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22 março 2011

1931 - 2011 l na extensão do silêncio



A imagem não é de Lisboa, mas isso não é importante. De Lisboa e do meu Pai guardo imagens inegáveis sempre que descíamos o Chiado, a caminho do batido de morango e das bolachas de framboesa que imortalizaram a montra da Pastelaria Ferrari. Ainda o Queque e o Tody na pastelaria Parisience, onde hoje reside o bar do Hotel do Bairro Alto ou o colo que ultrapassava a altura dos meus queridos irmãos, apenas para observar a beleza do Tejo da janela da nossa casa.

Esta era uma das músicas que mais elevava o seu silêncio, sempre tão intacto e que agora inunda o legado das salas agora vazias. As páginas dos jornais escrevem que o meu Pai 'não era um homem de sorriso fácil, mas um homem de grandes causas e de coração humilde'. Para além do mestre da extensão do silêncio existiu o Homem. Um Homem amado por um povo, que no dia da sua partida, com os rostos rasgados de emoção se agarravam às minhas mãos com a reverência ao 'grande ser humano', 'um dos mais conhecidos e respeitados livreiros alfarrabistas de Lisboa, um homem de cultura, que deu uma importante contribuição à história do livro em Portugal pelas obras raras que localizou e pelas informações reunidas ao longo dos anos em que marcou a actividade livreira na cidade de Lisboa'.

Privilegio a homenagem feita em vida e a consagração no dia da partida. Em honra à sua vida assisti a uma cidade que se ajoelhou de ternura e agradecimento ao Homem que tinha contribuído para a história da literatura em Portugal, nunca esquecendo a missão cívica e social, mas também o tão esquecido projecto de humanidade que se incendiava com a biblioteca de Cister 'a arder por trás'.

No primeiro dia de Primavera também eu me elevo na sua partida.
Seja na vela que não se apaga, seja nas suas mãos,

as mãos de veludo.

1 comentário:

  1. "Apaixonado pelos livros que "descobria" e atravessavam séculos, autorizado e competente livreiro-alfarrabista, conversador cativante e animador de tertúlias bibliófilas na sua casa de livros antigos da Rua do Alecrim, Tarcísio Trindade sempre mereceu as maiores estimas quer do aprendiz a dar os primeiros passos na bibliofilia quer dos nossos mais ilustres (ou encartados) bibliófilos."
    ... in Almocreve das Tretas.
    O meu Mestre dos livros velhos...
    A.M.G.

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