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13 novembro 2009

cais 24



Desde os meus quinze anos que sempre gostei de me perder nas ruas da cidade, de cabeça elevada ao céu, a admirar os edifícios de Lisboa. Perseguida pela ideia de uma cidade imaginada gosto de ir coleccionando os bem recuperados, um a um. E talvez por isso, um happening como este alcança a minha curiosidade na exploração dos interiores, ou numa visão mais lírica, a vantagem de explorar o outro lado de uma porta.

Mais do que qualquer avaliação urbanística na minha cidade (gosto do projecto, não gosto da inserção), rendo-me à quantidade de iniciativas que têm acontecido em Lisboa e abrir as portas do Cais 24 a vários eventos e participantes (fui arrastada pela fascinante Fora de Série) confirma-me que a nossa capital tem acontecido mais vezes.

Na apreciação da morada e por melhor comodidade que tenha, jamais morreria de amores por um apartamento que de janela aberta me transporte em termos de barulho, à ideia de uma circular e os mais silenciosos, virados a Norte seriam impossíveis, pois a luz do Sol é-me absolutamente fundamental na eleição de uma casa. Os interiores são de facto inquestionáveis, principalmente a arrumação e as cozinhas brancamente escandinavas, não fosse uma obra do Arquitecto Aires Mateus.

Apaixonada pelas mais-valias de viver sobre o Atlântico, coloco a luz em primeiro lugar, a vista em segundo (felizmente é raro não ter a segunda sem a primeira), o terraço ou o jardim e os acabamentos. E mesmo no ecletismo da cidade, morada que para ser inteira deve existir sem guetos, ou condomínios fechados, aceito no pacote delicioso todos os defeitos: os vizinhos transversais e a variedade da fauna, que tantas vezes nos trabalha a tolerância.

Entre uma garagem e uns estuques antigos, escolho os estuques e se algum dia tenho dúvidas do esforço que é habitar um prédio com mais história, apenas me lembro da minha casa do século XVII na antiga Batávia: todas as inundações traziam-me canalizadores que além de serem uma homenagem à espécie humana, falavam sem excepção, um inglês britânico.

Em Lisboa não há canalizadores destes, mas há uma cidade cheia de casas com alma, cénicamente fascinantes e que na minha exclusiva e poética opinião estão longe de ser estas.




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