o estado de desespero com que vi uma pessoa a querer marcar um café com o desconhecido. E enquanto escrevo estas palavras lembro-me de Mário de Cesariny - no soberbo documentário de Miguel Gonçalves Mendes - quando aborda o tema de o tratarem como um ilustre intocável, e de ao mesmo tempo passar muitas noites sozinho.
Sobre o poder da solidão, vivo-a como uma necessidade imprescindível: o espaço próprio, o poder do silêncio, filmes de culto só para mim ou mesmo a companhia dos livros, esses amigos silenciosos. Mas numa década em que até o Fernando Pessoa está na minha lista de amigos do facebook, pergunto-me para onde caminha a dança dos afectos? Tudo se resume a uma palavra, a Procura.
Nesse mesmo dia a minha cidade, cheia de viajantes em procura - uns verbalizam-no outros nem às paredes o confessam - parecia Nova Iorque. Lisboa acontecia com muita intensidade, com inaugurações e eventos cheios de pessoas de muitas cores diferentes.
No final, a certeza de que com muito poucas teria a curiosidade de um café. Mas porque no fim da linha há sempre salvação, uma frase de José Tolentino Mendonça que serenamente me acompanha:
o que de mais belo soube
sempre o disse de repente
a alguém que não conhecia.

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