15 dezembro 2009
human breathing
Ontem tive muitas saudades do Chiado antigo. Saudades de quando descia as calçadas viajantes, de mão dada à minha Mãe e me deslumbrava com os lanches na Caravela, as bolachas de Framboesa da pastelaria Ferrari, os frascos de vidro transparente da Casa Batalha e ainda da perfumaria da Moda, talvez a loja mais bonita que conheci na vida, a seguir a Santa Maria Novella em Florença.
Mas tive ainda mais saudades da loja de brinquedos Benard, onde tantas vezes me estendia ao sonho com o meu irmão alfarrabista e onde hoje está a Pareil au Même.
A verdade também é transparente: o mês de Dezembro eleva-nos a um sentimento entre a serenidade e nostalgia. Mas a saudade dessa loja de brinquedos resgatou-me a memória, porque a busca dos Sete Anões me obrigou a ir a uma loja de brinquedos num grande centro comercial na Luz (de luminosidade não tem nada).
Os que já me conhecem sabem que jamais perdoarei o que a Sonae fez ao comércio de rua e ao comércio tradicional deste país. E sim, jamais perdoarei o facto de embrutecer as massas de uma terra que não tem sequer clima, para tanto investimento em betão e superfícies fechadas.
A ternura que tenho pela minha sobrinha Constança merece tudo, a memória da Branca de Neve também. E na busca do sonho, nem as duas hora de mentalização me ajudaram: regressei à beleza da cidade com a alma esmagada.
Talvez pela energia pesada, talvez pela distância da luz do dia, talvez pela saudade do vento que me desafia a pele ou talvez pelo testemunho da "mortificação do ser humano". E viver esta experiência de escuridão sem a ajuda do meu ipod (and I miss him so much) e não ter fuga para me separar da morada contaminada.
A falta de ar estava no limite e no regresso não havia outra opção: rasgar o eixo Norte Sul com as duas janelas abertas com o fulgor dos 7 graus que pulsavam lá fora, subir sem folgo todos os degraus do Atlântico e porque há sempre salvação nas maiores tristezas do Mundo, a rendição nos braços do Cristo, com a composição de John Williams e o violino de Itzhak Perlman.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário