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12 abril 2010

still life



já tinha passado quase um ano, mas não resisti ao rapto, no momento da passagem do hall de saída, da festa do amigo mago. confesso. roubei (com permissão), um convite de 2009 da torre do correio empilhado (sempre adorei curvar-me diante de edifícios altos). o convite da exposição 'dias úteis' de Catarina Botelho tinha quatro imagens, uma delas esta.

no mesmo convite as palavras de Filipa Valadares,
'Existe na expressão Still Life uma contradição intrínseca. Still refere-se a tudo o que está parado, sem movimento, ruído ou acção, que está fixo e que permanece, referindo-se no limite à morte. Por outro lado life refere-se ao estado, propriedade ou qualidade do que está vivo, à vitalidade e ao tempo da vida. Apesar destas duas expressões serem aparentemente o oposto uma da outra, elas coexistem desde há séculos, na expressão inglesa Still life, anunciando-a como uma Vida Parada, fixa. Já a expressão Natureza Morta (adoptada por diversas línguas latinas), mata à partida a natureza, e em contraponto, a versão alemã Stilleben, refere-se a uma Natureza Silenciosa. Diz-se de uma imagem que é retirada de um filme ser um still, um momento parado do mesmo. Esta qualidade de parar e fixar é intrínseca à fotografia enquanto processo e à forma como gera nas suas imagens, uma paragem do tempo. É neste limbo entre still e life, entre esta paragem silenciosa e a vida, que podemos incluir as fotografias desta exposição. Não sendo obrigatoriamente naturezas mortas, são imagens fixas no tempo, captadas num momento que já passou, mas ainda relativas à vida que continua.'

a opção do rapto foi simples.

'As casas são também uma presença constante nos trabalhos de Catarina Botelho, é no seu interior que praticamente tudo acontece. Elas acolhem as pessoas e os objectos, e só pontualmente há outros espaços como cafés, hotéis ou cenas de exterior, mas quase sempre como uma extensão da casa. A casa é o lugar de convivência, onde permanecemos, é o espaço vivido diariamente. Apesar das suas imagens continuarem na sua maioria a representar pessoas, surge agora também uma aproximação particular aos objectos. Eles sempre estiveram lá, no plano de fundo, mas agora autonomizam-se ganhando um espaço próprio nalgumas imagens. Há ainda outros objectos como mesas, camas ou sofás, que criam horizontes estáveis de relação com os corpos que com eles convivem, ou aos quais se abandonam.'

abandonei a casa com a memória dos seus objectos, no privilégio da utilidade dos dias e na mão, uma imagem para a parede dos poetas do andar atlântio. a certeza de uma noite em que trouxe agarrada à minha pele a extensão de uma casa. a extensão de um amigo que gosto muito e que cresce assim como uma árvore rodeado de pessoas de 'palavra única', hoje aumentado por momentos onde apenas há espaço para a 'liberdade' e muitos dias claros
'relativos à vida que continua'.

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