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22 junho 2011

eu conheço o teu canto



não. jamais poderia colocar nesta morada o som que a Leica registou. a morada cénica, a imortalidade do claustro, a presença das gaivotas de veludo, que me libertavam de novo a um caminho que apenas se vive em frente.

o homem. (a verdade da distância mas também) a prensença e a entrega de um homem 'com quem aprendi a ver aquilo que dentro de nós existe e não sabia'. a beleza do sagrado, o toque puro do divino numa noite que nada mais me retém, senão no abraço do previlégio.

as palavras abrem portas
e nelas toco com 'o poder ainda puro das tuas mãos
um caminho que passa e não passa por aqui'.

o tempo é uma palavra de mãos abertas e por isso te peço que o uses para me contares dos lugares por onde viajaste e foste feliz, muito feliz.´

conta-me, eu sei quanto amaste a luz, o vento, o sal nas pontas dos dedos, o muito silêncio que trazia a madrugada. senta-te aqui comigo e dá-me a única coisa que não perderemos e que é a penumbra, o veludo e o sol que habitam essa voz que conheço como um rio e à qual regresso.
eu escuto, conta-me o que emudeceu a tua alma, o que a fez transbordar, o que abandonaste, o que guardaste contigo.
conta-me, abre devagar a porta. eu espero. eu conheço o teu canto.


hoje
da minha janela alcanço todo o azul do Mediterrâneo que me foi dado. é um azul de barcos, gaivotas de asas abertas, cheiro de pinheiros e cigarras no silêncio do anoitecer. é um azul cálido, de ondas ocultas, canções antigas, encontros e desencontros de amor.
se nos calarmos, veremos emudecer o mundo.


e então seremos apenas o essencial.

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